Ser ímpar...
Um. Ímpar. Por opção ou simplesmente pelo percurso de vida, cresce o número de ímpares na sociedade e na igreja.
Há alguns meses organizei um jantar com
algumas pessoas ímpares, como eu. Quem são os ímpares? Solteiros, divorciados,
viúvos. Aqueles que têm mais tempo livre (normalmente) e mais
disponibilidade... até para se deixarem envolver pela solidão.
Depois de algumas conversas, começámos
a falar sobre como nos sentíamos em relação às outras pessoas, à igreja, à
forma de gerir e programar a nossa vida. Foi muito interessante perceber
algumas coisas que tínhamos em comum, apesar das diferentes situações em que
nos encontrávamos.
Quando os amigos crentes casam e alguém
do grupo fica solteiro mais um tempo, independentemente das razões, começa uma
fase de isolamento inconsciente. Ninguém faz por mal, porque cada família tem o
seu espaço e a sua vida... mas “acaba o culto, cada um vai para a sua casa... e
nós também não temos grande alternativa...”.
Outra questão apontada foi o facto de
se mudar de residência por questões profissionais e ter dificuldade em se
integrar numa nova igreja... afinal “nós é que chegámos lá. As pessoas já têm o
seu grupo de amigos...”
Quando se passa por uma situação de
divórcio, muitas vezes o peso da condição em si e o sofrimento do próprio,
levam a que as outras pessoas tenham receio de falar, de suscitar algum tipo de
mágoa ou abrir uma ferida que a pessoa está a tentar sarar. Então evitam
conversas mais longas.
A questão de não se receber convites de
amigos cristãos para ter um pouco de lazer, de ter mais tempo de comunhão com
amigos/colegas fora da igreja, de muitos eventos da igreja serem mais
direccionados para adolescentes ou jovens mais novos, a própria ideia de ser
rotulado, até à pressão social aliada à falta de motivação em fazer algo para
mudar... tudo isto acaba por criar oportunidades para a pessoa se desligar da
igreja, porque se sente só.
Como já passei por alguns destes
cenários, posso dizer que é muito fácil baixar os braços e abandonar a ideia de
lutar pela sociabilização, na igreja. Também sei que somos muito preguiçosos em
abrir o nosso grupo de amigos a novas pessoas... e, muitos de nós, tímidos em
tentar aproximar-nos de outros... mas não é preciso desesperar!
Não
há receitas mágicas, mas há alguns princípios que nos podem ajudar. A nossa
prioridade deve estar no relacionamento com Deus... é Ele que nos dá a força
necessária em todos os momentos da vida, incluindo os de solidão. Depois,
ser-se proactivo – ou seja, procurar fazer novos amigos ou recuperar antigas
amizades... Beber um café, combinar ir às compras, almoçar, etc. Envolver-se em
projectos da igreja – é uma forma de conhecermos outras pessoas.
Finalmente, compreendermos que ser
igreja não é “fazermos coisas”, mas ser família acima de tudo... como família,
pensar em formas de integrar as pessoas, independentemente de serem ímpares ou
não...
No final do jantar, pessoas que pouco
se conheciam estabeleceram algum tipo de contacto, outras recuperam algum tempo
de distância... imagina o que seria se em cada igreja alguém que é ímpar
começasse a preocupar-se?
“Assim,
dou-vos agora um novo mandamento: que se amem uns aos outros. Como eu vos tenho
amado, assim devem amar-se uns aos outros. O vosso amor uns pelos outros
provará ao mundo que são meus discípulos.” (João 13:34-35, versão “O Livro”)
Ana
Ramalho
in
revista Novas de Alegria, suplemento NAJovem, Novembro 2009
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