Saúde Mental, não me levem a mal!
Por todo o lado fala-se da saúde mental. Nunca se fizeram tantos estudos, se escreveram tantos livros nem se alertou tanto para a necessidade de prevenirmos e cuidarmos da saúde mental.
Nos últimos anos, nas nossas revistas Novas de Alegria,
BSteen e Boa Semente, temos falado acerca de saúde mental em
diversas vertentes e para diferentes públicos-alvo. Não me levem a mal falar de
novo em Saúde Mental. Não sou expert na área. Só alguém que lida com
ansiedade, que teve um filho que passou por desafios e que já viu e ouviu muita
coisa nesta vida. Então, deixo aqui apenas o meu alerta... Este artigo não é um
apontar de dedos, mas alguns pensamentos soltos para cada um de nós refletir.
Começamos por pensar em alguns mitos que andam por aí…
MITO 1: os crentes “carnais” ou que “caíram em pecado” são
os únicos com problemas na área da saúde mental
As doenças físicas e mentais são um resultado da Queda e do facto de ainda estarmos neste mundo (Romanos 3:23), logo, não podemos dizer que um problema do foro mental é sinal de que alguém caiu em pecado.
“Enquanto Jesus caminhava, viu um homem que era cego de
nascença. ‘Mestre’, perguntaram-lhe os discípulos, ‘porque foi que este homem
nasceu cego? Por causa dos seus pecados ou por causa dos pecados de seus pais?’
‘Nem uma coisa nem outra’, disse Jesus, ‘“mas para nele se mostrar o poder de
Deus.’” (João 9:1-3, OL) Jesus lidou com questões parecidas… a pergunta era
acerca de um cego de nascença, mas poderia ser acerca de alguém com Esperto de
Autismo, Trissomia 21 ou outro. A Bíblia tem inúmeros Salmos em que podemos ver
situações recorrentes de tristeza, ansiedade, etc. Não esqueçamos Elias que
passou por um período depressivo ou de Jeremias, conhecido como “O Profeta
Chorão”.
MITO 2: procurar ajuda na área da saúde mental é sinal de
fraqueza espiritual.
Outra mentira que precisamos combater a todo o custo. As
mentiras de que a saúde mental não é importante e que procurar ajuda é sinal de
fraqueza têm sido ferramentas que o inimigo tem usado para levar cristãos -
incluindo pastores e líderes - a destruir as suas vidas e infelizmente até a
acabar com elas. Sim, devemos procurar fortalecer a nossa fé e amadurecer
espiritualmente, mas isso não significa que sejamos imunes a passar por
desafios nesta área, nem que somos “super-crentes” e não precisamos de ajuda. A
Bíblia mostra que como Igreja temos a obrigação de nos ajudarmos mutuamente nas
mais diversas circunstâncias. Inclusive, quando estamos desanimados. O apóstolo
Paulo, por exemplo, escreveu uma carta inteira a uma igreja que precisava de
ânimo: a Epístola aos Filipenses.
O QUE NÃO DEVEMOS FAZER
Se conheceres alguém na igreja a lidar com algum problema do
foro mental, ou que seja pai ou mãe de alguém nessa situação:
- Não faças diagnósticos que não tens formação para fazer.
- Não ignores, diminuas ou amplies a situação.
- Não digas 'eu compreendo' se nunca passaste por uma
situação semelhante.
- Não faças julgamentos precipitados em relação à vida
espiritual da pessoa nem quanto ao modo de gerir a situação.
O QUE DEVEMOS FAZER
Quando te deparares com alguma pessoa numa das situações que
descrevi:
- Ouve e aconselha a procurar ajuda junto de alguém com
maturidade espiritual e também alguém profissionalmente habilitado para diagnosticar
e ajudar.
- Ora de forma consistente e partilha isso com a pessoa,
procurando pontualmente demonstrar o teu cuidado.
- Se tiveres confiança, pergunta delicadamente se precisa de
ajuda prática - boleia para consultas, refeições, limpeza e arrumação, tratar
da roupa, etc. - pode precisar e ter vergonha de pedir.
- Faz tudo com sigilo e com o objetivo de ajudar e não de
ter crédito, fazer conversa ou outra intenção qualquer.
- Respeita os limites da pessoa – não forces nem pressiones.
SE LUTAS COM QUESTÕES DE SAÚDE MENTAL
- Procura ajuda e deixa-te ajudar por conselheiros
espirituais sábios.
- Procura ajuda profissional - psicólogos e psiquiatras têm
formação e conhecimento para te diagnosticar e ajudar, complementando a ajuda
espiritual.
- Não deixes de orar nem de ler a Bíblia mesmo que não seja
muito tempo - lê o livro de Salmos, por exemplo, que tem orações a Deus em
situações de fragilidade, tristeza, preocupação etc.
COMO IGREJA
A Igreja precisa ensinar, ajudar e acompanhar, em vez de ignorar, julgar ou apenas opinar. A Igreja sou eu, és tu, somos nós, o Corpo de Cristo. Ansiedade, depressão, esgotamento, distúrbios e perturbações não acontecem só 'aos outros '. Acontece connosco, com a nossa família, amigos e igreja. Procurar ajuda é sinal de força e não de fraqueza. Somos um só Corpo e precisamos (devemos!) cuidar uns dos outros TAMBÉM na área da saúde mental.
“Posso todas as coisas naquele que me fortalece. Todavia, fizestes bem em tomar parte na minha aflição.” (Filipenses 4:13-14)
“Que o Deus da paz vos torne totalmente perfeitos e
conserve irrepreensível todo o vosso ser, espírito, alma e corpo, até à
vinda de Jesus Cristo, nosso Senhor.” (1 Tessalonicenses 5:23, BPT,
sublinhado da autora)
Ana R. Rosa
in revista Novas de Alegria, junho 2025
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