A importância dos ministérios juvenis na Igreja
Falar sobre ministérios juvenis é sempre um desafio. Não porque seja
extensamente difícil ou algo de alto foro teológico. Mas mais pela simplicidade
com que deveriam ser encarados.
COMEÇAR PELO PRINCÍPIO
O que são
ministérios juvenis? Genericamente, são o tipo de acompanhamento, ensino e
programação de atividades para as faixas entre os 13 e os 25/30 anos. Englobam
a fase da adolescência (dos 13 aos 19, fazendo fé na definição da palavra teen, do Inglês, que é uma redução do
termo teenager) e daquilo a que
chamamos um jovem adulto (dos seus 20 anos para cima). Não é consensual, mas
pelo menos temos uma base de trabalho. Um ministério juvenil, é um grupo de
pessoas que trabalha com outras pessoas cujas idades vão dos 13 aos 35 (segundo
o que é prática corrente no nosso país, no seio das Assembleias de Deus).
Engloba a
entrada na puberdade (com todos os seus “dilemas”), acompanhada da devida
rebeldia, das hormonas em atividade acelerada, da constante necessidade de
afirmação ou segurança de grupo. Tudo isso vai desvanecendo ou ampliando,
conforme o feitio ou personalidade da pessoa. Segundo a experiência de vários líderes
de referência*, as franjas etárias entre os 9-14 anos e os primeiros anos de
faculdade são aqueles onde mais rapidamente vemos conversões a Cristo, mas onde
de seguida vemos também o maior número de afastamentos da fé. É um pouco por
isso que temos de ver a escola dominical, os ministérios juvenis e sobretudo a
prática diária da vida com Cristo (tempo de oração em família, envolvimento na
igreja local, culto doméstico) como as antíteses do que o ceticismo radical, o
pessimismo, o niilismo e outros, oferecem a este conjunto de pessoas.
PORQUÊ INVESTIR EM MINISTÉRIOS JUVENIS?
A questão
não deve ser porquê, mas sim: porque não? Demasiadas vezes colocamos a questão:
porquê? Porque é que havemos de investir em gente cujo humor muda
repentinamente, que procura muitas vezes o relacionamento mais íntimo com
elementos da mesma idade, mas fora da mesma fé? Simples. Porque precisam. Porque
não o fazendo estamos a negligenciar coisas simples que Jesus fez e deseja que
façamos, independentemente da idade. Porque é demonstrar graça vinda do Pai,
numa linguagem auditiva e visual com a qual eles se conseguem sentir
interligados…
Os
ministérios juvenis, tal como a escola bíblica dominical, não servem como
igrejas à parte da igreja local. Nunca o poderão fazer e estarem unidos debaixo
do Espírito Santo de Deus. Uma igreja local pode e deve esforçar-se por efetuar
trabalho nestas faixas etárias, de modo contextualizado cultural e
biblicamente, ou seja, perceber o que é consumido como séries, programas,
jogos, leituras por esta faixa etária e aplicar o ensino bíblico com exemplos
que diga algo a quem nos escuta. Não porque sejam incapazes ou menos
inteligentes. Mas sim porque queremos um envolvimento que desafie o seu
pensamento, de modo a que se consigam rever no que ensinamos, nos exemplos que
damos, etc. Por isso, é preciso assumir algo: um ministério juvenil não é um
fim em si mesmo. Não tem de “existir por existir”. Tem de existir para alcançar
e agarrar (aqueles que já frequentam a igreja e os que ainda não o fazem),
discipular e acompanhar (todos aqueles que forem alcançados e com quem nos
cruzemos), assim como dar oportunidade para que sirvam e sejam “lançados” com
responsabilidade, tempo e sabedoria. Dando espaço para errar, contando com as
invariáveis desistências, mas sempre e sem retroceder com fé que Deus quer,
pode e vai usar as pessoas em quem estamos a investir de modo especial.
Podemos
inspirar-nos no exemplo de Paulo e Timóteo para este serviço. Tal como Paulo
ajudou Timóteo, envolvendo-o a servir e apoiando o início do seu ministério,
encorajando-o e corrigindo-o (1ª Timóteo 4:6-16), é preciso que façamos o mesmo
com os nossos adolescentes e jovens. Não o fazer é um erro gigantesco, porque
vamos criar uma geração de cristãos imaturos, sem experiência íntima com Deus,
que não vão dar o Fruto do Espírito (Gálatas 5:22), nem procurar viver com a
ética dos Dez Mandamentos (Êxodo 20:3-17) ou ter a esperança das Bem
Aventuranças (Mateus 5:3-12). Vamos ajudar a criar crentes que já deviam comer
doutrina sólida, ser maduros e servir com zelo, mas que não o fazem porque há
da nossa parte, quem os deve acompanhar com maior objetividade e
intencionalidade, uma falha. Não investir em qualquer pessoa na igreja, muito
mais nas camadas mais jovens, é não lhes transmitir a nossa história, deixar de
lado o desafio a que o Deus dos seus pais e avós, seja também o seu Deus, não
por tradição, mas por convicção e experiência pessoal (João 8:32).
DE MÃOS DADAS E OLHOS ABERTOS
Esta é a
mentalidade que nos orienta no AD.J, o Departamento Nacional Juvenil da nossa
Convenção. Nunca agindo acima do que é o trabalho pastoral na igreja local, mas
procurando sempre com abonação pastoral (porque são os seus pastores e
cuidadores locais), estimular o crescimento destes jovens e adolescentes. Não
basta dar o peixe, temos de ensinar a pescar. Ou seja, não providenciamos
apenas eventos, mas apostamos na colaboração (incluindo a criação de recursos
próprios e formação à medida) com as igrejas locais e os seus pastores, para
que existam processos de evangelização e discipulado cada vez mais fortes. Isto
sempre tendo em vista que todos os eventos, devem ser parte integrante de um
processo. Porquê? Porque muitas vezes, os ministérios juvenis são realizados e
encarados numa perspetiva de eventos e não de processo. É preciso inverter esta
tendência. Claro, são jovens e adolescentes, são por natureza dinâmicos, dados a
dúvidas, nem sempre estáveis em termos de humor e necessitados de
acompanhamento e atenção. São filhos e filhas espirituais, não nos damos ao
luxo de os escolher, mas temos a bênção de os poder influenciar. Como é que
podemos fazer isso?
Em
primeiro lugar, trabalhando de modo colaborativo dentro da própria igreja.
Procurar que não fiquem “colados” apenas à escola dominical ou ao louvor (nada
contra estes ministérios, mas estatisticamente, pelo que o AD.J tem recolhido
recentemente, são os ministérios onde os jovens e adolescentes mais servem).
Desafiá-los a envolverem-se na evangelização enquanto prática da igreja local, na
visitação, a servirem em áreas técnicas (design,
multimédia, áudio, comunicação, etc.) e nunca, jamais, sem os estimular a ler,
estudar e dar oportunidade de partilharem a Palavra. Nem todos serão pastores
de igrejas locais, nem todos sentirão uma “chamada a tempo integral”, mas
certamente serão crentes que irão crescer de forma madura, tomar decisões
sábias e progredir pelos caminhos e desafios que Deus lhes vai lançar.
Em
segundo lugar, estimulando a sua presença e envolvimento nos eventos nacionais.
Todos os CB’s, Encontros Nacionais de Liderança Juvenil e o ENJUV têm espaço
para voluntários. Não apenas no evento em si, mas na sua preparação, dentro de
áreas tão distintas como o design ou decoração. Estimular os jovens e
adolescentes das igrejas locais a servirem nestes momentos, não é apenas mais
uma oportunidade de servir ou de conhecer novos amigos. É trabalhar para criar
um verdadeiro sentido de movimento nos seus corações e mentes. E nisto, o
exemplo tem de partir de cima.
Termino
com duas notas pessoais. Uma para mencionar dois nomes incontornáveis dos
ministérios juvenis no nosso movimento em Portugal: os saudosos pastores que já
estão com o Senhor, e que nos devem inspirar a ser sonhadores e investidores
orientados por Deus. O pastor João Hipólito, precursor dos Retiros Campo
Bíblico (hoje conhecidos como CB) e grande promotor dos congressos juvenis, e o
pastor Carlos Baptista, que esteve nas origens da BSteen e no lançamento
de várias pessoas que hoje servem na área juvenil. E uma nota final, dizendo
que alcançar, discipular e servir é algo que temos implementado quer quando
coordenava a BSteen, quer agora no AD.J com a minha esposa. Porquê?
Porque fizeram o mesmo connosco e queremos dar continuidade a esse plantar de
sementes, para que Deus nos ajude a regar, proteger e cuidar, sabendo que
podemos não ser nós a colher o fruto, mas que certamente haverá fruto do bom e
servirá para engrandecer o nome de Deus.
Ricardo
Rosa
in Novas de Alegria, fevereiro 2020
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