O teste do poder


“O poder revela o homem.” – frase de Sófocles, poeta da Grécia Antiga. Não sei se Abraham Lincoln, Presidente dos EUA, se inspirou nesse pensador da Antiguidade quando disse: “Quase todos os homens são capazes de superar a adversidade, mas, se se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-se-lhe poder.”

Ambas as afirmações estão carregas de significado. Basta percorrermos os corredores da História, para nos depararmos com histórias, com testemunhos e relatos, quer pela positiva quer pela negativa, acerca do teste do poder. O poder é o exame dos exames ao nosso caráter. O lugar de poder, por mais efémero que seja, é o lugar da prova, do tira teimas. É aí que vemos ou que descobrimos onde está enraizado o nosso caráter. Seja sobre uma família, uma aldeia, uma cidade, uma empresa, uma nação, é um espelho de quem de facto somos, agora transparente a todos, sem máscaras.


Paulo, na sua carta escrita na prisão endereçada aos filipenses, escreve-lhes e escreve-nos, explicando como devemos ver o poder – e em quem nos devemos inspirar. Ouçamos com atenção: “Portanto, se algum encorajamento, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, alguns entranhados afetos e sentimentos de compaixão resultam da nossa união com Cristo, então peço-vos que me deem a grande satisfação de viverem em harmonia. Estejam unidos pelo mesmo amor numa só alma e nos mesmos sentimentos. Não façam nada por ambição pessoal nem por orgulho, mas, com humildade, considerem os outros superiores a vós próprios. Que ninguém procure apenas o seu interesse, mas também o dos outros.” (Filipenses 2:1-4, BPT)

“Tenham os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus: Ele, que por natureza era Deus, não quis agarrar-se a esse direito de ser igual a Deus. Pelo contrário, privou-se do que era seu e tomou a condição de escravo, tornando-se igual aos homens. E, vivendo como homem, humilhou-se a si mesmo, obedecendo até à morte, e morte na cruz. Por isso, Deus elevou Jesus acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobrem todos os joelhos: no Céu, na Terra e debaixo da terra; e para que todos proclamem, para glória de Deus Pai: Jesus Cristo é o Senhor!” (Filipenses 2:5-11, BPT)

O exemplo dos exemplos é Jesus – Ele abdicou conscientemente da Sua posição de poder, não deixando de tê-lo (todo o poder). Talvez a cena mais emblemática neste assunto seja aquela em que Jesus está com os 12, preparando-Se para lhes transmitir as Suas últimas instruções. Antes de começar a falar, Ele faz alguma coisa que os deixou atónitos: lava-lhes os pés. Ao terminar, explica: “Chamam-me Mestre e Senhor e têm toda a razão, porque o sou. Se eu, que sou Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também de agora em diante devem lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, assim como eu fiz, o façam também uns aos outros. Reparem bem no que vos digo: o servo não é maior que o seu senhor, nem o enviado é maior que aquele que o envia. Já sabem o que é preciso fazer. Felizes serão se o puserem em prática.” (João 13:13-17, BPT)

Jesus, o Homem-Deus, revela-nos e exemplifica-nos, de forma categórica que servir é a forma mais ousada de exercer o poder – e deixa-nos sem argumentos. Somos chamados não apenas a conhecermos mas a imitarmos o Seu exemplo em tudo – que desafio enorme. Uma manjedoura. Uma toalha e uma bacia. Uma cruz. Uma coroa – primeiro de espinhos, depois de glória.

Que a nossa oração seja inspirada na afirmação de João Batista, referindo-se a Jesus: “É necessário que ele cresça e que eu diminua.” (João 3:30)

“Jesus Cristo é o Senhor!” (Filipenses 2:11)


in revista Novas de Alegria, maio 2016. Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico

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