O CICLO VICIOSO - Promessas quebradas, sonhos desfeitos
Um novo ano surge e
com ele a expectativa de uma nova oportunidade. A mudança de um ano para o
outro parece carregar em si a esperança de fazer melhor, ser melhor, esperar
melhor. A verdade é que, se formos honestos, muitas das nossas decisões do ano
anterior ficaram pelo caminho, algumas expectativas saíram furadas e
acontecimentos inesperados deixaram-nos apeados na estação da desesperança.
Por vezes somos assaltados pelos extremos. Uma história
recente de promessas quebradas ou sonhos desfeitos não precisa ditar aquilo que
verdadeiramente nos sustém nesta jornada. Temos Deus na nossa vida e Ele cuida
de nós em todas as situações.
Por outro lado, o “triunfalismo” não nos pode cegar ou
enganar. Biblicamente não podemos justificar, de forma honesta, que seguirmos
Jesus nos livra de passar por tribulações, ter doenças ou sofrer injustiças. Mas
também não podemos viver agarrados à ideia de que estamos aqui apenas para
sofrer, como se a nossa salvação ou a misericórdia de Deus dependessem da nossa
penitência voluntária ou involuntária.
UMA GALERIA MUITO
ESPECIAL
No capítulo 11 da Epístola aos Hebreus temos registada aquela
que é conhecida como a “Galeria dos Heróis da Fé”. A primeira parte descreve o
modo como vários homens e mulheres confiaram em Deus e viram o Seu livramento
durante o tempo em que viveram. Eles, “por
meio da fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas,
fecharam a boca dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam ao fio da
espada, da fraqueza tiraram forças, tornaram-se poderosos na guerra, puseram em
fuga exércitos estrangeiros.” (Hebreus 11:33-34, AA)
Ao lermos até ao versículo 34, ficamos deslumbrados! Queremos
ser como Abel, Noé, Abraão, Sara, José, Moisés, e tantos outros que, por
confiarem em Deus, viram acontecer grandes coisas... Ou ficamos frustrados por
mantermos a nossa confiança em Deus mas parecer que vivemos o oposto desses
“heróis”. A cura daquele temor parece impossível, o regresso do filho que
desapareceu nunca acontece, o desemprego teima em não nos largar, as marcas de
uma relação violenta aprisionam o coração, dia após dia.
Questionamos o que fizemos para merecer isto ou para não
merecer aquilo. Perguntamos a Deus porque não nos identificamos com o discurso
de que só temos vitórias e conquistas... Seremos crentes falhados? Será que
Deus Se esqueceu de nós? Se realmente não estamos a sofrer a consequência das
nossas más escolhas, as perguntas surgem legitimamente, uma após outra... mas
há esperança!
HERÓIS IMPROVÁVEIS
Ainda bem que o escritor da Carta aos Hebreus não ficou
pelo versículo 34, mas continuou a escrever! “As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram
torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor
ressurreição; e
outros experimentaram escárnios e açoites, e ainda cadeias e prisões. Foram apedrejados e
tentados; foram serrados ao meio; morreram ao fio da espada; andaram vestidos
de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era
digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra.”
(Hebreus 11:35-38 AA)
Se estamos a passar pelas tempestades mais atrozes, a
suportar um inimaginável sofrimento, a lidar com uma profunda desilusão, não
estamos sozinhos. Estes outros “heróis improváveis” passaram por mil e uma
coisas, algumas delas que nunca podermos imaginar, sempre confiando que “importa antes obedecer a Deus que aos
homens.” (Atos 5:29b, AA). Jesus estabeleceu o verdadeiro sucesso no Reino
de Deus, quando explicou: “a comida que
me mantém ativo é fazer a vontade daquele que me enviou, concluir a obra que
ele começou” (João 4:34, MSG). O Salmo 23 fala do Senhor como nosso pastor,
aquele que está connosco mesmo nos vales profundos da desilusão, do medo, da
doença, do desemprego, e até da morte (Salmo 23:4). Jesus disse aos Seus
seguidores que estaria com eles todos os dias (Mateus 28:20).
Mas, aqui, as perguntas podem voltar a assaltar-nos: será
que vale a pena confiar em Deus, ter fé n’Ele se, no fim de contas, acabamos
por ter problemas como todos os outros? Afinal, nem todos os homens e mulheres
de fé foram “super-heróis do sucesso”, no sentido em que a nossa sociedade o
vê.
Talvez Hebreus nos possa ajudar... “Todos estes, embora tendo tido a prova de que Deus tinha satisfação
neles, não receberam o que ele lhes tinha prometido. Porque Deus tinha
reservado para nós coisas melhores, e queria que eles viessem também a
participar delas juntamente connosco. Portanto, nós também, visto que estamos
rodeados por uma tão grande multidão de testemunhas, vidas que são exemplos da
fé, deixemos tudo aquilo que nos embaraça, e o pecado que nos envolve tão de
perto, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta. Olhemos
para Jesus. Ele é a fonte da nossa fé e aquele que a aperfeiçoa, o qual, pela
alegria que lhe estava reservada, suportou a cruz, aceitando a humilhação,
vindo a sentar-se no lugar de maior honra à direita do trono de Deus. Pensem
bem em tudo aquilo que ele suportou da parte dos pecadores, para que não venham
a enfraquecer, desencorajando-se.” (Hebreus 11:39 – 12:3, OL)
A VERDADEIRA
ESPERANÇA
Fosse nos maiores triunfos ou nos fins mais atrozes à vista
humana, todos os exemplos de fé em Deus que descobrimos em Hebreus 11, mostram
que, no final de contas, o que importa não é o “aqui e agora” – seja agradável
ou desagradável. Cristo não é um meio para obtermos isto ou aquilo mas Ele é um
fim em Si mesmo, embora no processo de confiarmos na Sua Palavra, realmente Ele
cuide de nós. Ele era a promessa daqueles “heróis da fé”, que esperavam a sua
primeira vinda, e é a promessa daqueles que esperam o Seu regresso.
Precisamos seguir o conselho descrito em Hebreus: “Olhemos para Jesus”. O que significa
isto? Que Ele é o nosso exemplo, no sucesso e no sofrimento, é o nosso consolo,
é a nossa paz, segurança, o nosso alvo maior. Cristo é Aquele que deu a vida
por nós e por quem devem estar dispostos a viver e morrer, todos os dias. Podemos
ser desiludidos mas, como o pastor Rick Warren afirmou “as deceções são sempre oportunidades para conhecer e confiar em Deus de
uma forma mais profunda.”
Paulo, quando escreve a Timóteo refere-se a “Cristo Jesus, esperança nossa.” (1
Timóteo 1:1b, AA).
Ele é a nossa esperança para o presente. “Portanto, visto que temos um tão excelente supremo sacerdote, que é
Jesus o Filho de Deus, que penetrou nos céus, mantenhamo-nos firmemente fiéis à
fé que confessamos ter. Este nosso sacerdote supremo não é um simples homem que
não possa compreender as nossas fraquezas. Pelo contrário, ele passou por todas
as mesmas provas que nós, mas sem ter pecado. Portanto cheguemo-nos com
confiança ao trono de Deus para podermos receber misericórdia e graça, e para
sermos ajudados sempre que tivermos necessidade.” (Hebreus 4:14-16, OL)
E a nossa esperança para o futuro. “Em síntese é isto: Cristo ocupando todo o vosso ser; o que é já
garantia total da vida eterna passada na glória de Deus, que é a nossa
esperança agora.” (Colossenses 1:27b, OL).
Numa sociedade que vive o momento, e anda de tentativa em
tentativa, colecionando recomeços, à espera de numa suposta felicidade ambígua,
não palpável nem segura, como cristãos precisamos recuperar a esperança – a
Verdadeira esperança. Precisamos que Deus transforme a nossa mente e não nos
deixe conformar com a perspetiva egoísta deste mundo, mas que sejamos renovados
de tal forma que possamos ter uma mentalidade centrada em Deus e na Sua perspetiva
de vida (Romanos 12:1-2; 1 Coríntios 2:16).
E, nessa perspetiva, lembramos as palavras de Jesus “Portanto, não se preocupem com a comida e
a roupa para vestir. Para quê serem como os incrédulos? Mas o vosso Pai
celestial sabe perfeitamente que precisam delas. Deem pois prioridade ao seu
reino e à sua justiça e Deus cuidará do vosso futuro. Não se preocupem com o
dia de amanhã. O dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta cada dia o seu mal.” (Mateus
6:31-34, OL). E, como Job durante o seu período de prova, podemos declarar,
pela fé, “pois eu sei que o meu Redentor
vive, e que por fim se levantará sobre a terra.” (Job 19:24, AA).
Ana Ramalho Rosa
in
revista Novas de Alegria, janeiro 2014
Texto escrito
conforme o novo acordo ortográfico
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