O regresso (in)esperado
Depois
de arrumar, definitivamente, o chapéu de sol e outros apetrechos habituais da
época de Verão, fecha-se o portão da garagem com a sensação que se encerra a
“velha” estação a sete chaves.
Mesmo que o sol faça ainda o seu apelo
a cada manhã e a praia bem perto ou bem longe continue a chamar-nos, o relógio
não pára. O patrão não espera. O toque soa e os mais novos voltam à escola. Nós
regressamos à rotina, desesperados pelo próximo feriado ou pela época
natalícia. Enquanto esperamos as primeiras gotas de chuva, gastamos parte do
orçamento nos livros e parte da nossa paciência na renovação do guarda-roupa,
na troca da roupa fresca pela mais quente.
O regresso às aulas é o retorno
esperado. Voltar ao trabalho é destino obrigatório. O decurso natural dos
tempos e estações, ao ritmo do qual nos movemos e agimos, calendariza
boas-vindas e despedidas, partidas e regressos. Factos e acontecimentos
socialmente banais. Datas marcadas. Rotinas e tradições da nação, da cidade, da
família.
Como família espiritual, o organismo
vivo cujo comandante é Cristo, ao qual chamamos igreja, temos também um outro
calendário. Não me refiro aos doze meses do ano, aos 365 ou 366 dias, às 24
horas do nosso relógio. Falo do calendário de Deus, Aquele que governa os
tempos e as estações.
Na Sua infinita e eterna existência, o
Senhor do universo tem o Seu próprio calendário, o Seu plano. Como filhos,
temos acesso à Sua agenda de datas invisíveis mas com sinais visíveis que
anunciam aquilo que irá suceder. Revemos na terra esses factos acontecerem,
cumprindo aquilo que Ele avisou que aconteceria. Aquilo que daria o sinal de
que Jesus iria regressar. O que lemos nessa agenda – a Bíblia – vemos no
planeta. Escutamos as vozes da natureza, da crise política e social, da guerra
e poluição, do amor enfraquecido, da insegurança, do Evangelho a ser espalhado
pelas estradas de terra, os caminhos de alcatrão e auto-estradas da informação.
O regresso esperado do Filho de Deus
será inesperado. Rápido e invisível. Num ínfimo segundo[i].
Sem falhas ou erros, justo e preciso na escolha daqueles que O irão encontrar
nos céus e viver eternamente com Ele. Sem possível arrependimento ou mudança de
atitude para os que dormem na sua negligência espiritual[ii].
Jesus notificou a realidade da Sua vinda e explicou aquilo que O antecedia.
Avisou como seria, quem ficaria e quem iria.
Os nossos olhos vêem aquilo que Mateus
apenas registou[iii].
Que outros factos necessitamos mais para estarmos (ainda) mais despertos
espiritualmente? O apelo emergente é o mesmo exarado por Paulo na sua primeira
carta à igreja em Tessalónica[iv],
ou seja, que vivamos um cristianismo autêntico, compassivo, puro, santo,
pentecostal e dedicado, aguardando o Seu regresso (in)esperado.
Ana Ramalho
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