Santos impopulares

Quando o pessoal da minha turma soube que eu era Cristão, começaram a gozar comigo. Por isso, uma vez, desafiaram-me para fazer algo extremamente parvo. E eu, para não me sentir excluído, decidi ir na onda. Achei que a coisa não era assim tão má, afinal é para mostrar aos colegas da escola que eu sou normal. Tipo, sou Cristão mas não sou maluco. Não ando a bater com um chicote nas costas, nem me prego numa cruz como a malta lá das Filipinas… 

Não me lembro ao certo que vez foi, porque foram várias, mas lembro-me que o que aconteceu comigo foi que me fui tornando um popular santo lá na escola. Os colegas riam-se das minhas piadas, até me tratavam por “senhor prior”. O pior era que a procissão ainda ia no adro e o meu relacionamento com Deus estava a estragar-se. No fundo, eu andava a trocar as prioridades. Seguir Jesus? Nah, eu queria era seguir o que me a minha desinspiração humana me dizia. A partir de certa altura, a Bíblia passou a servir para não deixar buracos livres lá no armário do quarto, Jesus era um nome muito famoso em Espanha e dEUS era uma das bandas que os meus colegas ouviam. Rico Cristão hein?



No fundo, eu era um santo, mas um santo de pau carunchoso, todo corroído por dentro, a deixar que o pecado me moesse e me levasse por caminhos maus todos os dias. 

O que vale é que Deus é bom (e não sabemos nós da “missa” a metade) e mais uma vez, deu-me a hipótese de deixar de ser um santo de pau oco, para passar a ser um santo de carne viva. A dica é que em vez de ser um santo popular, passei a ser um santo impopular. Porquê? Porque numa cultura de “faz o que te dá na telha e isso é a tua lei para a vida”, eu sigo a dica de Paulo que diz “posso fazer de tudo, mas nem todas as coisas são boas para fazer”. 

Hoje, todos os dias, tomo opções, que quando são comparadas com as de colegas, amigos, vizinhos ou familiares, me fazem parecer alguém que pode ser chamado extremista, radical ou fundamentalista. E vivo com essa opção. Com a opção de viver radicalmente no amor de Deus, de ser um santo impopular para a sociedade mas de ser totalmente amado pelo Pai.


Ricardo Rosa

in revista BSteen, setembro 2017. Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico

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