“Era uma vez...”

Das memórias da nossa infância recuperamos o título. As histórias de encantar que nos adormeciam e faziam florescer a imaginação, não podiam começar de outra maneira.

O elenco tinha de tudo um pouco: lobos, avozinhas, princesas, dragões, cavaleiros, castelos. A trama variava, aqui e ali. O fim, como o princípio, era sempre igual: “e viveram felizes para sempre”.

Eram essas e outras coisas que fantasiavam o nosso mundo. Eram essas histórias com final feliz que nos criaram os sonhos e os desejos até lidarmos com a realidade.

A vida não se propôs como um conto de fadas. Descobrimos que os sonhos às vezes ficam-se pelas nuvens, que os problemas são reais e muito palpáveis e que não terminam duas horas depois, como um filme de encantar.

Ao longo do tempo construímos o que somos e deixamos que os outros construam connosco e em nós a nossa história, mesmo sem dar por ela. Vendemo-nos pelo que pintámos como ideal. Decidimos inconsequentemente, pelo aparente. Abrimos espaço para talvez encontrar um caminho para o tal final, que reciclamos consecutivamente, da nossa infância.

Não é preciso ter a bola de cristal das personagens do nosso imaginário infantil para ver que, no futuro, mesmo aprendendo com os erros, voltamos a errar o alvo, a fazer remendos e a viver numa felicidade precária.

A juntar a isso, dizem-nos à boca cheia que vamos para o nada, porque é de lá que vimos. Dizem-nos nos bancos da escola, nos anfiteatros das faculdades, nos meandros da cultura, nos meios de comunicação, nas conversas de café. Se assim for, não vamos viver felizes para sempre. “Felizes”, vamos tentar... mas nem pensamos muito no “para sempre”.

Mas a história pode ganhar outro rumo. Talvez da forma menos pensada, inesperada, e até um pouco estranha para o mundo de soluções efémeras que nos vendem a todo o custo. 

Tudo depende de quem escreve a minha e a tua história. Talvez precises procurar alguém que te leve a um final feliz, mesmo que tenhas vindo de um “era uma vez” horrendo, vergonhoso, triste. Alguém que não se importe de quem és, nem de onde vens, mas quer levar-te até onde nunca imaginaste.

Um final realmente feliz, mesmo que o percurso até lá ainda tenha buracos, quedas e acidentes... Um final feliz para uma vida escrita com a tinta da alegria, da paz e segurança mesmo no meio dos desafios mais sombrios.

O primeiro passo é abandonar a caneta e o papel do passado, assumindo o limite de sucesso que preenche as páginas do que já foi.

Quanto a mim, quero que esta seja a minha história: “Era uma vez... [Jesus] e viveram felizes para sempre”.

“Deus amou tanto o mundo que deu o seu único Filho [Jesus] para que todo aquele que nele crê não se perca espiritualmente, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16, versão “O Livro”)

Ana Ramalho Rosa

in revista Novas de Alegria, Janeiro 2011

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