“A felicidade vem de dentro”? [1]
“Se
isso te faz feliz, então não pode ser tão mau”2 diz a canção, mote
para o anúncio e para a mentalidade que nos mobila a sociedade e decora os
media.
Embrulhámos a felicidade numa
camuflagem de prazer. Criámos um mundo no qual as sensações têm uma voz mais
ativa que os valores morais. Os princípios que nos regem são os fins, sem
escrúpulos nos meios.
Aquilo que nos faz sentir bem é mais
importante do que aquilo que é bom, verdadeiro, correto. Parece que aquilo que
nos dá prazer é sempre aceitável, mesmo que cause sofrimento no outro e nos
afaste das nossas origens mais profundas – nos afaste de Deus.
Se alguém se cansa do casamento que tem
e prefere viver uma traição, numa
espécie de aventura que aclama as emoções ao trono dizemos “se isso te faz
feliz, então não pode ser tão mau”. Não importa a dor do marido ou da mulher,
as marcas que deixamos nos filhos.
Se nos viciamos no jogo, e gastamos o
que temos e não temos pela adrenalina da competição, ouvimos “se isso te faz
feliz, então não pode ser tão mau”. Que importa os estragos que deixamos atrás
de nós, especialmente naqueles que mais amamos?
Se estamos numa posição de poder, e
podemos manipular pessoas, porque não usar os nossos conhecimentos para benefício
próprio? Podemos criticar os outros, mas quando é a nossa vez, pensamos “se
isso te faz feliz, então não pode ser tão mau”.
Tentamos, à nossa maneira, alimentar os
nossos desejos mais íntimos, numa espiral de experiências que se desgastam em
pouco tempo. Não chega. Queremos mais. Do outro lado da moeda estão aqueles que
desistem de tentar, de viver, de acreditar, ao olhar para o universo de opções
limitadas e para o passado de felicidades falhadas.
Procuramos alimentar o interior com
estímulos de fora, do mundo ao nosso lado. Mas, se a felicidade vem de dentro,
porque é que nos sentimos infelizes, por mais positivistas que tentemos ser?
Porque é que sentimos que temos tudo mas falta sempre “qualquer coisa”?
Aquilo que nos satisfaz,
verdadeiramente, e que dá sentido à vida, não está dentro de nós nem ao nosso
lado. O Pão que sacia a alma todos os dias vem de cima. Jesus disse “Eu sou o pão que dá vida. Os vossos
antepassados comeram o maná no deserto e morreram, mas aqui está o pão que
desceu do Céu para que quem dele comer nunca morra. Eu sou esse pão vivo que
veio do Céu. Quem comer deste pão viverá para sempre. Mais ainda! O pão que eu
hei de dar é o meu corpo oferecido para que o mundo tenha vida.” (João 6:
48-51, versão “A Bíblia para Todos”)
A nossa alegria interior é alimentada
por este Pão da vida, o Pão que vem de cima e que nos dá a verdadeira razão de
viver. Todas as outras alegrias e felicidades dependem desta - os nossos
relacionamentos, aquilo que temos, as metas que alcançamos, resolvermos o passado,
gerirmos o presente e termos esperança para o futuro.
A
verdadeira felicidade não vem de dentro – vem de cima, de Deus.
Ana
Ramalho Rosa
1
Slogan do anúncio da IKEA; 2 Tradução livre do título
da música “If that makes you happy, it can’t be that bad” de Sheryl Crow,
presente no mesmo anúncio.
in
revista Novas de Alegria, maio 2012
Texto escrito
conforme o novo acordo ortográfico
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