Bolas de sabão
Tem muitos brinquedos e livros, mas não há coisa que o meu
filho mais goste do que bolas de sabão. Ele corre e pula, enquanto ri e rebenta
as bolinhas de sabão feitas por quem tem paciência, minutos e minutos seguidos.
Num sopro, criamo-las, elas voam e, logo mais, desfazem-se
nos nossos dedos ou simplesmente esmorecem no ar. As bolas de sabão
divertem-nos e voam enquanto espalham os reflexos de tudo à sua volta, até se
tornarem num nada.
Não sei se esta seria a melhor ilustração para vos falar da
vida. Ao advertir o modo arrogante com que alguns dos destinatários da sua
carta falavam do que iam ou não iam fazer, sem colocar Deus na equação, Tiago
pergunta-lhes: “Porque que é a vossa
vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece.” (Tiago
4:14). Parafraseando, diríamos que a vida é como uma bola de sabão que aparece
e logo mais se vai.
A vida, com todas as suas nuances, fases e circunstâncias,
parece-se limitar a um tempo sempre curto. Mesmo que às vezes, lá pelo meio, na
nossa impaciência, o tempo custe a passar, desejamos que ela não acabe. Parece
que algo cá dentro nos diz que não fomos criados para isso – para a morte. Quando
esta bate à porta parece que nos deixa numa espécie de reticências que não compreendemos
ou ainda estamos a aprender a explicar.
Talvez a explicação seja mais acessível do que, na nossa
mente tão racional (se assim a podemos chamar) a possamos compreender ou
aceitar. De facto, fomos criados para a vida, mas a nossa ambição tomou-nos e
demos a vida a perder. Em troca de queremos ser reis e senhores, ficámos
escravos dos nossos desejos, dos outros e do enganador. Escravos até à morte e
da morte. Mas o Criador da vida, da nossa vida, quis acabar com a nossa
morte... através da Sua morte: “Deus
amou tanto o mundo que deu o seu único Filho para que todo aquele que nele crê
não se perca espiritualmente, mas tenha a vida eterna. Deus não mandou o
seu Filho para condenar o mundo, mas para o salvar.” (João 3:16-17, OL)
A notícia da “conquista da morte” que surpreendeu a todos,
ainda hoje nos surpreende: “Na madrugada
de domingo, ao levarem os produtos para o túmulo, verificaram que a enorme
pedra que tapava a entrada tinha sido removida. Entraram, mas o corpo do Senhor
Jesus tinha desaparecido! Ficaram perplexas. De súbito apareceram dois homens
vestidos de roupas reluzentes. As mulheres ficaram cheias de medo, com os olhos
postos no chão. E aqueles homens perguntaram: ‘Porque procuram no túmulo quem
afinal está vivo? Ele não está aqui, ressuscitou! Não se lembram do que ele vos
disse na Galileia, que o Filho do Homem seria traído, entregue a gente má e
crucificado, e que tornaria a viver ao terceiro dia?’” (Lucas 24:1-7, OL)
Esta manhã, quando as bolas de sabão se desfizeram em
segundos, ao som dos risos de uma criança, pelos silêncios de lágrimas caídas,
os que ficaram lamentaram de alguma forma os que partiram. Que a tristeza deles
seja mais um reflexo de saudade, de separação, do que desesperança e incerteza.
As certezas, a segurança, tratam-se aqui, enquanto há vida!
“Se a nossa esperança
em Cristo é unicamente para esta vida, nós somos as pessoas mais miseráveis no
mundo. Mas o
facto é que Cristo ressuscitou mesmo dos mortos e se tornou o primeiro entre
milhões que um dia voltarão a viver! Tal como a morte apareceu neste mundo por
causa daquilo que um homem (Adão) fez, assim também é por causa do que um outro
Homem (Cristo) realizou que agora há a possibilidade da ressurreição da morte.
Cada um de nós morre porque pertence à descendência pecadora de Adão. Mas todos
os que estão ligados a Cristo voltarão de novo à vida. Contudo cada um na sua ordem:
Cristo foi o primeiro a ressuscitar; e depois, quando ele voltar, todo o seu
povo tornará a viver.” (1 Coríntios 15:19-23)
in revista Novas de Alegria, março 2016. Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico
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