O amor do nosso Pai


Estava confuso. Como é que era possível? Depois de tudo que fiz? Como é que ele me pode receber assim? Eu deixei-o por escolha própria. Pedi as partilha e fui-me embora. Fui viver a vida como se ele estivesse morto.

Depois de tudo gasto e de perder os amigos que tinha (ao meu dinheiro!), fiquei na miséria. A minha ruína era literal, em todos os sentidos...

Então, recordei como ele tratava os nossos empregados — mesmo aqueles que tinham as tarefas mais humildes. A minha fome era demasiado penosa para me manter assim. “Vou mas é ter com o meu pai e digo-lhe: Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já nem mereço ser teu filho, mas aceita-me como um dos teus trabalhadores.” (Lucas 15:18-19, BPT) 


Como que por um impulso, ganhei forças e deixei, desta vez o meu orgulho, para tentar a minha sorte. Já só queria sustento para poder saciar a minha fome, pelo menos.

Quando estava a chegar, ele viu-me e, surpreendentemente, veio a correr ter comigo. Cheio de carinho, abraçou-me e beijou-me. Não se importou com o meu estado imundo, nem com o que lhe tinha feito. Ainda lhe disse: “Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já nem mereço ser teu filho.” (Lucas 15:21, BPT). Mas ele chamou os empregados e ordenou: “Tragam depressa o melhor fato e vistam-lho. Ponham-lhe também um anel no dedo e sandálias nos pés. Tragam o bezerro mais gordo e matem-no. Vamos fazer um banquete, porque este meu filho estava morto e voltou a viver, estava perdido e apareceu.” (Lucas 15: 22-24, BPT) E começou a festa!

Que amor tão grande! O amor deste pai, que faz lembrar o amor do nosso Pai — Aquele que nos criou e que nos ama, apesar de tudo; Aquele que nos recebe como estamos mas não nos deixa na mesma — transforma-nos em novas pessoas com o Seu ADN espiritual. Que Ele nos possa inspirar no modo como vivemos aquilo que dizemos ser a verdade, todos os dias. E que possamos receber o Seu amor, mesmo que este seja incompreensível.


O amor do nosso Pai*

Era órfão, sozinho, abandonado
Perdido sem rumo, e o Teu amor me encontrou
Guardado no Teu coração, aninhado em Ti
A minha vida envolta no calor dos Teus braços

Ele cura, restaura, torna vivos os mortos
Meu maior tesouro é o amor do nosso Pai
(...)

Eu era órfão, Tu me adotaste
Tomado p'la Tua mão, Tu me deste um lar
Roupas novas e um anel no dedo
Tu transformas mendigos, em filhos do Rei dos reis

Turbilhão de ternura, oceano de sabedoria 
Alegria extravagante, é o amor do nosso Pai
É um leão que ruge, um ribeiro transbordante
Suave e furioso, é o amor do nosso Pai

Vulcão de compaixão, tempestade de afeição
Confiança e paixão, é o amor do nosso Pai
O Filho veio à Terra, morreu de braços abertos
Fantástico e misterioso, é o amor do nosso Pai


Ana Ramalho Rosa


* Letra do tema “L’amour de notre Père”, Samuel Olivier © 2016 Collectif Cieux Ouverts, França. Tradução livre.


in revista Novas de Alegria, novembro 2017. Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico

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