"Gente perdida"

Esta música expressa sentimentos pessoais, mas faz ao mesmo tempo um paralelismo social. O olhar para o mundo, para fora do quadro geral dos sentimentos de quem compôs a canção, representa em 3 versos o estado da alma de muitos.
“Lá fora, o vento, nem sempre sabe a liberdade / gente perdida balança entre o sonho e a verdade / foge ao vazio, enquanto brinda, dança e salta... 1
Um mundo embrulhado em papel de fantasia, de sonho e glamour, mas despido de autenticidade, segurança, compromissos a longo prazo.
Na fuga do vazio, que descobrimos num momento de pausa, na partida de alguém próximo, na destruição do futuro como um baralho de cartas, brindamos, pulamos, tentamos esquecer.
Entre o sonho e a verdade. Entre o que idealizamos e a realidade. É certo que podemos ter tudo, mas sentir-nos nada. Podemos conquistar o mundo, mas nunca ser conquistados numa plena aceitação de quem somos e do que em nós precisa ser transformado.
Somos livres para correr de um lado para outro, à procura do equilíbrio entre o que esperamos e o que somos. Aceleramos o ritmo, preenchemos a agenda de encontros passageiros, mergulhamos numa rotina social efémera, à procura de nos preenchermos, de nos realizarmos.
Onde é que a minha vida me tem levado? Se estou perdida na minha fuga, em pânico, pelo vazio de esperança que me corrói nos momentos em que penso como o sentido de existir se perdeu, sem querer mudar uma vírgula no guião dos meus dias, o mais certo é acabar indiferente a mim mesma, aos outros, a Deus.
Alguém disse que a melhor forma de sermos encontrados é quando estamos perdidos. Mas é necessário assumirmos onde estamos e como estamos.
De facto, só procuramos o mapa quando queremos ir para um certo sítio e não sabemos como. Só tentamos outro caminho se entendermos que o presente não nos leva a lado nenhum.
Encontramo-nos quando entregamos de livre vontade a chave do nosso coração e pedimos a Jesus para fazer uma “limpeza geral”, em que o perdão e a reconstrução da vida são coisa certa.
Encontramo-nos quando nos perdemos nos braços do Pai, dia-a-dia, numa proximidade única, real, suficiente.
Encontramo-nos se formos gente que se assume perdida, e descobre que pode ser encontrada como está, como é, para se tornar na gente que Deus deseja – melhor, mais feliz, mais saudável e, acima de tudo, mais amada.
Eu fui encontrada. E tu?
Porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a regozijar-se. (Lucas 15:24)

Ana Ramalho


1Excerto da letra do tema “Gente perdida”, letra e música de Mafalda Veiga

in revista Novas de Alegria, Maio 2010

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