O livro de Job
Na ordem de composição do canon
bíblico, Job figura como o primeiro dos livros poéticos.
Não existe uma autoria consensual em
relação a este livro, sendo no entanto apontado Moisés, devido à antiguidade de
composição do livro. Segundo a tradição judaica, o livro de Job terá sido
escrito anteriormente ao de Génesis, o que reforçará a tese de que Moisés terá
redigido este relato da vida de Job.
A principal temática do livro não é
o problema do mal, nem o sofrimento do justo, muito embora sejam temas
recorrentes no mesmo. O assunto principal centra-se na questão da soberania de
Deus e no relacionamento entre o ser humano e o Criador.
Ao longo do livro somos também confrontados com a questão da justificação, um desafio a que cada leitor se avalie perante Deus tendo como pano de fundo o relato da vida de Job.
O livro demonstra-nos como um homem
reto (do hebraico – yashar) é
retificado por Deus em relação à sua própria justiça. Este livro é ainda um
exemplo de que a Salvação é um dom gratuito de Deus, não sendo meritória, nem
conquistada pelos nossos esforços (lemos sobre o problema da autojustificação
de Job em Job 32:1,21, 33:8-13).
De acordo com teólogos como Ken Boa e Bruce Wilkinson, existe ainda um paralelismo entre as adversidades
descritas em Deuteronómio 8 e as experimentadas por Job: humilhação
(Deuteronómio 8:2, Job 22:29), teste (Deuteronómio 8:2, Job 2:3), reflexão
sobre prioridades (Deuteronómio 8:3, Job 42:5,6), disciplina (Deuteronómio 8:5,
Job 5:17) e preparação para futuras bênçãos (Deuteronómio 8:7, Job 42:10).
Job foi um homem extremamente
abastado, residente em Uz. O relato indica uma tríplice descrição do seu
caráter como homem “sincero, reto e
temente a Deus” (ARC), de tal maneira devoto que sacrificava a Deus pelos
pecados dos seus filhos e filhas (Job 1:5). Isto demonstra-nos alguém cujo
relacionamento pessoal com Deus é estreito, que também ama o próximo, ao ponto
de oferecer holocausto em reparação de eventuais falhas e dívidas. Job seria
assim um homem com um coração reconciliador e santificador.
Alvo de acusações por parte de
Satanás, é permitido por Deus que Job sofra provas difíceis de suportar, na
demonstração por parte de Deus que o caráter do seu servo se manterá inalterado
e continuará íntegro (Job 1:8-10,12,21-22; 2:3-6). Na continuação da sua
provação, Job recebe a visita de três amigos (Elifaz, Bildade e Zofar) e
dialoga com eles no sentido de demonstrar que sendo justo, não deveria sofrer
semelhante prova. A estes amigos junta-se o jovem Eliú, que confronta Job e a
sua contínua autojustificação. Eliú é de resto o único interveniente deste
diálogo em grupo, pelo qual Job não tem que apresentar sacrifício (Job 42:7-9).
É Eliú que introduz a prefiguração
de Cristo como mediador e justificador (Job 33:14-30), sendo que após a sua
intervenção, é o próprio Deus que interage com Job, questionando-o sobre as
suas faculdades humanas e a sua capacidade para negar a providência divina (Job
38:2). Deus questiona ainda Job sobre a sua capacidade para criar tudo a partir
do nada (Job 38:4), definir as leis do Universo (Job 38:33) e culminando sobre
o desejo de Job em continuar a argumentar unicamente em seu favor (Job 40:2).
O relato termina com o
reconhecimento de Job de que não tem resposta possível (Job 40:6) e culmina na
sua humilhação perante Deus (Job 42:1-6). Após isto, Deus instrui os três
amigos de Job a levarem ofertas para holocausto e a serem alvo de oração por
parte de Job. No término do livro lemos a completa redenção de Job, passando a
possuir mais do que tinha perdido e vivendo ainda vários anos.
Ricardo Rosa
in
revista Novas de Alegria, fevereiro 2015
Texto escrito
conforme o novo acordo ortográfico
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