Dicionário de rua

As nossas ruas de alcatrão, caminhos em papel e autoestradas de fibra óptica estão cheias de definições directas e indirectas. Há um dicionário alternativo a ser construído por quem fala e por quem passa – um dicionário de rua.
Publicidade, livros, jornais, revistas, televisão, rádio, redes sociais, sites, blogs... através destes e outros meios forma-se e transmite-se o pensamento da nossa geração.
Num cartaz publicitário uma criança definia: “Obedecer – fazer o que apetece e depois sorrir para ser perdoado.” No início pensei “realmente isto mostra bem como são os miúdos... sempre a tentar passar das marcas sem ter castigo”. Mas, ao meditar um pouco, conclui que isto não é só coisa de crianças. Como humanidade fazemos a mesma coisa, descaradamente, há séculos. Queremos fazer o que nos apetece, sem pensar na opinião alheia, muito menos na opinião de Deus. E por falar nisso, até somos meticulosamente “educados” pelos “profetas da comunicação” – a começar na escola e a terminar em Hollywood – a pensar que Deus não existe, para não termos que pensar muito n’Ele, nem em conhecê-Lo ou agradar-Lhe.
Nada de novo... na história da relação de Deus com o homem, o relato explica como nos deixámos seduzir e, por vontade própria, voltámos as costas à felicidade perfeita em que vivíamos. “A serpente replicou [à mulher]: «Não têm que morrer. De maneira nenhuma! O que acontece é que Deus sabe que no dia em que comerem desse fruto, abrir-se-ão os vossos olhos e ficarão a conhecer o mal e o bem, tal como Deus.» A mulher pensou então que devia ser bom comer do fruto daquela árvore, que era apetitoso e agradável à vista e útil para alcançar sabedoria. Apanhou-o, comeu e deu ao seu marido que comeu também.” (Génesis 3:4-6, A Bíblia para Todos). Desde o princípio que somos assim. Queremos retirar qualquer tipo de autoridade do trono e que a “nossa” anarquia reine. Vamos mais pelo que vemos e sentimos do que pela confiança na alegria que nos oferece a obediência ao nosso Criador e Pai amoroso.
“O SENHOR Deus chamou pelo homem e perguntou: «Onde estás?» O homem respondeu: «Apercebi-me de que andavas no jardim; tive medo, por estar nu, e escondi-me.» Deus perguntou-lhe: «Quem é que te disse que estavas nu? Será que foste comer do fruto daquela árvore que eu tinha proibido?» O homem replicou: «A mulher que me deste para viver comigo é que me deu do fruto dessa árvore e eu comi.» O SENHOR Deus disse então à mulher: «Que é que fizeste?» A mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi.»” (Génesis 3:9-13, A Bíblia para Todos). Para ajudar à festa, queremos ser rebeldes sem sofrer as consequências disso. Fazemos “jogo de cintura”, escondemo-nos ou atiramos a culpa para os outros. Assumir um erro? Nem pensar!
A verdade é que a rebeldia não nos tornou mais felizes. A anarquia amarrou-nos a tudo, menos à liberdade. Substituímos Deus no trono por outros senhores: o prazer, a fama, o poder, o dinheiro. Estamos tão cheios de nós mesmos e do nosso pecado (desobediência passiva ou declarada à boa vontade de Deus), mas tão vazios por dentro. Tão maquilhados no exterior, mas tão podres no interior.
A nossa definição de vida pode mudar. O nosso dicionário pode ganhar outras palavras e ver outras tantas redefinidas pelo Autor da vida. Jesus veio revelar-nos quem Deus é e quem nós somos, se o desejarmos. Ao olhar para a Sua vida sem falhas e para o Seu amor infalível, demonstrado ao tomar o nosso lugar de rebeldes, insubmissos e pecadores numa cruz, somos impelidos a uma decisão. Aceitar o Seu controlo é a única forma de termos uma nova identidade e uma perfeita liberdade. “É que quando alguém está unido a Cristo torna-se uma pessoa nova. As coisas antigas passaram. Tudo é novo.” (2 Coríntios 5:17, A Bíblia para Todos).

Ana Ramalho Rosa

in revista Novas de Alegria, Novembro 2011 


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