O que nos diz o caos?

O que nos diz a desordem que nos rodeia? O que nos diz a miragem de um sistema equilibrado, onde o ser humano não é atirado violentamente contra as cordas de um ringue e onde não tem que ser socado pelas eventualidades da vida?

O caos, um termo verdadeiramente assustador, tem origem no termo gregokhaos e representa uma confusão enorme, um vasto nada composto apenas pelo vazio e pela ausência de qualquer ordem ou regulação. Um cenário desolador, onde até podemos imaginar qualquer adereço que o enfeite, mas onde o propósito é apenas um. Descontrolo, perturbação, desordem, confusão… Ausência total de regras ou linhas de funcionamento, abstinência forçada de organização.

O caos é revelador, demonstra-nos o interior de cada ser humano aquando de momentos traumáticos e dolorosos. O caos é a reflexão do abatimento total, ou como escreveu o salmista: “Um abismo chama outro abismo ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas e vagas têm passado sobre mim.”[1]. Um derrame de um vasto plano de destruição.

A humanidade depara-se com o caos nas suas mais variadas formas. O caos assume proporções gigantescas, do tamanho de continentes e tão grande como o planeta inteiro. A fome na África Subsariana[2], a constância de atentados suicidas e ataques mortais do Médio Oriente, os desastres climatológicos que afectaram Austrália, Estados Unidos da América e que continuam a afectar o globo… O caos também se propaga ao que julgámos ser ordenado e sem hipótese de colapsar. O sistema financeiro actual e as suas quantidades transcendentais de dinheiro (vivo ou fictício) impossível de contar, as crises da zona Euro, os subprimes[3] dos E.U.A., o levantamento de valores com bases humanistas e onde o nosso direito suprime sempre o nosso dever, tornam a velha Europa “civilizada” e a nova fronteira que são os Estados Unidos da América, em redomas de mini tormentas.

O ano de 2012 vai ser um ano duro. A crise, segundo nos diz o Governo liderado por Pedro Passos Coelho, vai durar pelo menos 2 a 3 anos e estaremos quase cinco vezes mais a pagar todo o dinheiro que nos foi emprestado, em nome de uma estabilidade que nos achocalha. O desemprego parece aumentar diariamente, as falências e problemas financeiros também crescem… Perante todo este caos, toda esta visão profundamente destruidora de sonhos, o que fazer?

À mais de dois mil anos atrás, nasceu em Belém da Judeia aquele que desfaz e aniquila o caos[4]. Jesus Cristo veio restaurar, religar de forma literal e real, o relacionamento entre Deus e o Homem. Se por um homem, Adão, criado à imagem moral e semelhança espiritual de Deus, veio a condenação e o pecado entrou no meio da criação perfeita, trazendo o caos destituidor de toda a harmonia[5]; pelo meio de outro homem, Jesus Cristo[6], o pecado é aniquilado e o caos silenciado e votado à sua própria essência, sendo destruturado e destruído.

Se de um lado temos o caos, do lado oposto temos a perfeição em corpo humano. Jesus Cristo nasceu e cresceu como homem, sujeito às mesmas pressões e circunstâncias humanas que cada um de nós[7]. O facto de ser Deus encarnado e de nascer/crescer/viver sem qualquer pecado, contraria a emanação do caos após o pecado.

Com a queda do Homem, através de Adão, o pecado replica-se de modo praticamente genético, sendo que todo o ser humano, homem e mulher, o herda com base nos primeiros seres da nossa espécie. Adão e Eva pecam, toda a Humanidade sofre as consequências. Daí se propaga o caos. São expulsos do Jardim do Éden, passam a sofrer as agruras e dores do isolamento da presença directa de Deus. Se outrora Deus caminhava pelo Éden com Adão, agora Adão caminha com Eva pelas planícies desordenadas e pelos vales de sombra e morte que assolam qualquer humano que não seja enxertado na videira[8], Jesus.

O que nos diz o caos, é que por si só, ele mesmo não é mais do que o contrário da ordem e perfeição. A desordem não é senão a ausência da ordem, constatamos isso no processo da criação. O Espírito Santo de Deus movia-se sobre o vazio disforme da escuridão[9], tendo-lhe dado forma, ordem e vivência. Onde outrora não habitava senão vapor e trevas, agora existe a separação entre terra firme e mar, rios, montes e vales, criaturas terrestres e marítimas. Homem e mulher são criados por Deus, que descansa após o sétimo dia e constata o muito bom de toda a Sua criação[10].

O caos não discursa perante a presença de Jesus. O mesmo Jesus que traz a visão a cegos[11], purifica leprosos[12], faz andar paralíticos[13] e toca no coração dos excluídos da sociedade[14], fez à dois mil anos o que repete ainda hoje. Cristo veio para pagar um preço impagável pelo Homem[15], através do Seu imenso[16] e perfeitamente louco amor. Perante isto o caos torna-se vazio de si mesmo. O amor de Jesus é a solução para o Homem, a esperança para o pessimismo, a reconstrução para a devastação, a religação a Deus, a quem desde a cruz estamos ainda mais ligados, ao ponto de lhe chamarmos Paizinho[17].

Não somos criaturas projectadas para sofrer, nem para causar devastação. Mas o pecado e as suas consequências espirituais, emocionais e físicas toldam o raciocínio humano e exponenciam a imperfeição gerada depois da queda. Em Jesus existe solução, existe paz e redenção, existe uma nova vida, um ser velho que é sepultado no caos do passado e ergue-se a nova criatura que deixa de viver para os prazeres egoístas da carne e vive para o deleite no Espírito Santo e na promessa da ressurreição e numa eternidade na presença de Deus[18].

Vivemos por fé[19], caminhamos por fé, estamos de passagem neste mundo[20]. Mas não devemos ignorar todo o caos e confusão gerados pelo pecado. O meu desejo é que estejamos sensíveis a tudo isso e que saibamos ouvir a voz de Deus. Jesus envia-nos a pregar o Evangelho[21], trata-se de anunciar a oportunidade única de uma vida especial. Das trevas para a luz, da morte para a vida eterna, da condenação para a salvação.  

Desfaçamos o caos que o Homem criou à sua imagem e semelhança, para nos ordenarmos pela perfeição de Deus.

Ricardo Rosa

[1] - Salmo 42:7
[2] - Região do continente africano que se situa abaixo do deserto do Sahara, ou seja, da zona Norte.
[3] - Crédito de risco que é concedido a alguém que não oferece garantias de o poder pagar
[4] - Miqueias 5:2, Mateus 2:5, Lucas 2:11, João 7:42
[5] - Romanos 5:12
[6] - Romanos 5:17
[7] - Lucas 2:52
[8] - João 15:5
[9] - Génesis 1:1,2
[10] - Génesis 2:2
[11] - Mateus 20:29-34
[12] - Lucas 17:12-16
[13] - Marcos 2:2-12
[14] - João 4:4-28
[15] - 1ª Coríntios 7:23
[16] - Romanos 8:25
[17] - Do hebraico “Abba”, que transmite um grau de intimidade imenso
[18] - Romanos 6:4-14
[19] - Gálatas 3:11  
[20] - Hebreus 13:14
[21] - Marcos 16:15

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