Vazio, sujo, abandonado
Olhei
à minha volta e o sítio mais próximo que me faria deliciar com a popular “bica”
é um centro comercial de bairro, com aspeto de ter já uma boa dezena de anos. O
reclamo luminoso com o nome do empreendimento é brutalmente disfarçado por uma
grande placa com os dizeres “vende-se” e “aluga-se”.
Ao
entrar, deparei-me com umas lojas vazias, outras abandonadas, ainda com
vestígios da presença comercial que por ali passou. Uma galeria de espaços que
outrora despertavam a curiosidade dos vizinhos, onde passeavam famílias, onde
se comprava e vendia isto e aquilo. Finalmente, cheguei ao tão ansiado café –
um dos poucos sobreviventes à vaga de falências daquele espaço -, sentei-me,
pensei e escrevi.
Não
que um centro comercial semiabandonado seja uma inspiração assombrosa ou me
leve a fazer uma parábola eloquente. É porque as coisas simples da vida, com
que convivemos sem pararmos para pensar, são muitas vezes aquelas com que
podemos aprender outras coisas, mais excelentes, mais importante, e mesmo
decisivas.
A
nossa vida, quem somos, pode ser como uma loja vazia, suja e abandonada. "Existe no homem um vazio do tamanho de
Deus", afirmou o escritor russo Fiodor Dostoievski. E tinha razão. Há
um espaço que só Deus pode preencher no coração do ser humano. Um espaço que há
muito procura algo que o ocupe, mas nada nem ninguém consegue satisfazer
plenamente esse desejo e necessidade. Um vazio pronto a ser cheio, e que tantas
vezes é invadido pelos inquilinos errados. A febre do prazer, o peso do poder,
a largueza do dinheiro... passam, como passaram aqueles comerciantes e, por
isto ou aquilo, evaporaram, deixando dezenas de lojas vazias. Um vazio que só
Deus verdadeiramente preenche.
Deus
pensou no lixo que acumulámos na montra, no balcão e no armazém do nosso
coração – o pecado. E Ele resolveu preparar um plano para terminar com o nosso
vazio, o nosso abandono, o nosso lixo.
Ele
amou-nos, como estávamos, para nos tornar naquilo que Ele planeou para nós –
filhos, santos, servos e herdeiros. Amou-nos e mostrou o Seu amor, esperando a
nossa resposta...
“Nós amamos porque Deus nos amou primeiro.” (1 João 4:17,
BPT) “Mas Deus mostrou-nos até que ponto
nos ama pois, quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós.” (Romanos
5:8, BPT)
“Deus amou de tal modo o mundo
que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crer não se perca, mas
tenha a vida eterna.” (João 3:16, BPT)
“Se levarmos uma vida de luz, tal como Deus
que está na luz, temos comunhão uns com os outros e o sangue de Jesus, seu
Filho, purifica-nos de todo o pecado.” (1 João 1:7,
BPT)
Mas,
mais do que ocupar o Seu lugar no nosso coração e de projetar o único meio de
sermos Seus filhos, Deus também não nos abandona. Deus está connosco, mesmo que
em silêncio, mesmo que apenas trabalhando nos corredores e nos bastidores da
nossa história. Jesus afirmou “E saibam
que estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.” (Mateus 28:20, BPT)
Qual a nossa reposta àquilo que Deus
planeou e àquilo que Jesus fez? Ela é determinante para que tudo isto seja uma
realidade na nossa vida, embora seja uma verdade incontornável – porque quando
Deus diz alguma coisa Ele cumpre. Talvez hoje seja o dia de passar do vazio, do
lixo, do abandono, para a vida repleta do amor de Deus, limpa de todo o pecado,
nos braços d’Aquele que nunca nos deixa.
Ana
Ramalho Rosa
in
revista Novas de Alegria, agosto 2014
Texto escrito
conforme o novo acordo ortográfico
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