Salmo 1973 (versão 2019)


Esta é a minha canção, um salmo rasgado num coração grato
Para não esquecer o tempo perplexo da Tua presença
Lembrar-Te com empenho, gratidão e arte
No último suspiro de mais um ano de vida

A Tua graça estende-se desde o meu primeiro dia
E antes disso já era mimada pelo Teu amor
Os dias sem sentido tinham-Te como âncora
As noites de tempestade ofuscante erguiam-Te como farol
No mar encrespado, na bonança singela
No deixar o porto das mágoas, no abraçar o abrigo esperançoso
Na conquista e no terror: Tu estiveste sempre lá
Estiveste, estás e estarás


Não tenho dúvidas de que me socorreste quando não tinha forças
Me amparaste no momento mais íngreme da minha escuridão
E foste como o pai do pródigo filho perdido dentro de casa
Quando voltei dos meus temperamentos inóspitos e desenhos tortuosos
E me recebeste de volta.
E me deixaste chamar-Te Pai, outra vez.

Das feridas mais profundas e sujas pelo tempo
Fizeste uma marca de amor, perdão e compaixão
Do ombro carregado pelos fardos do passado
Fizeste o ombro amigo com que me ajudas a carregar
O ferido, moribundo, esquecido, desprezado
O outro que antes olhava de lado
Da vista turvada pela falsa ideia de Ti
Abriste a visão para além das nuvens da desgraça
Do veredito dos casos perdidos
E olhos para os gestos que só lemos Contigo no coração

Resgatas-me do meu "eu"
E tiras-me do sério vício de comandar o meu rumo
Dás-me uma fobia santa de mim mesma
Ajudas-me a confiar em Ti
A saber apreciar a simplicidade de ter-Te
Chamar-Te, conhecer-Te, elevar-Te
Santo, Indescritível, Único
Um Grande Pai

Que não esqueça tudo o que és
E que lembre tudo o que fazes
E tudo o que sou por Tua causa
Porque é por isso que nasci
Porque Tu permitiste
E se o caminho não tem sido sempre um passeio
Continuo a achar que estou na melhor companhia
A Tua
E sei que isso é o suficiente
Desde sempre
Desde 1973.

Ana Ramalho Rosa

In Novas de Alegria agosto 2019

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