Livre-trânsito

Estava na Austrália, numa grande conferência. A curiosidade para conhecer os meandros daquela gigantesca organização era imensa. Estamos a falar de mais de 20.000 congressistas e cerca de 3.000 voluntários a servir em várias áreas.
Paguei a inscrição e tinha o meu cartão de identificação, essencial para assistir aos seminários e reuniões que me interessavam. No entanto, limitava-se a isso mesmo: entrar e sair das reuniões.
O David e a Sue eram os meus anfitriões. Eles pertenciam à equipa de voluntários. Um dia, o David levou-me a conhecer uma parte dos bastidores.
Explicou-me sinteticamente o que faziam naquele espaço e depois disse: “Há outras salas como esta, onde todos os voluntários podem entrar. Por questões funcionais e de segurança, no último piso, onde estão os convidados especiais e alguns dos líderes da organização, só um número restrito tem acesso”. Então, olhou para mim com um grande sorriso e disse “Eu tenho um livre-trânsito para todas as zonas. Posso ir lá acima sempre que precisar”.
Muitos têm curiosidade em conhecer gente famosa – daí o sucesso das “revistas cor-de-rosa”. Outros, como eu, em perceber o funcionamento das organizações, as suas estratégias, sistemas de trabalho e quem são as pessoas que asseguram uma direcção de sucesso. Há quem goste de perceber a história de cidadãos comuns que fizeram feitos grandiosos ou venceram grandes desafios na vida...
Quando a nossa curiosidade é satisfeita, ficamos com mais conhecimento que até pode ser útil para o nosso dia-a-dia (embora tenha dúvidas quanto à utilidade da “imprensa cor-de-rosa”). Agora, imaginemos que temos a oportunidade de conviver ou trabalhar um, dois, cinco ou 10 anos ao lado de algum desses gestores, visionários, vencedores? Que mudanças ocorreriam em nós? A nossa vida permaneceria igual?
Vou mais longe ainda. E se tivéssemos acesso directo ao “último andar”, à Pessoa mais importante e preponderante do Universo? Se pudéssemos levar a vida toda a conhecê-La? De que modo seríamos transformados?
“Nós ressuscitámos com Cristo, e foi-nos concedido por isso o direito de acesso espiritual, pela fé, ao mundo divino em que Cristo habita. (...) Porque pela sua graça é que somos salvos, por meio da fé que temos em Cristo. Portanto a salvação não é algo que se possa adquirir pelos nossos próprios meios: é uma dádiva de Deus. Não é uma recompensa pelas nossas boas obras. Ninguém pode reclamar mérito algum nisso”. (Efésios 2:6,8 e 9 - versão “O Livro”).
Temos acesso a Deus e a todas as Suas bênçãos, se quisermos. Não precisamos realizar qualquer tarefa, nem ter “bons contactos” no mundo religioso... basta aceitarmos que Jesus morreu para nos dar acesso a Deus, e ressuscitou para garantir que pode mesmo abrir-nos a porta para o Céu.
Para quê pagar a “inscrição” numa religião que depende do que faço, de uma espiritualidade diluída com auto-ajuda e esoterismo camuflado, se posso viver gratuitamente minuto a minuto com o Maior dos maiores? Somos salvos da ignorância sobre quem é Deus, como Pessoa, e temos entrada na Sua presença em qualquer momento, por causa de Jesus.
Eu quero viver sempre com a consciência de que não mereço, mas tenho entrada directa na Sala do Rei, pelo indescritível acto de amor de Jesus. Quero viver nessa verdade e aproveitar ao máximo o livre-trânsito que Jesus pagou por mim.


Ana Ramalho

in revista Novas de Alegria, Julho 2009

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