Cento e vinte

120 – o número que apareceu naquela madrugada, já era sábado, talvez uma e meia da manhã. No calor das notícias, rasgavam-se nos canais informativos os dissabores de um ato atroz, impensável e inacreditável.

120 era, naquele momento, a contagem que se fazia das vítimas mortais que na chamada Cidade da Luz, faziam parte de um cenário das mais densas trevas. Número que viria ser maior, na passagem do dia. Num crescente que preferíamos não ter começado. Por uma causa sem justificação. Por um nome que poderia ser outro qualquer. 


Estes 120 fizeram-me lembrar outros 120, que também abalaram o mundo. Não pelos mesmos motivos, nem marcados pela mesma força. 120 cujas armas eram os joelhos dobrados em oração, e cujas vidas também foram ameaçadas. 

Longe, no Médio Oriente, mas com uma orientação completamente oposta aos que flagraram de violência a noite de Paris, aqueles 120 não estavam ali por acaso, mas obedecendo ao Mestre: “Devem esperar aqui em Jerusalém, até que recebam o poder que vos há de vir do Céu” (Lucas 24:48, BPT)

120 que esperavam, apenas, para levar a cabo um plano: “Mas receberão poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até aos lugares mais distantes do mundo.” (Atos 1:8)

Recordemos o relato bíblico que marcou o dia: “Quando chegou o dia da festa do Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído semelhante ao de um vento forte que ressoou por toda a casa onde se encontravam. Foram então vistas por eles umas línguas como de fogo, que se espalharam e desceram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” (Atos 2:1-4, BPT)

“Encontravam-se em Jerusalém, nessa altura, judeus devotos vindos de todas as nações do mundo. Quando se ouviu aquele ruído, juntou-se muita gente e ficaram todos admirados, porque cada um deles os ouvia falar na sua própria língua. A multidão ficou deveras maravilhada, e diziam uns aos outros: ‘Estes homens que estão a falar não são todos da Galileia? Como é que cada um de nós os ouve na nossa própria língua?’” (Atos 2:5-8, BPT)

Depois de um diálogo, e de uma mensagem inspirada por Deus, os 120 multiplicaram-se: cerca de 3000 converteram-se... não a uma ideologia ou a uma mera religião, mas a uma pessoa – Jesus Cristo.

O resultado quase imediato, não foi a desgraça alheia, nem violência gratuita.  Perseguidos, dando a própria vida por amor a Cristo e por amor às vidas dos que não conheciam a mensagem de amor, escrita pelos seus dias, pelas suas palavras, pelas suas ações e pela ação do Espírito Santo. 

O relatório não podia ser melhor: “Todos participavam fielmente no ensino dos apóstolos, na união fraterna, no partir do pão e nas orações. Toda a gente andava impressionada com o que se estava a passar, porque Deus fazia muitos sinais milagrosos e maravilhas por meio dos apóstolos. Os crentes viviam unidos e punham em comum tudo o que possuíam. Vendiam as suas propriedades assim como outros bens e dividiam o dinheiro entre todos, de acordo com as necessidades de cada um. Reuniam-se diariamente no templo. Partiam o pão ora numa casa ora noutra, comendo juntos com alegria e simplicidade de coração. Davam louvores a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. Cada dia que passava, o Senhor aumentava o número dos que recebiam a salvação.” (Atos 2:42-47, BPT)

Ana Ramalho Rosa



in revista Novas de Alegria, janeiro 2016; Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico

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