Somos ou Parecemos? – uma questão de coerência (também na comunicação)
Todo o Sermão do Monte é um hino
à essência do seguidor de Jesus (ser) e de, em consequência disso, viver em obediência
ao Pai (fruto). E nos três capítulos do Evangelho segundo Mateus em que está
registado, gostava de lembrar uma parte importante do capítulo 7 (e depois
vamos ver o que isso tem a ver com comunicação).
“Cuidado com os falsos
profetas! Vêm ter convosco como se fossem ovelhas, mas por dentro
são lobos ferozes. É pelos seus frutos que os hão de reconhecer.
Porventura podem colher-se uvas das silvas ou figos dos cardos? Portanto,
a árvore boa dá bons frutos e a árvore má dá maus frutos. Assim pois, uma
árvore boa não pode dar maus frutos e uma árvore má não pode dar bons frutos. Toda
a árvore que não dá bons frutos corta-se e deita-se ao fogo. Portanto, é
pelas suas ações que poderão reconhecer os falsos profetas. Nem todos
aqueles que me dizem: ‘Senhor, Senhor!’ entrarão no reino dos céus, mas apenas
os que fazem a vontade de Meu Pai que está nos céus. Quando aquele dia chegar,
haverá muitos que me hão de dizer: ‘Senhor, Senhor, não profetizámos nós em Teu
nome? Não fizemos numerosos milagres em Teu nome? Não chegámos a expulsar
demónios em Teu nome?’ Eu então hei de declarar-lhes: ‘Nunca vos conheci.
Afastem-se de Mim, seus malfeitores!’” (Mateus 7:15-23, BPT, sublinhado da
autora)
A lição que Jesus dá aqui acerca do
parecer (imagem, perceção) e do ser (essência, natureza) que se aplica aqui àqueles
que se dizem Seus seguidores (e até aparentemente são usados por Ele), mas de
facto não são. Os conceitos de coerência e verdade aplicam-se a todas as áreas (não
há escolha!) – e também podemos levá-lo para a área da comunicação.
Eu gostava a partir desta ideia
e, depois, deixando outras dicas, recordar alguns princípios práticos, independentemente
do tempo, situação, dimensão da igreja e meios disponíveis.
1) TUDO NA IGREJA COMUNICA
ALGUMA COISA
As pessoas olham para a igreja
como um todo. Ou seja, onde quer que a igreja esteja, ela está a passar uma
mensagem para a comunidade, mesmo que não tenha nenhum tipo de estratégia de
comunicação intencional. O logótipo, a montra, o slogan, o estilo de
música, a decoração, o sorriso das pessoas, a simpatia, a linguagem, a forma e
conteúdos que estão nas redes sociais, etc. – tudo passa algum tipo de
mensagem. Quando evangelizamos utilizando os meios de comunicação precisamos
ter em conta estes aspetos.
2) (IN)COERÊNCIA “IMAGEM” VS
REALIDADE
Não podemos ser incoerentes, nem
criar falsas expectativas. Se temos uma comunidade simples e familiar, a nossa
comunicação tem de transparecer isso. Se a cultura da igreja é mais sofisticada
e envolve muitos meios multimédia, a mesma coisa.
Ao ver a página de Facebook,
Instagram, o canal de Youtube, um folheto, um site ou ler um artigo, quem somos
como igreja local deve estar espelhado. É sempre possível fazer uma comunicação
eficaz, dando ênfase às qualidades e potencial da comunidade de crentes que
representamos. Para tal, é necessário fazermos uma avaliação de quem somos e
onde queremos chegar, para definir uma estratégia global de comunicação que,
mesmo sendo simples, seja eficaz e um meio de fazer Cristo e a Sua igreja
conhecidos.
3) MARKETING SEM RELAÇÃO =
FRUSTRAÇÃO
Richard Reising, um perito em marketing
religioso disse “Quando a igreja faz marketing sem ter relacionamentos com as
pessoas é como preparar-se com todo o cuidado para um encontro romântico, mas
não ter par". As nossas comunidades de crentes precisam voltar a ter
paixão pelo evangelismo pessoal, pela presença e relacionamento com os outros,
com a mesma compaixão e interesse que a igreja nascente tinha. Como líderes,
devemos ter o exemplo também nesta área - relacionamento e evangelização
pessoal. Jesus é o nosso exemplo!
4) UMA LÓGICA DE ALCANCE E
NÃO DE COMPETIÇÃO
A igreja local é o plano fantástico
de Deus… cada igreja é única… mas quando começamos a entrar numa lógica de “concorrência”
ou competição – seja em que área for, neste caso na comunicação – estamos a fazer
tudo ao contrário. A nossa postura deve ser de “alegrar com os que se alegram”,
servindo de estímulo e apoio uns aos outros porque TODOS (e não apenas a “minha”
igreja) temos os mesmos alvos: ir, evangelizar, ensinar, trazer as pessoas das
trevas para a luz, etc. E não ofuscarmos o Reino de Deus, competindo com os
outros. Isso remete-nos para o Sermão do Monte, mais uma vez – precisamos
entender que nada disto tem a ver connosco, mas tudo tem a ver com Ele (é o Seu
Reino!). E que, como Corpo de Cristo, cada um no seu lugar exercendo os dons
que Deus lhe deu, estaremos a fazer a nossa parte – fazendo o Seu Reino crescer
– porque a cabeça é Cristo e não eu, mesmo que tenha 300 anos de crente, 30
livros publicados, 500 mil seguidores das minhas pregações nas redes sociais,
etc., etc., etc.!
Porque é que falo disto… num texto
sobre comunicação? Porque a comunicação na igreja e da igreja não pode ter como
pano de fundo o “ser melhor do que” ou “fazer melhor do que”, mas “fazer o
melhor para O melhor, sempre melhorando”. A intenção com que o fazemos é, para
Deus, mais importante do que a forma xpto como o fazemos. Não sou apologista de
fazer as coisas em cima do joelho ou que “qualquer coisa” serve. Não! Contudo
quando tiramos os vídeos, os posts, os cartazes, as luzes, o que fica? Ficamos
nós. E é aí (em nós) que Deus deseja reinar para que, usando os dons, talentos
e meios que temos à nossa disposição, focados Nele e não em nós, possamos servi-Lo
e servir os outros, até que todos e cada um possam escutar a mensagem mais importante
que temos para transmitir - o Evangelho.
Vamos dar graças a Deus pelos
bons exemplos de comunicação que podemos conhecer. E vamos procurar melhorar o
que estamos a fazer, adaptando-nos às necessidades. E se precisamos de ajuda,
vamos procurar. E procurar as pessoas que estão connosco e que podem servir
nestas áreas. E sermos planeados e organizados, respeitando-nos uns aos outros
quando trabalhamos em equipa.
Foto: Hannah Busing - Unsplash
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