Crise Nobel
“Valor
monetário dos prémios [Nobel] vai ser reduzido em 20% este ano, anunciou a
fundação que anualmente distingue homens e mulheres que se notabilizam pelo seu
trabalho em prol da Humanidade.”1
A crise fez o seu percurso: passou pela
classe média, sacrificou os menos abastados e também chegou aos bolsos dos mais
ricos. Até os prémios Nobel têm reduções, impostas pela conjuntura.
Mas uma conjuntura mais ampla e
perigosa enterrou-nos no pântano do desespero. Quem muito tem, mais quer... e
“os mercados” são o nome pomposo para um sistema assente na ganância. Esta sede
por mais posses excede a simples ambição, pois governa o mundo e desgoverna-nos
a vida.
O homem procura satisfazer-se no ter, porque não consegue – ou não quer
– preocupar-se com o ser. Como
humanidade deixámos de adorar Deus. Decidimos convencer-nos e convencer os
outros (a começar pelos meninos na escola) que somos resultado do acaso e vamos
para o acaso... Isso levou-nos a viver o presente, para esquecer a falta de esperança
em relação ao futuro. Aos crentes em Roma, Paulo explica: “Desde a criação do mundo que os homens entendem e claramente veem,
através de tudo o que Deus fez, as suas qualidades invisíveis - o seu eterno
poder e a sua natureza divina. Não terão, portanto, desculpa de não conhecer
Deus. Pois ainda que tendo conhecido Deus, não o adoraram como Deus e nem
sequer lhe agradeceram todos os seus cuidados diários. Antes começaram a formar
ideias absurdas. O resultado foi que as suas mentes insensatas se tornaram
obscuras. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E então, em vez de adorarem o
Deus glorioso e eterno, fizeram para si próprios ídolos com a forma de homens
mortais, de aves, de quadrúpedes e de répteis. (...) Em vez de aceitarem a verdade de Deus, preferiram
a mentira. Honraram e serviram coisas que são criadas em vez do próprio
Criador, que é louvado eternamente. Amém.” (Romanos 1: 20-23, 25; versão “O
Livro”)
Preferimos ser escravos do sistema
consumista e materialista que criámos, do que servir a Deus. O resultado está à
vista... Timóteo recebeu o aviso do seu mentor, Paulo, “A raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Levados por ela,
muitos perderam a fé e meteram-se em grandes aflições.” (1 Timóteo 6:10;
versão “A Bíblia para Todos”)
Um outro perigo subtil, que pode
“atacar” até mesmo os cristãos mais sinceros é vivermos consciente ou
inconscientemente com este princípio: Deus existe para ser adorado, não por
aquilo que Ele é mas por aquilo que
Ele nos dá. Deus existe para nos
satisfazer, como um génio da lâmpada, mas com um número ilimitado de desejos
possíveis. O egoísmo pode minar a nossa relação com Deus, ao ponto de vivermos
um cristianismo distorcido, no qual cometemos o mesmo pecado: trocamos o Deus
das bênçãos pelas bênçãos de Deus.
Os que negam a existência de Deus,
precisam buscá-Lo com sinceridade. Os que sabem que Ele existe, mas vivem como
se Ele não existisse, precisam negar-se a si mesmos e viver apenas para Ele. Os
que vivem um cristianismo interesseiro precisam rever as suas prioridades e
voltar a amar Deus acima de todas as coisas, em vez de amar todas as coisas que
Deus dá.
O ato mais Nobel que podemos ter é aceitar o convite de Deus “Buscai-me, e vivei.” (Amós 5:4b).
Ana
Ramalho Rosa
1 www.publico.pt
in
revista Novas de Alegria, setembro 2012
Texto escrito
conforme o novo acordo ortográfico
Comentários