Torturado por amor a Cristo

A frase que escolhemos para o editorial é talvez conhecida. Trata-se do título da obra de Richard Wurmbrand, o fundador de A Voz dos Mártires, que conta a sua passagem pelas prisões da antiga União Soviética. Durante esses 14 anos o pastor romeno ficou firme na fé, apesar da tortura a que foi sujeito simplesmente por ser cristão.

Algumas décadas depois, Wurmbrand viu cair os muros que impediam a propagação do Evangelho nesses países. Hoje, as pressões são outras nessas regiões, mas ser cristão continua a ser um desafio um pouco por todo o mundo – de uma forma mais ou menos subtil, da pressão social, à difamação passando pela opressão, prisão, tortura e mesmo morte.

É por isso que ao lembrarmos o Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura, recordamos necessariamente os cristãos. As estatísticas dizem que um em cada sete cristãos foi perseguido e discriminado em 2022. São mais de 360 milhões, dos vários ramos da Cristandade, provenientes de 76 países.

Damos graças a Deus por ministérios como A Voz dos Mártires e Portas Abertas que dão voz aos que não se podem muitas vezes identificar pelo risco de vida, apoiam esses heróis sem rosto e estão na linha da frente, apelando às orações de todos. Eles são o suporte de muitos maltratados, injustiçados e torturados por amor a Cristo, literalmente.

No Sermão do Monte, onde Jesus apresenta as linhas mestras do discipulado, Ele inclui as seguintes palavras: “Felizes serão quando forem insultados, perseguidos e quando proferirem todo o mal a vosso respeito, com mentira, por serem meus discípulos! Alegrem-se com isso! Sim, regozijem-se, porque vos espera lá no céu uma enorme recompensa! Lembrem-se que também os profetas de antigamente foram assim perseguidos.” (Mateus 5:11-12, OL)

O contexto desta declaração são as Bem-aventuranças ou Beatitudes – características do caráter dos discípulos de Jesus, completamente antagónicas à forma de pensar da sociedade em que se inserem. E antes de avançar nas instruções aos Seus seguidores, Jesus avisa “quando forem insultados, perseguidos (…) por serem meus discípulos!” Ser verdadeiramente seguidor de Jesus implica algum tipo de pressão ou perseguição – não há volta a dar.

O Novo Testamento regista essa realidade – desde a génese da Igreja -, quer em Atos dos Apóstolos, quer nas epístolas. Recordemos apenas Pedro, Estêvão, Tiago e Paulo, que perseguiu os cristãos, mas que após se converter, por amor ao Evangelho foi muitas vezes “preso e açoitado, e enfrentado a cada instante a morte. (…)” (2 Coríntios 11:23b, OL).

É certo que tudo devemos fazer que esteja ao nosso alcance para ajudar aqueles que passam por situações injustas pela simples razão de seguirem a Cristo. Mas também é certo que enquanto vivermos neste mundo, teremos de lidar com o efeito nefasto que o pecado gera nos corações e cujas consequências estão visíveis em atitudes das mais diversas – e isso inclui a pressão e perseguição aos que não negam o seu Salvador.

Torturados por amor a Cristo? Darmos a vida por Ele? Numa época como a nossa, estaremos dispostos a isso? Como podemos ser felizes, bem-aventurados? Na verdade, podemos chorar e sofrer, mas a nossa alegria interior permanece. Ele promete estar connosco em todos os momentos. Sabemos que Ele já venceu…, mas aguardamos que regresse. Sendo a nossa vida aqui uma passagem, espera-nos um dia estarmos na presença do Rei do Reino – a maior e melhor recompensa que poderíamos achar.

“E ouvi uma voz muito forte, que vinha do trono, dizendo: ‘Eis que a morada de Deus é agora entre o seu povo! Ele habitará com eles e eles serão o seu povo. Deus mesmo estará com eles. Limpará de seus olhos toda a lágrima e não haverá mais morte; nem haverá tristeza, nem choro nem dor. Tudo isto pertence, para sempre, ao passado’. E o que estava sentado sobre o trono disse: ‘Estou a fazer tudo de novo!’ E dirigindo-se a mim acrescentou: ‘Escreve o que te vou dizer, porque são palavras verdadeiras e dignas de toda a confiança.’ E depois disse: ‘Está tudo cumprido! Eu sou o Alfa e o Ómega, a origem e o fim. Àquele que tem sede, darei de graça a beber da fonte da água da vida! O que vencer receberá o benefício de todas estas coisas. E eu serei o seu Deus e ele será meu filho’.” (Apocalipse 21:3-7, OL)

Ana R. Rosa

in revista Novas de Alegria, junho 2023

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