Quando o prazer é uma prisão

 A dependência da masturbação e da pornografia

 
É um facto inegável que a promoção e disponibilização de conteúdos eróticos, sugestivos de algo mais que curiosidade com a anatomia humana, tem aumentado em todos os meios: televisão e Internet à cabeça. O prazer físico e íntimo saltou para as páginas da frente dos media, quando outrora era reservado a recantos menos visíveis.

 

CINQUENTA SOMBRAS DE PERDA DE INTIMIDADE

Resolvamos de início uma espécie de tabu que (ainda) perdura (erradamente) na mentalidade cristã atual: o prazer sexual não é um erro, não é pecado, não está vedado ao ser humano. O livro de Cantares de Salomão, seja interpretado de modo literal ou alegórico, é um comprovativo disso mesmo. No entanto, há momentos e condições próprias para isso acontecer. Esses momentos e condições resumem-se a um estado definido por Deus e que é o do casamento. O homem e a mulher tornam-se num quando consumam o ato sexual (Mateus 19:5-7, Marcos 10:7-9). São palavras do Génesis, recordadas e citadas por Jesus, que não são sugestão, mas sim a repetição da vontade de Deus para o Homem na área da intimidade e do estabelecimento da família (Provérbios 5:18,19 e 18:22; 1 Coríntios 7:3-5 e Hebreus 13:4).

À parte disso, todo o envolvimento sexual que exista, seja ele a consumação do ato físico, seja a masturbação, está afastado do plano de Deus. Entra-se numa espiral de perda de intimidade para a procura do ganho da sexualidade. São as obras da carne (Gálatas 5:19-21) em ação… O grande problema, é que sexualidade ganha fora da orientação de Deus é equivalente a qualquer outra coisa feita fora da orientação, vontade, tempo, meio, etc., divinos. É um problema para o ser humano (Provérbios 3:7 e 14:12), que não sendo tratado, vai entrar num leque de cinquenta (ou mais) sombras de cinza, onde (invariavelmente), aparecerão todas as possíveis justificações para validar o nosso comportamento (Juízes 17:6 e 21:25; Provérbios 28:26; Tiago 1:14,15).

 

UMA CULTURA DE PUREZA DESPUDORADA

E aqui, entramos no que podemos considerar uma normalização da ausência da cultura de pureza, para uma sociedade onde a promoção da sensualidade, da sexualidade, em nome de uma suposta liberdade de escolha, são impostas de modo cada vez mais explícito ou gráfico.

 

Creio que parte deste problema se resolveria se ao invés da negatividade com que se aborda a sexualidade, se explicasse que a visão cristã (que tem forçosamente de ser a declarada por Deus) para a mesma não é a de castração ou de um celibato maldoso (nunca esquecendo que existem pessoas sem uma tendência natural para com o desejo sexual e outras que optam por abdicar desses desejos em prol do Reino de Deus, conforme Mateus 19:12), não é a de considerar a sexualidade (atempada) um pecado ou um tumor em crescimento na sociedade por causa da queda no Jardim do Éden, mas sim algo belo, desejado por Deus. E dentro desse belo desejo divino para o Homem, há substancialmente mais a ganhar se seguirmos a vontade Dele do que se nos basearmos nos nossos instintos primordiais (Romanos 6:12 e 13:14; Gálatas 5:16,24; Colossenses 3:5,6).

Mas o que é que se ganha? Em primeiro lugar, o experimentar a sexualidade nos moldes para a qual foi criada. Em segundo, o não viver dentro de um padrão que muitas vezes é um escape para outras questões não resolvidas (traumas derivados de abuso físico e psicológico por parte de pais ou tutores, sentimentos de isolamento social involuntário provocado pelo bullying virtual ou físico, ausência de apoio no lidar com problemas de identificação sexual, resultado do consumo e abuso de substâncias, etc.). Em terceiro lugar, a compreensão de que a sexualidade dentro do padrão de Deus traz prazer e que isso é saudável e natural, além de bom. Quarto, a compreensão de que a hipersexualização da sociedade é a antítese da vontade de Deus (não só em termos sexuais, mas mesmo sociais) e de que a mesma alimenta uma indústria (sem aspas, pois muitas vezes quem está neste tipo de meio é tratado como um componente ou uma peça que apenas serve para atingir um fim) pornográfica ou da prostituição. Esses são meios que muitas vezes estão associados ao tráfico e exploração humana, onde a imagem e semelhança de Deus são corrompidas além do que é expectável, por um afastamento progressivo do Homem e abandono seu em relação a Deus. E mais poderíamos acrescentar como benefícios de viver a sexualidade de forma conectada com Deus e não com padrões humanistas e hedonistas.

 

PORNO-GRAFICA-MENTE

Mas se a sexualidade conectada com Deus é boa, por que motivo é que o ser humano se distancia dela? O principal problema é o pecado (Génesis 4:7; Isaías 59:2), que leva a uma disseminação de todo o tipo de comportamentos e situações opostas a Deus (1 João 2:16). Essa disseminação gera-se porque há um afastamento da criatura para fora da órbita do Criador. Paulo escreve isso mesmo aos crentes em Roma (Romanos 1:20-27 e 3:23,24).

A mente humana vê os seus circuitos serem alterados e religados em pontos que não são os melhores, procurando a representação visual do sexo, para prazer próprio e egoísta. E quando a mente não vê com os olhos do Espírito, aquilo que vê é algo que lhe mente (1 Coríntios 2:14). Na verdade, a masturbação e a pornografia tornam-se prisões para quem se alimenta delas, julgando que elas são um recurso para usufruto pessoal. Não há a santidade do matrimónio envolvida no processo, nem sequer a geração de descendência. Há apenas uma via de busca de prazer próprio e que em vários sentidos vem denegrir a imagem que Deus coloca no ser humano (Gênesis 2:7), transformando as pessoas que estão presentes nessas atividades em nada mais do que “coisas”, que têm como objetivo uma satisfação de uma excitação momentânea, que a longo prazo vai criar danos no nosso relacionamento com Deus e os outros, sobretudo quando são questões não resolvidas e arrastadas para dentro de namoros e matrimónios, mesmo no meio cristão.

Num paralelo, a pornografia e a masturbação, tornam-se substâncias que como o álcool, psicotrópicos ou químicos, criam uma habituação, uma dependência, que começa com uma dose menor, mas que à medida a que o organismo consome e gera habituação às mesmas (substâncias), necessitam de uma dose maior e mais arrojada. É a chamada “lei da sementeira” levada para o campo físico e exemplificada diariamente (Gálatas 6:7).

 

CONFESSAR, CLAMAR, CAMINHAR

Nem tudo é negro, nem carregado de entropia ou destinos trágicos escritos pela nossa mão. Na verdade, Deus está sempre disposto a acolher o pecador, motivo pelo qual o Senhor Jesus veio dar a Sua vida e ressuscitar (João 3:16,17; 1 João 3:19,20). As prisões que a pornografia e a masturbação criam, são desfeitas pelo poder do Evangelho, para que com confissão dos nossos pecados e problemas (1 João 1:9), clamemos a Deus por socorro (Salmos 22:5; Jonas 2:9 e Amós 5:4) e mudemos de vida, caminhando com Ele em santidade (1 Coríntios 6:12, 10:23; Hebreus 12:14) e seguros de que para quem está em Cristo consegue superar as tentações graças ao Seu amor, graça e poder (Filipenses 4:13).

 

 

Ricardo Mendes Rosa


in revista Novas de Alegria, outubro 2025


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