Lenços de papel & afins

A lista de personalidades que nos deixaram em 2016 é enorme. Só para lembrar três: o humorista português Nicolau Breyner, o escritor e pastor Tim LaHaye, da série de livros Deixados para trás, e Muhammad Ali, pugilista. Mas há mais, muito mais. Pessoas que na sua vida tiveram uma relevância enorme em várias áreas, desde a política ao desporto, passando pela cultura, a medicina, etc.

Não querendo deixar um travo mórbido nesta minha última crónica de 2016, gostaria que refletíssemos na brevidade da vida e das suas distâncias, antes de entrarmos num ano novo, de novas oportunidades e desafios.


DÁ VALOR A QUEM ESTÁ VIVO, HOJE
Certamente que quem me lê viveu mais ou menos de perto o “adeus” a alguém nestes últimos doze meses – seja alguém famoso ou desconhecido. Velórios e funerais, mesmo sem honras de Estado, têm lágrimas de saudade pelas memórias que ficam ou de remorso pelo tempo perdido. Flores que já não alegram a vista de quem partiu, mas que de pouco servem para quem fica, se não de vê-las murchar com o tempo.

Os lenços de papel, as flores, os presentes e o estar presente são para hoje. Porque hoje as pessoas que amamos estão cá, amanhã não sabemos. É certo que as estações da nossa vida são diferentes, e a nossa disponibilidade muda com o tempo, mas, valoriza as pessoas que estão à tua volta enquanto e quando podes. De que vale chorar muito no dia do funeral, ou comprar uma coroa de flores, se não rimos e chorámos ao seu lado enquanto cá estiveram?

DÁ VALOR AOS QUE ESTÃO PERTO, HOJE
Depois, e talvez por ser uma realidade que conheço bem de perto, as pessoas podem estar vivas e de boa saúde mas estarem a mais de 1000 quilómetros de distância. As oportunidades de estarmos juntos podem ser escassas, pelas mais diversas razões.

Este ano queríamos partir para estar com a minha família, que está fora do país. No dia do embarque o nosso pequeno ficou doente e acabámos por ficar por cá. Foi a frustração de não irmos, o investimento perdido... e as saudades. É por isso que, na medida do possível, devemos aproveitar a presença daqueles que amamos, agora, por que não sabemos onde a vida os/nos pode levar.

DÁ VALOR À FAMÍLIA DE DEUS, HOJE
Um certo pastor dizia “venha o máximo de vezes que puder à Casa de Oração, para louvar a Deus, aprender da Sua Palavra e estar na comunhão dos irmãos, pois não sabe se, no futuro, ficará impedido de o fazer”. 

Os horários laborais atuais, as doenças repentinas, e outras situações que possam surgir, podem impedir-nos de estarmos juntos. É por isso que, quando é possível, devemos aproveitar para estar com os nossos irmãos – e ser irmãos com quem os outros têm prazer de estar também. A Palavra de Deus é o nosso alimento espiritual. A adoração comunitária a nossa gratidão expressa em palavras e ritmos, em oração e celebração. A comunhão simbolizada no pão e no vinho, no convívio, no cuidado mútuo e na generosidade.

DÁ VALOR A JESUS, HOJE
Não podia ser de outra maneira. Ao terminar o ano, lembramos o nascimento de Jesus. É por causa Dele que a nossa vida e todos os nossos relacionamentos fazem sentido. Ele deu-Se para termos um relacionamento com o Pai e com os nossos irmãos na fé. Mas, também, para sermos filhos transformados, pais transformados, amigos transformados, pessoas transformadas. Transformados por Ele para sermos cada vez mais parecidos com Ele.

Dá valor ao Natal. Dá valor à vida.

Ana Ramalho Rosa

in revista Novas de Alegria, dezembro 2016. Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico

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