Malas e caixotes
Caixas
e mais caixas. Caixotes e mais caixotes. Mudar de casa é o “cabo dos trabalhos”.
Se
já tinha mudado de casa várias vezes em solteira e deu trabalho, agora casada e
com um filho, o trabalho quase triplicou! Parecia que não tínhamos “grande
coisa”, mas atrás da porta daquele roupeiro estava um mundo... de roupa, dentro
da gaveta da cómoda estava uma galáxia... de lençóis e nas prateleiras do
escritório um autêntico universo... de livros (muitos livros).
A
verdade é que mudar de casa envolve gerir estas e outras complicações e algumas
burocracias. Mas é uma boa oportunidade para fazermos uma “limpeza” no que
acumulámos ao longo dos anos. Dar algumas coisas que já foram úteis mas neste
momento são dispensáveis e servem apenas para ocupar espaço, tão precioso para
arrumarmos aquilo de que realmente necessitamos.
O
título de um dos meus livros preferidos, Aliviando
a bagagem, de Max Lucado, vem ao meu pensamento muitas vezes, quando faço
as malas para uma viagem ou quando fecho mais um caixote numa mudança de casa.
O título do livro diz tudo... aliviar a bagagem, tirar o que não é necessário,
retirar pesos a mais... É uma meditação inspirada nas palavras de David no
Salmo 23 que, nos primeiros versículos, afirma: “O Senhor é o meu pastor, por isso nada me faltará. Faz-me descansar em
verdes pastagens. Guia-me calmamente até ribeiros tranquilos. Dá novas forças à
minha alma. Conduz-me pelos caminhos da justiça, para que eu honre o seu nome.”
(Salmo 23:1-3, OL)
Por
vezes deixamos que outros senhores sejam os nossos pastores... outras coisas
ocupem o lugar de Deus na nossa vida. Esses hábitos, distrações, pessoas e/ou
coisas vão ser mais um peso a carregar. Sendo eles os senhores da nossa vida,
vão levar-nos para outro tipo de lugares, para outro tipo de situações. A nossa
alimentação não será aquela que nos fará melhor.
Quando
nos deixamos guiar pelo nosso ego, ou simplesmente pelo “vento” das vontades
alheias, do mundo à nossa volta, da pressão social, mais cedo ou mais tarde
vemo-nos no meio de águas agitadas e não junto a ribeiros tranquilos. Ficamos
cansados de lutar com aquilo que carregamos e vivemos... em vez de termos um
lugar onde recuperar as nossas forças – no aconchego do Pastor.
É
verdade que por vezes passamos pelo vale, sem que façamos por isso. Mas temos a
promessa que, se o Senhor é mesmo o nosso guia, o nosso Pastor, então Ele
estará connosco no meio dessas circunstâncias adversas (v. 4).
Venha o que vier, quando Ele é o nosso Pastor,
podemos afirmar que, “Sem dúvida que a
tua bondade e a tua misericórdia me hão de acompanhar todos os dias da minha
vida, e habitarei na tua casa para sempre.” (Salmo 23:6, OL)
Precisamos
abrir as malas, os caixotes do nosso coração, do nosso dia-a-dia, das nossas
escolhas e sentimentos, e deitar fora aquilo que nos tira a paz e a alegria de
viver com Cristo e para Cristo. Largar as malas da autoconfiança, do
protagonismo, do orgulho, da falsa humildade. Pôr no lixo as caixas com mágoas,
ressentimentos, ódio, maldade, falsidade, mentira, inveja, raiva e medo.
Precisamos
deixar de queremos ser guias de nós mesmos, e que Ele, o Bom Pastor, seja
aquele que nos orienta, ampara e acompanha. Jesus disse: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor sacrifica a vida pelas ovelhas.” (João
10:11, OL)
Ana
Ramalho Rosa
in
revista Novas de Alegria, abril 2015
Texto escrito
conforme o novo acordo ortográfico
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