O porquê do sofrimento

Se Deus me ama, por que é que sofro?

 

O sofrimento é um fator que é impossível de desligar da vida de cada ser humano. Independentemente do nosso estatuto social, religioso, económico ou profissional, ateus, agnósticos ou crentes; todos nós sofremos.

Aliás, o sofrimento é uma das coisas que mais fascina (no sentido de levar a refletir) o Homem enquanto pensa sobre quem Deus é e o porquê de existirmos. As guerras, pandemias, doenças, violência verbal, etc. estão presentes neste mundo e reclamam as vidas de milhares de milhares de inocentes. Será assim? Vejamos o que Deus tem para nos dizer sobre o assunto, a partir das Sagradas Escrituras…

 

INOCENTES (OU ENTÃO NÃO)

A nossa conceção é a de que todos nós somos inocentes ou inculpáveis até certo ponto. Olhando para a Palavra, Paulo diz-nos claramente o contrário:

“Porque todos pecaram, tendo perdido o direito de acesso à glória de Deus.” (Romanos 3:23, OL)

A palavra “todos” é autoexplicativa. Não deixa ninguém de fora, não existem exceções à regra, nem mesmo Maria mãe de Jesus (ao contrário do que tradicionalmente se afirma em certos meios). Todos nós lidamos com o problema do pecado. E é pelo meio do pecado que entra o sofrimento no mundo. Como?

Um desafio interessante que costumo sugerir aos meus alunos, é pensarmos naquilo que várias personagens dos relatos bíblicos sentiram, quando compreenderam que pecaram. Como se sentiram Adão e Eva, quando comeram o fruto e compreenderam que tinham acabado de perder a melhor qualidade de vida possível na época? Certamente experimentaram algo confuso e novo, tanto que se esconderam com um sentimento que lhes seria desconhecido: a vergonha (Génesis 3:7).

O que experimentou Caim depois de matar Abel? Além de ter sido banido da sua terra por Deus, à semelhança do que aconteceu com os pais no Éden (Génesis 4:11,12), Caim sentiu medo e receio pela sua própria vida (Génesis 4:14), além de um sentimento de peso que o castigava e o levou a afastar-se de Deus (Génesis 4:16).

Se percorrermos com atenção as vidas de muitos outros como Abraão, Sara, Lot, Esaú, Jacob, Golias, David, Salomão; vamos encontrar sentimentos de sofrimento motivados pelas suas más escolhas em relação ao que Deus requeria deles ou do que eles haviam colocado como alvo perante Deus. 

 

 

UMA QUESTÃO DE AUSÊNCIA

Mas, afinal, o que é o sofrimento? Se tivermos em conta que quando Deus criou todas as coisas, ao olhar para elas, as catalogou como boas e muito boas (Génesis 1:9, 12, 18, 21, 24 e 31) percebemos que o ambiente que Deus deu a Adão e Eva era o melhor de todos, seja em que cenário for. Até aí não existia sofrimento, dor ou problema.

 

O problema está no ato de desobediência de Adão e Eva, que levou a que entrasse o pecado na equação. E o pecado causa dor, afastamento, rutura, caos, vergonha…

 

Então, podemos afirmar que o sofrimento aparece porque existiu desobediência a Deus. Sofremos porque o pecado coloca o ser humano num estado de ausência da presença de Deus. E confirmamos isso na nossa vida, quando agimos de modo errado, como que nos afastando Dele e sentindo um peso na consciência, porque compreendemos que fizemos algo que não devíamos e que isso causa sofrimento (em níveis distintos e com consequências variadas).

 

O FATOR JESUS

A questão natural é perguntar: então, mas Jesus não veio para nos libertar do pecado e do sofrimento? A resposta é sim e não. Sim, Ele veio para nos libertar do pecado (Mateus 20:28, Marcos 10:45, João 3:16, Romanos 3:24). Mas ainda não estamos libertos de todo o sofrimento, embora Ele também nos possa livrar de condições em que sofremos. Como?

Ainda não estamos libertos do sofrimento e Jesus mesmo explica isso: “…no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (João 16:33b, OL)

Enquanto vivermos neste planeta, estamos sujeitos às condições deturpadas em que a criação se encontra (Romanos 8:20, 21), por força da toxicidade que o pecado do Éden espalhou por ela (Génesis 3:16-19). Mas com a morte e ressurreição de Jesus na cruz (João 16:16, Hebreus 12:2), somos libertos do pecado por Ele (Romanos 5:18-21, Hebreus 9:26-28). Podemos ainda sofrer, porque aguardamos a derrota final do diabo (Apocalipse 20:10) e a renovação de todas as coisas, onde o sofrimento e a dor estarão totalmente ausentes (Apocalipse 21:3,4).

Então, ainda sofremos porque lidamos com as consequências do pecado, que são manifestadas pela ação de cada ser humano, a cada dia (Romanos 3:9, 1 Timóteo 5:24, Tiago 1:14,15). A livre escolha que Deus concede ao ser humano, capacitando-o a amar livremente, é usada muitas vezes de modo errado e pecaminoso, para criar dor, dificuldades, desviando o Homem da paz e segurança, introduzindo-o num ambiente prejudicial. Esse pecado manifesta a ausência da presença de Deus nas suas vidas, o que nos leva à urgência de cumprir o mandamento de Jesus: ir, pregar e ensinar o Evangelho e a libertação do pecado que produz o sofrimento (Mateus 28:19, Marcos 16:15, Lucas 24:47, João 20:21-23).

Ainda sofremos porque não se aniquilou todo o mal do mundo, mas a promessa de Apocalipse 21 é a de que todas as coisas serão feitas de novo, num ambiente onde o pecado, a dor e o sofrimento não serão jamais parte da equação.

 

Ricardo Rosa

in revista Novas de Alegria, setembro 2024

Comentários