Check-in
São 4h30 da manhã. Vou entrar ao serviço agora. Está um frio de rachar no
aeroporto. Já estão muitos viajantes à espera para fazer o check-in.
Ao trabalho! Há centenas de passageiros para dezenas de voos.
Identificações e bilhetes para confirmar. E as bagagens... bom, quanto a isso,
os meus superiores pediram-nos para sermos inflexíveis, sem prescindir a boa
educação, claro! Há quem queira, literalmente, “levar a casa às costas” quando
viaja de avião. As tarifas dos voos já são tão reduzidas que não nos podemos
dar ao luxo de permitir excesso de peso, sem o devido pagamento. Temos sido
condescendentes, mas por causa de certos abusos, a companhia pediu para os
passageiros serem comedidos e respeitarem as normas...
Ali vem a primeira senhora...
- Bom dia! A sua identificação, por favor. Pode colocar a mala no tapete.
A senhora está com um ar cansado. Deve ter dormido no aeroporto...
- Desculpe. – disse-lhe – A sua mala tem 21 quilos e duzentos gramas. Tem
que pagar o peso extra. São 12 €. A alternativa é tirar alguma coisa e colocar
na sua bagagem de mão.
Vai retirar algo da mala. Parece que ficou um pouco nervosa com a
situação... ou pode ser do sono... mas o que é que hei-de fazer? Ordens são
ordens. Os passageiros deveriam estar mais atentos quando compram os bilhetes.
Está lá bem explícito o limite de peso, do conteúdo das bagagens, etc. Bom, ali
vem a senhora com a mala, de novo. Vamos ver se é desta que passa!
Nem todos temos por hábito viajar de avião. Muito menos estar “do lado de
lá” a receber os passageiros no check-in.
No entanto, conhecemos bem o peso da bagagem das falhas, das mágoas, das
pequenas coisas que, juntas, se vão agigantando num fardo descomunal, escondido
nas belas malas da fachada que carregamos. Arrastamos os dias a olhar para
elas. Queremos abrir as asas e rumar para outras paragens, mas aquele peso
amarra-nos ao presente, ao nosso passado.
Como aquela funcionária do
aeroporto, a nossa consciência vai-nos dizendo que assim não podemos voar. Não
por mera intransigência de um lobby
de companhias aéreas, mas pelo bem da nossa própria vida. Nas palavras de Max
Lucado, precisamos “aliviar a bagagem”.
Há coisas que necessariamente devem ficar em terra, se queremos avançar até
ao destino para que fomos criados – a liberdade de Deus. Como? Abrindo o nosso
coração para que Jesus, o nosso capitão de bordo, nos ajude a escolher aquilo
que não presta, a retirar o peso da culpa e a colocar a leveza do Seu amor –
imprescindível para qualquer passageiro da vida.
“Procurem então, com firmeza,
permanecer livres, beneficiando da liberdade com que Cristo nos libertou, e não
se deixem prender de novo a cadeias de sujeição (...) Sim, meus irmãos, vocês
foram chamados por Deus para viverem na liberdade. Não deixem então que essa liberdade
seja um pretexto para que a vossa natureza carnal vos leve à prática do mal;
antes pelo contrário que ela vos incite a trabalhar, por amor, a favor dos
outros.” (Gálatas 5:1 e 13, versão “O Livro”).
Ana Ramalho
in
revista Novas de Alegria, Março 2009
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