O Zé-ninguém
Ao
vê-lo de longe, parecia um senhor. Mas ao nos aproximarmos, o aroma e o aspeto
faziam muitos olhá-lo de lado e virar-lhe a carta.
Era um entre tantos que
procuravam uma sopa quente, um abraço e palavras de conforto. O casaco elegante
agora surrado pelo tempo, o calçado de couro já gasto e meio enlameado, não
faziam prever de onde veio. Foi o amor (ou a falta dele) que o atirou para as
ruas, por desespero e vontade própria, mas assente numa traição alheia que desmoronou
o casamento de anos. A sua carreira como advogado começou a sofrer e levou-o a
perder-se entre as garrafas, como perdeu mulher e filhos, acabando alojado os
recantos sombrios da cidade. Deixou de ser o Senhor Doutor e passou a ser, num
ápice, o sem-abrigo, o pedinte, o Zé-ninguém.
Pensava
neste homem quando recordei as palavras de Deus ao Seu povo: “Mas agora, assim diz o Senhor que te criou, ó Jacob, e que te formou, ó
Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu.” (Isaías 43:1, ACF) O povo de Deus tinha-se desviado da Sua Palavra e
mesmo com milhentos avisos, continuava a virar-Lhe as costas. Então, veio o
cativeiro e o povo foi levado para outra terra. Neste capítulo, Deus diz
através de Isaías que continua disposto a perdoar o Seu povo, e a estar com ele
se houver arrependimento sincero. A identidade do povo estava assente em Deus,
porque era o Seu povo, que Ele amava (e ama!).
“Vejam
com que amor o Pai nos amou, a ponto de sermos chamados filhos de Deus! E somos
seus filhos realmente!” (1 João 3:1a, BPT) Hoje, quando nos arrependemos e
aceitamos Jesus como nosso Salvador e Senhor tornamo-nos filhos de Deus. Ser
filho ou filha de Deus é um privilégio que Cristo ganhou na cruz para nós. Ele
foi lá por nós, na nossa vez. Não foi algo adquirido nos saldos, numa campanha
promocional ou por "cunhas". Foi com o preço da Sua própria vida
santa, pela nossa vida pecadora. Tudo o que possamos fazer não paga o amor de
Deus por nós, mas não podemos deixar de fazer seja o que for por Ele, por causa
desse amor incomparável que não merecemos nem jamais mereceriamos. Obediência é
um ato de amor, porque Ele também obedeceu, por amor!
Jesus
disse: "Se guardarem os meus mandamentos estarão a viver no meu amor,
assim como eu obedeço ao meu Pai e vivo no seu amor. Disse-vos isto para que
possam encher-se da minha alegria. Sim, a vossa taça de alegria transbordará!
Mando-vos que se amem uns aos outros como eu vos amei. E é esta a medida: o
maior amor é mostrado quando alguém dá a vida pelos seus amigos. E vocês serão
meus amigos se fizerem o que vos mando." (João 15:9-14, OL)
Somos
amigos e filhos de Deus… por isso O amamos e Lhe obedecemos. Podem tirar-nos
tudo, os títulos e até o teto, mas não nos podem tirar isso. Somos Dele. Ponto
final!
Ana
Ramalho Rosa
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