Mais do que um “bom som”
Música, adoração e evangelismo
A música faz parte do nosso
dia a dia. Desde crianças que temos a música como pano de fundo de
brincadeiras, festas e comemorações. Isso continua por toda a vida!
Os sons que nos rodeiam são aquilo que
nos ajuda a identificar o tipo de meio de transporte, instrumento, a identidade
de determinada pessoa, o nome deste ou daquele animal. A própria natureza é uma
orquestra que Deus criou, para O adorar. Nós, humanos, beneficiamos dessa
melodia que reflecte a admiração pela grandeza do Criador.
A
música na Bíblia
A música aparece também ao longo de
toda a narração bíblica. Desde Génesis até a Apocalipse vemos: construtores de
instrumentos, músicos, poetas, compositores, corais de anjos, entre outros.
Deus escolheu, dentro do Seu povo, uma tribo especial para se dedicar ao
ministério do louvor e adoração, através da música como base para uma letra
apropriada.
O livro que está no centro da nossa
Bíblia, é uma colectânea de letras de músicas – os Salmos. Algumas são orações,
súplicas, outras exprimem exaltação e adoração. Alguns cânticos transmitem as
grandezas de Deus na criação. Outros falam daquilo que o Senhor fez ao salvar o
Seu povo. Umas festejam as colheitas, outras apontam para o Messias.
No Novo Testamento, apreciamos que
Jesus depois de tomar a última ceia com os discípulos cantou “um cântico”1. Paulo e Silas quando estavam presos,
cantavam2. No último livro da Bíblia somos surpreendidos por coros
de anjos, coros de pessoas3.
Adoração
e música
Adorar significa prestar total
homenagem a Deus, reconhecendo a Sua soberania, poder e majestade, na nossa vida,
como um todo4. Acima de
tudo, é um estilo de vida coerente com o novo nascimento, em retribuição e
rendição à Sua grandeza. Não significa, necessariamente, utilizar instrumentos
musicais e vozes, mas estes também estão incluídos como uma das formas de expressão
dessa adoração. A adoração está intrínseca na oração. Quando conversamos com
Deus, entre todos os ingredientes que utilizamos, a expressão da adoração está
presente. O exemplo desse princípio está na oração-modelo que Jesus ensinou aos
discípulos5.
A poesia, nas nuances dos seus
conteúdos, aliada à melodia, compõe hinos que expressam o sentimento do
adorador, em coerência com o seu estilo de vida. As músicas adequadas a adorar,
mais calmas e apropriadas à meditação, ajudam a envolver espírito (o nosso
coração), alma (as nossas emoções) e corpo (os nossos membros, a nossa postura)
no acto de reverenciar a Deus6. Se no louvor há uma demonstração de
alegria e entusiasmo por aquilo que Deus faz, os quais também se manifestam
através das formas de interpretação musical, na adoração existe a
consciencialização daquilo que Deus é – facto que causa esta veneração e honra.
No texto, o poeta ou compositor aborda
Deus e os Seus atributos, como o cerne da construção poética. Não se suplica
nada a Deus, excepto a Sua contínua presença nas nossas vidas, pela nossa
necessidade intrínseca, como Seus filhos de estar Nele, estar com Ele e
depender Dele. Meditar nas Suas qualidades imutáveis é o bastante para
preenchermos páginas de poemas, limitados pela nossa natureza humana, mas
ilimitados no assunto inesgotável – Deus.
O grande compêndio de hinos de adoração
é o livro dos Salmos, mas outros estão espalhados as páginas da Bíblia Sagrada.
Em todo o tempo, os filhos de Deus O adoraram – com as suas vidas, com as suas
palavras e melodias7.
A
música como ferramenta de evangelismo
Sem dúvida que a música é um valioso
instrumento na obra de Deus. Falo não apenas como forma de adoração, mas como
ferramenta de ensino e evangelização. Se os autores dos Salmos usaram músicas
para, em conjunto com aqueles poemas, expressar quem Deus é e aquilo que Ele
faz, hoje temos o mesmo meio para utilizar na propagação do Evangelho à escala
local, regional, nacional ou mesmo mundial.
1. Música e letra contextualizada Podemos passar
a mensagem da salvação que há em Jesus para as pessoas, com uma linguagem
melódica que lhes seja familiar, contextualizados com a sua cultura. Ao mesmo
tempo a linguagem da letra deve estar ao nível dos nossos ouvintes. Não podemos
comunicar eficazmente em inglês com alguém que só compreende o espanhol. Da
mesma forma, a nossa evangelização não será efectiva se utilizarmos um
vocabulário complicado, de cariz religioso. Podemos sentir-nos abençoados ao
cantar essas letras, mas a mensagem importante – que as pessoas não salvas
necessitam ouvir – não alcança vidas. A música é um auxílio tremendo para
evangelizar quando é algo de comum entre cristãos e pessoas não alcançadas. Se
temos uma sonoridade, um ritmo que é familiar ao grupo de pessoas que queremos
alcançar, teremos uma abertura mais provável da parte deles para escutar aquilo
que temos para dizer. Também é possível utilizar expressões locais e adaptá-las
no evangelismo através da música. Paulo utilizou esse método ao referir-se a
poetas helénicos, não num poema mas num discurso. A sua pregação foi buscar
pontos comuns com o público que o escutava no Areópago8.
2. Música e estado de espírito Além disso, os
sons influenciam o estado de espírito dos ouvintes. Se estivermos sujeitos a um
tipo de som violento e assustador, isso terá as suas repercussões no nosso
ritmo cardíaco e sistema nervoso. Uma canção alegre, com uma letra apelativa
pode ser um meio óptimo para que a letra comece a entrar no ouvido, para que
Deus depois entre e toque onde nós não somos capazes - no coração9.
3. Música e mensagem As palavras podem ser simples, mas a
mensagem deve ser grande. Bill Bright diz no seu livro “Testemunhando sem medo” que “o
sucesso do testemunho está em fala de Jesus, no poder do Espírito Santo,
deixando os resultados com Deus”. Penso que o princípio, que é bíblico, se
aplica quando a ferramenta para testemunhar ou evangelizar, é a música. A nossa
mensagem deve ser centrada na pessoa de Jesus, na Sua obra expiatória, que
garante aquilo que os perdidos necessitam – vida abundante, vida eterna,
através da salvação que Cristo, e só Ele, dá10.
4. Música e ciber-evangelismo Hoje, existem
formas de colocar a música cristã na internet,
através de um podcast. É possível
escutá-la num leitor de mp3, enviar
para amigos através do e-mail,
colocar num blog pessoal, numa página
web de uma igreja. Fazê-la chegar
através de um vídeo-clip on-line,
entre muitos outros.
Em
conclusão
Quer seja como forma de adoração dos
cristãos ou como ferramenta para espalhar o Evangelho, a música tem uma
utilidade imensa. Bem utilizada e contextualizada, será de bênção tanto no seio
da igreja como entre os sedentos pela Fonte da Vida – Jesus.
Ana Ramalho
1 Mateus 26:30
2 Actos 15:25
3 Apocalipse
7:9; 19:1; 19:6
4 1 Coríntios 10:31
5 Mateus 6:9 a
13
6 1 Coríntios
6:20
7 Salmo 34:1
8 Actos 17:22 a
34
9 Hebreus 4:12
10 1 Coríntios
1:23
in revista Novas de Alegria, suplemento
NAJovem, Março 2008
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