Salmologia 1#

O livro de Salmos está recheado de louvor e adoração, mas também de choro e lamentação. O que é curioso, é o que o primeiro Salmo começa com um apontamento em direcção à sabedoria, coisa que hoje em dia parece estar fora de moda.

A actualidade clama a prática imediata da vontade humana, não coloca limites ou barreiras, desde que a justificação seja o “desde que te sintas bem”. Isto leva o Homem a olhar para cima e assobiar para o lado, enquanto vai passando por toda a sua vida, vivendo de acordo com o seu próprio desejo e consciência. Por esse motivo, existe uma banalização do amor, uma espécie de corte no rating da caridade.

Feliz é aquele que não vai atrás desse tipo de atitude, que não procura viver para a exaustão rápida do sucesso humano.  Aquele que vive num mundo em transformação, mas que não é transformado pelo mundo. Antes, procura ajudar a mudar o mundo para algo melhor. Que busca estar sintonizado com Deus, que tem satisfação em ler a Sua Palavra, em viver a Sua Palavra. Viver assim, é ser como uma árvore que dá fruto, que cresce saudavelmente e cujas raízes chegam até ao riacho onde se alimentam. Crescem de modo firme e natural, não murcham e não dão frutos amargos. Quem vive assim é abençoador, dá sombra aos cansados e alimenta os que têm fome. Abençoam porque são abençoados por viver e escolher caminhar na presença de Deus. Porque são árvores que germinam e crescem a partir da semente certa, que é regada com o Seu amor e podada com a Sua preocupação por nós.

Por outro lado, quem se afasta d’Ele e prefere a sua própria segurança, não está firme nas suas raízes e não se alimenta no riacho. Depende das chuvas ocasionais da Natureza, de qualquer gota sortuda que alimente a sua necessidade. Acabam por secar e murchar; os seus propósitos e acções são virados para si mesmos, não existe quem pode o seu crescimento e trate dos seus ramos partidos. Tornam-se árvores que até podem aparentar formosura e beleza, mas cuja qualidade é testada nos frutos. O amargo não deixa escolha…

No dia da colheita, vão ser sujeitas a uma análise. Os seus ramos vão ser medidos, a cor das folhas e o seu aroma vão ser analisados e revistos. O seu fruto vai ser provado e vai haver uma decisão. Aquelas que dão bom fruto, permanecem no pomar, crescem na liberdade que o Criador lhes dá. São seres humanos comprometidos, que mesmo com as suas batalhas e lutas, estão firmes e enraizados n’Ele. São ramos da videira e permanecem enxertados para fazer a Sua vontade e o Seu querer. Por outro lado, as árvores que não dão fruto ou que dão mau fruto, são retiradas e abatidas. São levadas para a fogueira como os ramos da videira que não frutificam ou que simplesmente não querem ser enxertados. Tornam-se obsoletos nos seus desejos e vontades. Vivem num ciclo circular de vícios que os alimenta. Dão mau fruto por medo, por falta de conhecimento, por vontade própria… Por qualquer coisa!

Mas Deus, que lança a semente, rega e poda; que aguarda pelo crescimento e protege, conhece as árvores do Seu pomar. Conhece o coração de cada um, sabe o caminho que cada um de nós leva e pensa levar. Conhece o nosso compromisso de vida, vê bem além das nossas imperfeições e conversa. Vê direito ao coração! Aqueles que se mantêm n’Ele, são ramos que dão fruto e permanecem até ao fim dos dias. Quem não o faz, quem se recusa a depender da raiz da videira certa, tem como destino a inutilidade geral. E o ramo inútil, é queimado no fogo para que pelo menos, veja a servir para algo. Nem que seja momentâneo, mas diferente do propósito do Criador. Quem é criado para dar fruto, não é suposto ser queimado para nada, mas a escolha é sempre nossa. Vivemos para dar fruto ou vivemos para estar na aparência e deixar o vento passar por nós?

Ricardo Rosa

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