Minorias

Quando lemos a palavra “minorias” muitas podem ser as ideias que nos surgem na mente.  Segundo o dicionário, minoria é um “nome feminino 1. Inferioridade em número. 2. A parte menos numerosa (de um corpo deliberativo).”1

Outra fonte é mais abrangente: “O conceito de minoria tem diferentes valores, no âmbito das relações culturais e étnicas, devido a uma dupla conotação numérica e política e também do ponto de vista do país ou da cultura em causa.”2 Podemos falar de minorias étnicas, sociais, religiosas, etc., como é o caso dos cristãos evangélicos em Portugal. Segundo o Censos 2021 “186832 afirmaram ser protestantes/evangélicos (2,13% dos respondentes)”3. Significa, então que, somos uma minoria… e é sobre isso que vamos falar!

 

Daniel e os seus amigos, jovens levados cativos para o palácio do Imperador do povo que tomara Israel, para serem educados segundo os costumes daquele povo pagão, eram uma minoria. O que fizeram eles? Seguiram os princípios que aprenderam, sendo obedientes a Deus e à Sua Lei. “Mas Daniel assentou no seu coração não se contaminar com o alimento e o vinho que o rei lhes dava. Pediu então a esse responsável que lhes permitisse alimentarem-se de outras coisas.” (Daniel 1:8, OL)

 

O resultado foi inesperado: “No fim dos dez dias, Daniel e os seus três amigos pareciam mais saudáveis e mais bem alimentados que os jovens que tinham comido a comida real. O mordomo passou a dar-lhes unicamente vegetais e água, retirando-lhes da alimentação os outros ricos pratos e os vinhos.” (Daniel 1:15-16, OL). Ao longo do livro Daniel entendemos a forma vertical e coerente como ele e os seus amigos viviam. Nunca abdicaram da sua obediência a Deus, quaisquer que fossem as circunstâncias, mesmo quando o perigo de vida era real.

 

E a igreja nascente (em Atos dos Apóstolos)? Depois do dia de Pentecostes, em que se converteram cerca de 3000 pessoas, veio a perseguição a este grupo (uma minoria na época). Dispersos, presos, torturados, mortos…, mas mantendo a sua integridade e missão. Numa dessas primeiras ocasiões, depois de Pedro e João terem saído da prisão (onde estavam por pregar a Palavra e curar os doentes), “(…) foram ter com os outros discípulos e contaram-lhes o que lhes disseram os principais sacerdotes e os anciãos.” (Atos 4:23, OL) Qual foi a oração dos crentes acerca dos que os perseguiam? “Agora, Senhor, escuta as suas ameaças e concede aos teus servos ousadia na pregação. Estende a tua mão para curar e realizar sinais e maravilhas pelo nome do teu santo Servo Jesus!” (Atos 4:29-30, OL)

Noutra ocasião, depois de serem sobrenaturalmente libertos da prisão, foram levados ao conselho judaico. “Chamados os apóstolos, mandaram-nos açoitar e disseram-lhes que nunca mais falassem no nome de Jesus, deixando-os finalmente ir embora. Os apóstolos saíram da sala do conselho contentes por Deus os ter considerado dignos de sofrer desonra pelo seu nome. E todos os dias, no templo e de casa em casa, continuavam a ensinar e a pregar que Jesus era o Cristo.” (Atos 5:40-42, OL)

Muito se fala (e se faz) e prol da igualdade e representatividade de várias minorias, na nossa sociedade… Apesar da Lei da Liberdade Religiosa estar em vigor em Portugal há mais de 20 anos, ainda há muito para se fazer de maneira a colocar na prática o que está dito na teoria, no que toca a esta área. Apesar de deveremos fazer a nossa parte como cidadãos e de procurarmos conhecer as leis, os nossos deveres e direitos, dando voz a estes, não podemos deixar que esta “luta” nos tolde o entendimento.

A nossa integridade continua a ser requerida, como foi a Daniel e aos seus amigos, e a nossa missão continua a ser a mesma da igreja nascente. Não “vale tudo” nem os fins justificam todos os meios. Somos chamados para ser sal e luz, para levar a mensagem libertadora do Evangelhos aos outros – a todos! A ser santos no meio de uma sociedade corrupta, sendo cidadãos do Reino de Deus, em primeiro lugar, e nunca abdicando da nossa responsabilidade também como cidadãos deste mundo.

E, nesta tensão, entre o ser do Céu e estar na Terra, não nos esqueçamos das palavras do nosso Mestre: “Jesus respondeu-lhe: ‘O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus servos teriam lutado para eu não cair nas mãos das autoridades judaicas. Mas o meu reino não é daqui.’” (João 16:36, BPT) “Felizes serão quando forem insultados, perseguidos e quando proferirem todo o mal a vosso respeito, com mentira, por serem meus discípulos! Alegrem-se com isso! Sim, regozijem-se, porque vos espera lá no céu uma enorme recompensa! Lembrem-se que também os profetas de antigamente foram assim perseguidos. (…) Eu, porém, digo: Amem os vossos inimigos. Bendigam os que vos maldizem. Façam o bem aos que vos odeiam. Orem por quem vos persegue!” (Mateus 5:11-12, 44, OL)

Ana R. Rosa


1 "minorias", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/minorias. 2 Porto Editora – minoria na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consultado a 2024-01-08 11:44:34]. Disponível em https://www.infopedia.pt/$minoria. 3 "EVANGÉLICOS EM PORTUGAL SEGUNDO O CENSOS 2021” in Aliança Evangélica Portuguesa, [consultado a 2024-01-08 11:54:30]. Disponível em https://aliancaevangelica.pt/site/evangelicos-em-portugal-segundo-odisponível21/.


in revista Novas de Alegria, março 2024

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