Cicatrizes
As
marcas que ficaram. Os sinais que permaneceram. As lições que se escreveram na
pele, no coração, na memória.
Cicatriz
do tempo, da vida, das vertigens desencontradas no nosso momento de erro
obscuro, do mal que entrou por outros na nossa fita, do plano desenquadrado que
nos riscou, feriu, azedou... Mas que passou.
Quando
as vejo lembro-me que já foram feridas e cortes. Quando tropecei
incautelosamente. Quando me magoaram abruptamente. Quando o descuido irrompeu
sem airbags preventivos. Quando o vidro fez o rasgo pontiagudo
da dor.
Algumas
mágoas foram saradas com paciência e dependência, aos Teus pés, em longas horas.
Tempos de crescimento e maturação da minha frágil capacidade de ser totalmente
Tua. Outros rasgos fecharam-se em copas com as ligaduras do medo, da
introspeção, do pavor. Levaste tempo a desembrulhar-me de tudo o que me prendia
para que os pudesses sarar. Depois, com o Teu amor meticuloso e sábio,
reparaste o dano. A ferida fechou. Ficou a marca. O sinal. A lição. A cicatriz.
Quando
olho para Ti e para as Tuas cicatrizes, vejo o Teu imensurável amor, a Tua
justiça extravagante, a Tua santidade e fidelidade. Amas todos e morreste por
cada um, para que o meu ‘eu’ dominador e ditador pecaminoso fosse justificado.
És Santo e fielmente foste até ao fim com o Teu plano de viver e morrer por
mim.
Essas
marcas que tens no Teu corpo foram as feridas de onde jorrou o Teu precioso
sangue, até à última gota. São sinais clarividentes do preço imerecidamente
pago pelo meu horrendo pecado. São a maior lição que deste à humanidade:
exemplo de amor, prova de graça, da Tua magnífica graça.
Poderia
gritar aos quatro ventos que nunca lancei mão das armas do egoísmo, da
teimosia, da superioridade para me defender, para atingir os outros. Estaria a
mentir a bandeiras despregadas. Eu é que merecia o escárnio, o desprezo, a
agonia, a condenação completa. Era eu. Eu
merecia a cruz. Mas Tu foste no meu lugar. Foste até à morte. Passaste pelo
processo que deveria ter sido o meu. Vieste, com a vitória da vida. Vida
eterna. Vida em abundância. Vida plena, não apenas para mim mas para todos os
que desejarem receber-Te como Salvador e Senhor.
A
cruz e a tumba não são apenas os símbolos de uma época festiva que nos brinda o
calendário. As Tuas cicatrizes não contam apenas uma história. Elas são o
argumento final que mudou e muda a história de todos os que desejarem que os
marques como filhos do Pai, com o selo insondável do Teu Espírito.
As
Tuas cicatrizes. A minha salvação.
Obrigada,
Jesus.
Ana
Ramalho Rosa
in revista Novas de Alegria, abril 2012
Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico
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