Um género de identidade
Identidade e Sexualidade à luz da Bíblia em contraste com a sociedade
O que é que a sexualidade diz sobre a identidade de um ser humano? Será que a nossa dignidade enquanto pessoas depende da nossa sexualidade? E o que é que define o quê? A identidade define a sexualidade ou a sexualidade define a identidade?
Este é o tipo de questões que estão na ordem do dia.
Jornais, rádios, séries, filmes, livros, blogs… A sexualidade passou a
ser um produto comercial, a partir do momento em que o ser humano entendeu que
a conseguiria explorar. Mas como é que a nossa sexualidade define a nossa
identidade?
TEMPESTADE HORMONAL
A primeira coisa que necessitamos de entender é que a sexualidade é um processo biológico. Processo porque é desenvolvida na gestação, sendo que em momento algum a sexualidade é atribuída, ao contrário do que defendem os apologistas da má igualdade de género. A sexualidade é revelada ou descoberta, por assim dizer, através de exames clínicos completamente seguros como as ecografias. Não é a mãe, o pai, a obstetra ou qualquer pessoa no registo civil que atribui a sexualidade a alguém acabado de nascer. Apenas reconhecem, que segundo o conjunto de órgãos sexuais e reprodutores, aquele bebé é de sexo masculino ou feminino.
Outra questão assenta na tempestade hormonal que se vive no período da pré-adolescência e durante toda a adolescência. Com o desenvolver do corpo humano, a maturação de órgãos acontece e dá-se início ao ciclo hormonal que sinaliza ao nosso corpo que está a ficar “em condições” de se poder reproduzir.
Não é aleatório que em Génesis 1:28 a palavra “frutificai”
(ou “crescei” em algumas traduções) sirva como identificador de que o ser
humano se deve tornar maduro fisicamente para poder dar fruto. Nenhuma árvore
dá fruto sem ser na altura própria.
EU SOU O QUE SINTO?
É nesta tempestade hormonal que começam muitas vezes as grandes questões sobre sexualidade e identidade. É sabido que existem hormonas que “regulam” o nosso estado de ânimo, por exemplo. As endorfinas, a dopamina ou a serotonina, funcionam no nosso corpo como neurotransmissores e agem no cérebro (por exemplo) para nos fazer sentir bem, aliviar o stress ou então, como a oxitocina, para auxiliar o parto ou a amamentação.
Mas até que ponto é que estes químicos ditam quem somos, o que fazemos e o que sentimos? E será que sendo estes químicos produzidos pelo meu organismo, eu sou aquilo que eles me fazem sentir? Na verdade, e correndo o risco de ser algo abrupto na resposta, podemos dizer que não!
Os sentimentos são úteis e são-nos oferecidos por Deus com os nossos corpos. Mas em lugar algum, as Sagradas Escrituras nos dizem que devemos deixar os sentimentos regularem o nosso comportamento. Muito pelo contrário. Quando Deus dá os mandamentos ao povo de Israel no Sinai, proíbe várias coisas (Êxodo 20:1-17, Deuteronómio 5:5-33), por saber que o ser humano vive num mundo em pecado (1 João 5:19) e precisa de cercas em torno de si para não ceder aos instintos reativos e agir de modo que peque ou leve outros a pecar (Gálatas 3:19).
Mas como relacionar esta explicação com a identidade e a sexualidade? Quando existe uma procura da definição natural da sexualidade, os casos em que existe uma fuga ao que é o comportamento sexual mais comum e natural (porque foi desenhado por Deus nesse sentido) no ser humano (a heterossexualidade), surgem dúvidas sobre quem somos, onde nos enquadramos ou como viver essa sexualidade. Citando Heath Adamson, o pastor Jeff Grenell, escreveu no seu livro Fora da Caixa! Jovens, Adolescentes, Amor e Sexualidade (Edições NA) o seguinte: “Reduzimos a sexualidade a sentimentos fisiológicos, impulsos e pensamentos. A sua essência, porém, é espiritual.”[1]
Toda a essência, todo o ser, tudo o que somos enquanto
pessoa é essencialmente espiritual. Ainda que a sociedade hiper-sexualizada,
onde se promove a adultização de crianças e a sua sexualização em campanhas de
cadeias de roupa ou anúncios de televisão, nos diga que somos o que sentimos
(como nos dizia uma operadora de comunicações numa publicidade), o que Deus nos
diz é: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela
renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável
e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:2)
RACIONAL-MENTE
O mandamento que Cristo dá à Igreja por meio do apóstolo Paulo, quando este escreve à igreja em Roma é válido, claro e importante para os dias de hoje. Somos chamados a não sermos um espelho da sociedade, mas pelo contrário, a ser um espelho de quem Cristo é.
“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.” (Efésios 5:1,2)
“Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo.” (1 Coríntios 11:1)
Ainda que a sociedade nos queira vender o mantra de que devemos seguir o que sentimos e logo se sentimos, sendo algo natural, então devemos aceitar, o mandamento de Cristo é para uma submissão amorosa a um padrão divinamente definido e instituído (Mateus 19:4-6), com um objetivo claro (a multiplicação, o gerar filhos), ainda que possa (e deva) ser usado na intimidade do casal como meio de relacionamento, proporcionar prazer e demonstração de afeto (mas isso fica para outro artigo).
Podemos até sentir um desejo ou uma atração relativamente ao
mesmo sexo, mas isso não dita a nossa identidade. O padrão definido por Deus
resume-se a duas opções: relacionamento entre um homem e uma mulher ou seguir a
opção de Paulo, quando explica que é solteiro (as Escrituras não nos permitem
afirmar que seria viúvo ou casado) quando diz: “Agora eu digo aos que não
casaram e às viúvas que é melhor se ficarem sem casar, como eu.” (1
Coríntios 7:8)
DE BRAÇOS ABERTOS!
Como enquadrar então aqueles e aquelas que se sentem inclinados para a homo-afetividade e que procuram uma resposta para a sua identidade sexual? O que é que nós, como Igreja, poderemos dizer ou fazer?
Primeiramente, precisamos de esclarecer que não é um problema com identidade de género, mas com o género da nossa identidade. A nossa identidade enquanto seres criados por Deus tem de estar assente em Cristo e tudo o que fazemos, deve ser para a glória de Deus (1 Coríntios 10:31). A nossa orientação sexual não define a importância que temos para Deus, nem a nossa necessidade de salvação e relacionamento com Ele. A necessidade de arrependimento e submissão a Cristo é para todos, uma vez que Ele deu a vida por todos (João 3:16-18). O “vai e não peques” pressupõe um perdão e uma mudança de comportamento, atitude e foco (João 8:11). Vamos permanecer com problemas de identidade e intimidade (sejam eles quais forem) se não entregarmos essas áreas a Cristo.
Em segundo lugar, a nossa identidade e a nossa sexualidade não dominam a nossa obediência a Deus, mas é a nossa obediência a Ele que deve comandar sobre os nossos desejos e pulsões (Mateus 22:37, 28:20). O próprio Senhor Jesus diz-nos (usando a figura do eunuco) que há aqueles que nascem com essa dificuldade, aqueles que eram feitos eunucos por imposição dos seus senhores e aqueles que tomavam a opção de permanecerem celibatários (Mateus 19:11,12). Paulo esclarece que aqueles que optam pelo celibato, terão mais disponibilidade para as coisas do Senhor, porque exatamente, não têm os deveres e obrigações familiares esperados de quem casa (1 Coríntios 7:32-35).
Por último, mas não menos importante, devemos amar
para integrar e ajudar a fortalecer o elo entre a pessoa e Cristo independentemente
da sua luta ou dificuldade (Atos 10:34, Romanos 2:10,11, 1 João 4:7,11).
Ricardo Rosa
in revista Novas de Alegria, outubro 2024
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