Dois mil anos de fé racional e ininterrupta
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Mas então, o que é um
cristão que professa o Pentecostalismo (isto é, um cristão pentecostal)? O teólogo
Robert Menzies dá-nos uma definição clara, precisa e sólida:
“Cristão que crê que o
livro de Atos fornece um modelo para a igreja contemporânea e, nesta base,
incentiva todos os crentes a experimentar o batismo no Espírito (At 2.4),
entendido como capacitação para a missão, distinto da regeneração, que é
marcado por falar em línguas, e afirma que ‘sinais e maravilhas’, inclusive
todos os dons mencionados em 1 Coríntios 12.8-10, devem caracterizar a vida da
igreja hoje.”1
DO TEMPO DOS PROFETAS…
O que aconteceu no dia de Pentecostes foi o cumprimento de uma promessa feita por Deus, que remonta ao tempo do Antigo Testamento, registada pelo profeta Joel e que podemos ler em Joel 2:28,29: “Depois derramarei o meu Espírito sobre toda a humanidade. Os vossos filhos e filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos e os vossos jovens visões. Derramarei o meu Espírito, mesmo sobre os servos e servas, naqueles dias.”
É esta promessa que vemos ser realizada em Atos 2:1-6, que leva a que alguns habitantes de Jerusalém troçassem dos que haviam sido batizados. Começa aqui a demonstração da racionalidade na defesa do batismo com o Espírito Santo e da experiência pentecostal, quando de modo organizado e lógico, Pedro explica:
·
(v.16-21)
a origem da profecia no ministério do profeta Joel (Joel 2:28-32);
·
(v.22-24)
o envio de Jesus de Nazaré como o Messias que: realizou milagres; morreu na
cruz e ressuscitou;
·
(v.25-35)
o reforço dessa divindade de Jesus por meio das palavras de David que: relata a
vitória sobre a morte (Salmo 16:8-11); alude a essa mesma divindade com
palavras vindas de Deus (Salmo 110:1);
·
(v.37)
que Deus confirmou Jesus como Senhor e o Cristo;
· (v.38-40) que a promessa é para todos, devendo cada um: arrepender-se dos seus pecados; converter-se a Deus; ser batizado; viver uma vida de santificação.
Esta linha de manifestação do Espírito Santo é uma constante no Novo Testamento e não apenas um acaso ou evento único. Em Atos 6:3 lemos o ser cheio do Espírito Santo como condição para o ministério do diácono (algo confirmado em Atos 6:5). Em Atos 10:44,45 é relatado o batismo com o Espírito Santo na casa de Cornélio (um gentio, o que atesta que a promessa de Deus não se limitava ao povo de Israel). Em Atos 19:1-7 lemos que uma dúzia de homens é batizada com o Espírito Santo após a pregação de Paulo. Em 1ª Tessalonicenses 1:5 é registado que o Evangelho foi pregado não apenas em discurso mas também em manifestação da ação do Espírito Santo. Em Tito 3:4-6 é-nos descrita a experiência da graça de Deus, da lavagem e renovação por meio do derramar do Espírito Santo…
CONTINUAÇÃO HISTÓRICA
Se olharmos para a
história da Igreja, é possível verificar que a ação do Espírito Santo não
cessou no Pentecostes ou no encerramento do cânon bíblico. Apesar de não
introduzir inspiração para produzir escritos que pudessem ser adicionados às
Escrituras, o Espírito Santo não deixou de operar. Exemplo disso são os
testemunhos de várias figuras importantes da Igreja ao longo de quase dois mil
anos. Irineu de Lyon relata libertação de espíritos malignos, profecias e cura2, Tertuliano reforça também estes relatos,
Antão foi abençoado com o dom de discernimento de espíritos, Atanásio relatou a
continuação de milagres e Ambrósio diz que “o Espírito dá os mesmos dons que
o Pai, e o Filho também os dá”3. O
próprio Agostinho, considerado pela linha cessacionista como um dos defensores
iniciais dessa tese, veio a corrigir mais tarde a sua posição, dando um exemplo
disso na obra A Cidade de Deus4.
Progredindo acima do ano 1000, há relatos sobre curas operadas por Deus por
meio de pessoas como Bernardo de Claraval, Hildegarda de Bingen, Vincente de
Ferrier. No pós-Reforma, Zinzendorf descreve a manifestação de dons espirituais
e curas5, durante o ministério de John
Wesley decorriam curas e libertações6. O
testemunho histórico dá conta de que a manifestação do Espírito Santo foi
contínua e não parou, mesmo nos períodos de maior luta, perseguição, divisão e
apologética.
RACIONALIDADE E PODER
Porque continua então a mensagem errada a circular? O Pentecostalismo tem demonstrado não apenas o mover do Espírito no decorrer da História, como mais recentemente tem demonstrado que não é estéril no que toca a apresentar pensadores e teólogos que defendem esta perspetiva de continuidade. Qual a relevância desta informação? Simplesmente dar a conhecer quem de modo lógico, estruturado, racional e contínuo tem produzido obras académicas, publicado livros, dado palestras, que consubstanciam aquilo que é central no ADN pentecostal: o Espírito Santo continua a trabalhar hoje do mesmo modo que há dois mil anos. Então, quem são estes apologetas do Pentecostalismo? Referências internacionais como Gordon Fee, Stanley Horton, James B. Shelton, Donald Gee, Amos Yong, Robert Menzies, William Menzies, Roger Stronstad, Vinson Synan, Myer Pearlman, Lee Roy Martin… Do Brasil, que tem trazido fortes influências a Portugal, há também uma nova linha de teólogos e ensinadores como Gutierres Siqueira, Tiago Rosas, Anderson Lopez, Kenner Terra, Claiton Pommerening ou Ediudson Fontes.
Podemos (e devemos)
aprender com todos os que nos auxiliem a servir mais e melhor. Academicamente,
muitas vezes somos até desafiados a conhecer perspetivas completamente antagónicas
daquelas em que cremos. Mas o ato de conhecer e compreender, não pode
sobrepor-se à unidade doutrinária que nos leva a ensinar as Sagradas Escrituras
de acordo com o que tem sido histórica e espiritualmente demonstrado. Sublinho,
aprender com quem não partilha a nossa visão, se bem efetuado e se estivermos
firmados na sã doutrina, ajudar-nos-á a defender melhor a nossa fé. No entanto,
se defendemos uma linha teológica que tem origem em Atos 2, cujo acontecimento
é o cumprimento de um profecia com centenas de anos de antecedência, se acreditamos
que Jesus ainda hoje salva, cura, batiza com o Espírito Santo e breve voltará,
fará muito mais sentido que nos alimentemos e aprendamos doutrinaria, teológica
e filosoficamente com quem partilha a mesma perspetiva da contínua ação do
Espírito Santo.
1 MENZIES, Robert, Pentecostes, essa história é a nossa
história, Rio de Janeiro: CPAD, p.16; 2
HYATT, Eddie, 2000 anos de Cristianismo Carismático, Natal: Editora
Carisma, p.33; 3 idem, p.67; 4 RUTHVEN, Jon, Sobre a cessação dos
charismata, Natal: Editora Carisma, p.35; 5
HYATT, Eddie, 2000 anos de Cristianismo Carismático, Natal: Editora
Carisma, p.127; 6 idem, p.133.
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