Peças da vida
Naquele
dia, resolveu por mãos à obra. Foi buscar a caixa empoeirada ao sótão e iniciou
a tarefa de fazer o puzzle que fora
do seu avô, do seu pai e agora era dele.
Quando o recebeu, como prenda pelos
seus 18 anos, estava mais interessado em passear, divertir-se com os amigos, do
que passar serões em casa a construir fosse o que fosse.
Agora, um homem de barba rija,
‘desimportado’ com a vida, num lay-off
angustiante, enquanto aguardava a hora de outra oportunidade de trabalho, e
cansado de procurar emprego, esmerava-se por esquecer que naquele dia fazia, precisamente,
50 anos de vida. Era um dia que desejava que fosse igual aos outros, mas não o
era: passava na sua mente o correr dos dias e a falta de sentido, e de ordem,
tal como as peças daquele puzzle
esbanjadas pela mesa da sala, sem rei nem roque.
Aquela noite parecia não terminar. E a
construção do puzzle continuava,
paulatinamente. Já o relógio passava da meia-noite e as peças soltas iam
escasseando. Quando colocou a última peça faltavam ainda umas quantas para que
o puzzle ficasse terminado.
Perderam-se pelos anos, tal como o propósito da sua vida.
É verdade que esta história não é
única. Quantos vagueiam nas nossas ruas, nas nossas cidades, nas nossas famílias,
sem um sentido real para a sua vida? Há momentos em que todos nos questionamos
acerca da nossa origem, caminho e destino. Momentos que desejamos que passem e
sejam esquecidos, como aquele dia de aniversário indesejado.
Como um doente que se quer automedicar,
engolimos analgésicos passageiros, esperando que a insegurança e a dor nos
deixem por momentos. Corremos atrás do valor efémero do dinheiro, trocamos a
moral pela ditadura do prazer, embarcamos num abuso de poder para esconder a
nossa insegurança pessoal... mas quando o efeito passa, continuamos
insatisfeitos.
O convite de Jesus é para todos os
insatisfeitos: “Venham a mim todos os
que estão cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Levem o meu jugo e aprendam
de mim, porque sou brando e humilde, e acharão descanso para as vossas almas;
pois só vos imponho cargas suaves e leves.” (Mateus 11: 28-30, OL).
Para todos os que se sentem enganados,
perdidos e sem vida: “Eu sou o caminho,
e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” (João 14:6, AA).
Para todos os que se assumem como
doentes, pecadores e maltrapilhos, pobres de espírito numa recessão constante
que só a riqueza do Seu perdão pode resolver: “Quem precisa de médico são os doentes e não os que têm saúde! Vim
chamar, não os bons, mas os maus.” (Marcos 2:17, OL).
Esse convite ainda está de pé, não
porque o mereçamos mas porque Ele Se entregou incondicionalmente no nosso
lugar. O Justo dos justos por todos os pecadores, a começar por mim!
Ana
Ramalho Rosa
in
revista Novas de Alegria, julho 2013
Texto escrito
conforme o novo acordo ortográfico
Comentários