Tradução
Conheço tradutores em diversos ramos. Não sou perita no assunto, mas
recolhi alguns princípios para uma boa tradução: a correcta compreensão do contexto
da peça que está a ser traduzida, o pano de fundo cultural, social e histórico,
entre outros.
Uma das expressões mais interessantes para ilustrar isso é inglesa: “It’s
raining cats and dogs!”. Se traduzíssemos à letra, para português, ficaria
“Estão a chover gatos e cães!”... mas, de facto, a expressão correcta é “Está a
chover a potes!” ou “Está a chover a cântaros!”, que transmite a ideia de um
grande aguaceiro (se usarmos uma linguagem mais “técnica”).
Uma má tradução é o que basta para que quem lê ou escuta a mensagem tenha
uma ideia deturpada, ou mesmo contrária à do texto na língua original. Isso
pode não ser muito grave quando se trata das legendas de um filme. E se for
algo que afecte em parte ou por completo a nossa vida?
A preocupação do Pai ao enviar Jesus foi clarificar o significado de Deus à
Humanidade. Na época, as pessoas tinham uma ideia de Deus baseada nas tradições
e ensinos dos líderes religiosos. Estes homens pensavam que a mensagem que
transmitiam acerca de Deus era a correcta. De facto, as suas intenções eram as
melhores. O problema é que, embora soubessem bem o que Deus dizia, não
conheciam a essência – quem Deus é. O contexto limitava-se à Lei, dada por Deus
e não a Deus – o Autor da Lei.
Jesus traduziu claramente quem Deus é, em todos os detalhes. Ele levou a
mensagem além de tinta e papel, palavras e chavões. Ele revelou-nos o amor. Não
um sentimento abstracto, mas uma pessoa. Cristo traduziu Deus numa vida
perfeita, numa morte de substituição pelo nosso pecado, e numa ressurreição
para nossa segurança total.
C. S. Lewis, o célebre autor de As
crónicas de Nárnia, refere que “Cristo entregou-se à submissão e à humilhação
perfeitas: perfeitas porque era Deus; submissão e humilhação porque era um
homem. (...) As pessoas se perguntam quando ocorrerá o próximo passo da
evolução — um passo para além do próprio homem —, mas, segundo o cristianismo,
esse passo já foi dado. Em Cristo, um novo homem surgiu; e o novo tipo de vida
que começou nele deve ser instilado em nós. (...).”1
Através de quem ou de quê temos interpretado Deus? Em que é que baseamos a
nossa visão da vida? É tempo de conhecermos o perfeito tradutor – Cristo – para
sabermos de onde vimos, onde estamos e para onde vamos. Conhecer Deus, através
da Sua Palavra e do Amor em Pessoa, para podermos ser transformados em canais
do Seu amor. Uma nova vida, que traduz para o mundo quem Deus é.
“Como filhos que imitam o pai que muito
os ama, procurem seguir o modelo de vida que Deus vos propõe. Que a vossa vida
se encha do amor de Deus, esse amor com que Cristo vos amou e pelo qual se
entregou em vosso lugar num sacrifício cujo perfume subiu agradavelmente até à
presença de Deus.” (Efésios 5:1,2).
Ana Ramalho
1 LEWIS, C. S. Cristianismo
puro e simples, São Paulo: 2005,
Martins Fontes, p. 24
in
revista Novas de Alegria, Fevereiro 2009
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