Monstros e Companhia


Quem não conhece o filme de animação Monstros e Companhia? Pessoalmente, é um dos meus favoritos. E isso não aconteceu porque me tornei mãe e passei e “ter que ver” desenhos animados. Sempre gostei (e gosto!) de boa animação e de uma boa história. E não, este não vai ser um texto sobre o que os nossos filhos devem ou não ver — isso é um exercício interessante que como pais precisamos fazer porque há por aí muito lixo e muita mensagem não subliminar que precisamos filtrar.

Associo o título do filme a uma época da maternidade, que passámos, ainda o Francisco não tinha nascido. Sermos pais pela primeira vez é uma experiência que não se aprende nos livros e que, mesmo que se tenham todos os cursos do mundo, só se sabe quando se passa por lá.
A expectativa era grande e fomos para a primeira ecografia. Dias antes tinha feito análises e estava a chegar “a hora da verdade”. Era cedo e apanhámos uma técnica provavelmente com TPM (desculpem o sarcasmo!), porque foi antipática desde o primeiro momento até ao último minuto. Mas, pronto, a antipatia aguenta-se, especialmente quando, pela primeira vez, começamos a escutar o coração do nosso bebé a bater e a vê-lo. Que sensação única! Inexplicável! Ali estava ele!
Depois da ecografia veio o cruzamento com o resultado das análises. E veio um balde de gelo (água fria é pouco!). “O seu bebé tem uma grande probabilidade de ter Trissomia 13 ou 18. O melhor será fazer amniocentese.” Sinceramente, depois daquela notícia já nem me lembro bem do que a senhora com necessidade de suplementos em simpatia nos disse. Só me recordo de entrarmos no carro e de ter rebentado a chorar. O meu marido começou a animar-me e orámos a Deus, mais uma vez. Era um sentimento de impotência devastador. Os monstros do medo e da incerteza entraram no “sótão” e começaram a querer assustar-nos!
Nos dias que se seguiram procurámos ajuda junto de várias pessoas da área, a qual foi preciosa para nos apoiar e perceber o que seriam aquelas probabilidades e como seria possível verificar a existência de algum daqueles problemas no nosso filho. Mas era preciso tomar uma atitude. E foi o que fiz. Entrei numa loja e comprei um pijama para 6 meses. Foi pela fé. Decidimos também, uma vez que era possível através das ecografias verificar se havia alguma má formação no bebé, que não iríamos fazer amniocentese. Foi uma decisão pessoal, é certo, mas entregámos o futuro do nosso bebé nas mãos de Deus e confiámos. “Expulsámos” esses monstros e preferimos a melhor companhia – Deus!

A gravidez teve alguns riscos e, no final, ele não queria sair, de tão bem que estava. Mas finalmente saiu, saudável, graças a Deus. Desde esse dia até hoje temos sido tantas vezes sobressaltados com situações de saúde, questões de desenvolvimento e interação social. E muitas das vezes os monstros da insegurança, da impotência e do desespero tentam fazer ninho na mente e no coração. Somos humanos e sentimos as coisas. Temos um grande Deus, é certo, mas Ele tornou-Se homem e sabe o que significa ser tentado, provado e sofrer. Não acontece só aos outros. E podia ter-nos realmente acontecido a nós.
Mas o susto levou-nos mais uma vez a olhar para Jesus. Como precisamos fazer sempre, e em todas as circunstâncias. Quando tudo vai bem. Quando o mundo desaba em cima de nós e parece que não conseguimos suportar os desafios que enfrentamos, sem que os tenhamos criado pelas nossas próprias decisões. Podemos ter momentos muito difíceis, porque eles existem, mas a verdade é que “(…) temos um tão excelente supremo sacerdote, que é Jesus o Filho de Deus, que penetrou nos céus, mantenhamo-nos firmemente fiéis à fé que confessamos ter. Este nosso sacerdote supremo não é um simples homem que não possa compreender as nossas fraquezas. Pelo contrário, ele passou por todas as mesmas provas que nós, mas sem ter pecado. Portanto cheguemo-nos com confiança ao trono de Deus para podermos receber misericórdia e graça, e para sermos ajudados sempre que tivermos necessidade.” (Hebreus 4:14-16, O Livro)
Ana Ramalho Rosa
Originalmente publicado aqui: https://aliancaevangelica.pt/site/2018/05/11/monstros-e-companhia-ana-ramalho-rosa/

Comentários