Performance ou Essência?

O que é que parece e o que é importante


A nossa sociedade está mais interessada na performance do que no carácter, no que se faz no aspecto profissional do que no que se é em termos de comportamento e moral... 

Há algum tempo alguém disse nos meios de comunicação que ética não tem nada a ver com política. E não preciso dar muitos exemplos da forma "natural" com que lidamos com a corrupção. Ninguém quer responsabilidades... mas Jesus tem uma escala de valores muito diferente!

"Cuidado com os falsos mestres que se disfarçam de ovelhas mansas mas que, afinal, são lobos que o que querem é devorar-vos. Assim como vocês conhecem uma árvore pelos seus frutos, assim também poderão descobrir esses falsos mestres pelo seu procedimento. Decerto não vão colher uvas de um espinheiro, nem figos dos cardos. As qualidades de árvores frutíferas conhecem-se pelos seus frutos. Uma espécie boa não dá fruta que não sirva para comer. E numa árvore que dá maus frutos não se vai colher boa fruta! E as árvores que tenham fruto impróprio para comer acabam por ser cortadas e lançadas no fogo. Sim, uma árvore é conhecida pela qualidade de fruto que dá. Nem todos os que falam como se fossem gente religiosa o são verdadeiramente. Eles podem chamar-me 'Senhor mas nem por isso entrarão no céu. Porque o que importa é saber se obedecem ao meu Pai do céu ou não. No dia do juízo muitos me dirão: 'Senhor, Senhor, fizemos em teu nome pregações inspiradas, e servimo-nos do teu nome para expulsar demónios e para operar muitos outros milagres. Mas responderei: 'Nunca vos conheci. Vão-se embora porque as vossas obras são ruins." (Mateus 7:15-23, versão “O Livro”)

Esta passagem (parte do Sermão do Monte) é sobre, no geral, o que Jesus considera importante em contraste com aquilo que nos parece importante. Jesus sabia como o ser humano se deixa enganar facilmente por aquilo que é aparente (exemplo: Tentação – Serpente enganou Eva). Ele não quer que quem O segue viva enganado ou se deixe enganar, por isso avisa-nos para vigiarmos, estarmos atentos.

O QUE JESUS NÃO DISSE
Jesus não disse que é fácil identificar o que é falso.  Para vermos o fruto, precisamos de tempo. É com o tempo que vemos a qualidade do carácter. Não é com as primeiras aparências que conhecemos a forma de ser de alguém. Leva tempo.

Jesus também não disse que devemos desprezar os dons que Ele nos dá, os talentos, os ministérios. Isso seria uma contradição com outras passagens, como a Parábola dos Talentos (Mateus 25:14-30). Claro que devemos ser excelentes no nosso serviço para Deus e para os outros!

Ele não afirma que é impossível mudar a natureza humana. Jesus está a dizer que a qualidade do fruto é consequência do tipo de árvore, ou seja, as nossas atitudes são um reflexo do nosso íntimo, do nosso coração. “Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (2 Coríntios 5:17) Deus pode transformar-nos de dentro para fora, se desejarmos e reconhecermos a nossa necessidade. As nossas atitudes exteriores vão reflectir a natureza do nosso coração.

O QUE JESUS QUER DIZER
O alerta de Jesus é, antes de tudo, para que não nos precipitemos. Ou seja, dar tempo para as pessoas mostrarem qual o seu carácter e não apenas o seu carisma – a performance, o “jeito”, o profissionalismo. O carácter é a raiz, a base da nossa vida.

Jesus mostra que podemos perder-nos mesmo fazendo muitas coisas para Deus. Se não cuidarmos da nossa vida, do nosso carácter, podemos ser excelentes a executar, mas com o tempo perder a ligação com Deus. Aliás, isso até pode ser uma "capa", uma "máscara" para esconder as nossas mazelas.

Lembrem-se do filho mais velho (Parábola do Filho pródigo) que não tinha a mínima noção do desejo do pai, da sua forma de agir. Se não cuidarmos da nossa relação pessoal com o Pai, em SER filhos, e apenas nos preocuparmos em FAZER, mais tarde ou mais cedo vamos criando a nossa própria tabela de valores, do que é bom ou mau, e rotulamos à nossa maneira aquilo que Jesus disse e que a Palavra de Deus diz ser o melhor para a nossa felicidade como seres humanos criados por Deus - que é Amor!

Sem nos apercebermos, deixamo-nos ficar mergulhados confortavelmente no óleo ‘morninho’ da independência... porque sabe bem...quanto mais nos afastamos do Pai, pela agenda, pelas escolhas erradas que tomamos, pela nossa teimosia, mais vamos deixando a temperatura subir... e se não saltamos da frigideira a tempo, "estamos fritos".

As nossas escolhas têm consequências. Se não cuidarmos do nosso crescimento espiritual – se não pararmos para reavaliar a nossa rota - podemos ficar pelo caminho, mesmo fazendo muitas coisas com perícia. Deixamos de andar no Espírito e optamos por viver à nossa maneira: estamos a tomar a nossa decisão, desobedecendo a Deus em coisas “pequenas” e depois outras e outras, até criarmos o abismo da nossa própria condenação.

Naquele dia - e isto não é uma metáfora, Jesus disse que vai acontecer... e eu acredito no que Ele diz - não quero ficar de fora da companhia do Pai, por ter investido muito na aparência e desprezado a essência, por ter vivido apenas de fazer e não ter deixado o Espírito Santo transformar o meu carácter... A boa notícia é que Jesus disse isto e ficou registado, para que tu e eu possamos estar alerta em relação às nossas vidas. Para que possamos pensar e decidir dar (ou não) permissão ao Espírito Santo para nos transformar. Há esperança, amigos! 

Desejo a excelência no que faço, mas, antes disso, preciso de excelência diária na comunhão com Aquele que me ajuda a ser uma filha cada vez mais parecida com o Pai. Isto é a base. Sem isto o resto vai cair - mais cedo ou mais tarde.

"Sim, eu sou a videira, e vocês são os ramos. Aquele que viver em mim e eu nele produzirá muito fruto. Pois sem mim nada podem fazer. Se alguém se separar de mim, será lançado fora por ser um ramo inútil; seca e é posto com todos os outros que serão depois queimados. Mas se continuarem em mim e obedecerem aos meus mandamentos, poderão pedir o que quiserem, que vos será concedido. Os meus verdadeiros discípulos produzem muito fruto, o que traz grande glória ao meu Pai." (João 15:5-8, versão “O Livro”)


Ana Ramalho



in revista Novas de Alegria, suplemento NAJovem, Agosto 2010

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