Discipu(lado)
Quando nascem, os bebés são a
alegria dos pais e do resto da família. No primeiros dias, recebem montes de
presentes, elogios e comparações “Eu acho que parece com o pai!” “Tem o nariz
do bisavô”. Os recém-nascidos choram “baba e ranho” e mesmo assim
continuam a ser as estrelas do momento. Têm toda a atenção, todo o cuidado,
todo o carinho.
O facto é que, infelizmente, nem todas
as crianças nascem nesse ambiente. Nem todos os pais têm condições para dar um
inicio de vida sorridente aos seus filhos.
Além disso, há bebés que são
abandonados pelos seus progenitores. Em Portugal esta atitude é punida por lei,
mas não é assim em todo o mundo. Por exemplo, em alguns hospitais da Alemanha1,
existem compartimentos envidraçados onde as mães colocam os bebés “indesejados”.
Depois, soa um alarme e as enfermeiras vêm recolher os recém-nascidos. Segue-se
um processo até chegarem à adopção.
Não pretendo discutir acerca da melhor
solução para este problema, nem é meu objectivo explorar as causas desse
“abandono voluntário permitido”. O que me faz escrever é o paralelismo com
aquilo que se passa, por vezes, na igreja.
Este texto é, antes de mais, uma
reflexão pessoal acerca do modo como tenho vivido o discipulado. Convido-vos a
pensar nisto comigo.
Quando alguém recebe Jesus como seu
salvador, como estamos a receber o “bebé”? Um abraço no final da campanha ou
uma palavra do conselheiro para falar dos horários dos cultos.. e pronto?!
Ouvimos os nossos avós e pais a dizer
que noutro tempo as igrejas eram mais unidas e as pessoas interessavam-se em
ajudar os novos convertidos a ganhar firmeza. Hoje, os sociólogos falam de
individualismo, famílias destruturadas e isolamento. Acontece na sociedade e
aparece na igreja – especialmente no discipulado dos novos crentes.
O discipulado precisa ser ensinado,
estruturado e vivido. Antes de mais, acordar para a necessidade em acompanhar o
outro. Depois, explicar como fazê-lo. A boa intenção e sentido de
responsabilidade, por parte dos crentes, associados a uma formação técnica de
base bíblica nesta área, facilitada pela liderança, são o “casamento perfeito”.
Se abandonarmos os novos convertidos
estamos a ser como pais negligentes. Não podemos desculpabilizar-nos,
entregando essa tarefa apenas à liderança e “lavar as mãos” daquilo que a Bíblia
dá a todos como responsabilidade. Eles são bebés espirituais que precisam do
nosso carinho e paciência. Cabe a todos nós a tarefa de lhes pegar ao colo,
ajudar a levantar quando caem, socorrê-los quando choram. Cabe-nos estar lado a
lado.
“Aqueles que creram (...) juntaram-se
aos outros crentes, participando regularmente no ensino administrado pelos
apóstolos, na união fraterna, no partir do pão e nas orações (...) Cada dia
adoravam juntos no templo; reuniam-se em pequenos grupos familiares para celebrar
a comunhão, e tomavam as refeições em comum.” (Actos
2:41,42, 46 – versão O Livro)
Ana Ramalho
1
Fonte:
www.euacontacto.com
in revista Novas de Alegria, Março 2008
Comentários