"A melhor vingança"
A história desta comédia (parece drama pelo título, mas não é) conta-nos como “O professor reformado Robert Poutifard só tem uma coisa em mente: vingar-se dos seus antigos alunos que lhe arruinaram a vida! Para o ajudar a pôr em prática o seu plano diabólico, tem a melhor cúmplice de todas... a sua mãe.”1
Vingança… falar deste tema numa edição acerca de “Casamento & Companhia” pode parecer um paradoxo. Será? Sejamos sinceros e transparentes… e lembremos as palavras do Mestre: “Ouviram que foi dito aos antigos: ‘Não mates; quem matar será sujeito a julgamento.’ Mas é realmente como vos digo: basta o sentimento de ira contra alguém para se cair sob julgamento! Se chamarem estúpido a um amigo, correm o risco de serem levados ao conselho judaico para serem julgados. E se o amaldiçoarem, arriscam-se às chamas do inferno.” (Mateus 5:21-22, OL) E quem diz um amigo, diz um cônjuge ou um(a) namorado(a).
O problema, como explica Tiago, não é sermos tentados, mas o modo como gerimos a tentação. “Quando uma pessoa é tentada, são os seus próprios desejos maus que a seduzem. Depois, essa maldade, se lhe cedemos, gera o pecado que, por sua vez, produz a morte. Portanto, não se deixem enganar, queridos irmãos.” (Tiago 1:14-16, OL) Os pensamentos de vingança, quando alimentados levam às ações. Infelizmente, os números não mentem: “Uma mulher morre a cada 10 minutos no mundo vítima de violência doméstica”.2
Onde há pessoas, há imperfeições e opiniões distintas. E isso gera conflitos. Esses conflitos, se não são bem geridos, podem dar origem a palavras que ferem e a magoam. E tudo é ampliado quando estes acontecem com aqueles que amamos e que nos são mais próximos. Tudo seria diferente se todos seguissem o conselho de Jesus no Sermão do Monte: “se estiveres diante do altar do templo, a oferecer um sacrifício a Deus, e te lembrares de que uma pessoa tem qualquer razão de queixa contra ti, deixa o teu sacrifício sobre o altar, vai e pede-lhe perdão e faz as pazes com ela; depois volta e oferece o teu sacrifício a Deus. Chega depressa a acordo com o teu adversário, antes que seja tarde e te arraste para um tribunal e sejas lançado na cadeia como devedor. É realmente como te digo: ali ficarás até pagares a última moeda.” (Mateus 5:23-26, OL) E mais à frente, “Ouviram o que foi dito: ‘Ama o teu próximo, despreza o teu inimigo.’ Eu, porém, digo: Amem os vossos inimigos. Bendigam os que vos maldizem. Façam o bem aos que vos odeiam. Orem por quem vos persegue!” (Mateus 5:43-44, OL)
Voltando à história com que começámos, apesar do objetivo que o professor Poutifard tinha delineado para a sua reforma, algo acontece no decorrer da história que lhe dá um desfecho inesperado (não conto mais porque não quero que percam a prestação sempre fantástica de Chistian Clavier, conhecido pela sua prestação brilhante em “Quem mal fiz eu a Deus”). E o filme termina com a citação (agora completa) do professor Poutifard “O Perdão é a melhor Vingança.”
Sim, o Perdão… mais do que um sentimento, uma decisão. Deus decidiu perdoar-nos quando nós não merecíamos. E nós somos chamados a fazer a mesma coisa: perdoar. “Pois se perdoarem aos homens as suas transgressões, o vosso Pai celestial também vos perdoará as vossas; mas, se não as perdoarem aos homens, ele não vos perdoará as vossas.” (Mateus 6:14-15, OL)
Claro que a violência doméstica deve ser tratada como crime público que é, e devemos ter em conta que o casamento é mais do que uma “fase da vida”, mas é uma aliança criada por Deus. Muitos dos nossos problemas seriam resolvidos na base de tudo: se deixássemos o orgulho e a razão de lado, perdoássemos e tivéssemos o cuidado mútuo que Deus quer que o casal tenha, reconhecendo que todos falhamos e precisamos de misericórdia mútua.
É como Paulo explica: “Respeitem-se uns aos outros, porque assim estarão a respeitar Cristo. Da mesma forma, também vocês, esposas, devem sujeitar-se aos vossos maridos, como fazem em relação ao Senhor. (…) E vocês, maridos, amem as vossas mulheres da mesma forma que Cristo amou a igreja e deu a sua vida por ela, (…) É assim que os maridos devem amar as suas esposas, como uma parte do seu próprio corpo, como a si próprios. Ninguém despreza o seu próprio corpo, antes o alimenta e cuida dele. E é isso que Cristo faz com a igreja, o seu corpo, de que fazemos parte integrante.” (Efésios 5:21-22, 25, 28-30, OL)
Muito mais haveria para dizer (e certamente irão descobrir no decorrer desta revista). Mas, será que o Perdão é mesmo uma Vingança? Termino com a minha paráfrase das palavras do professor Poutifard: “O Perdão é o antídoto da Vingança”.
Ana R. Rosa
1 TVCine (s.d.). A Vingança do Professor Poutifard. Consultado a 3 de dezembro de 2024, em: https://www.tvcine.pt/filmes-e-series/a-vinganca-do-professor-poutifard. 2 Agência Lusa (2024, novembro 25). Uma mulher morre a cada 10 minutos no mundo vítima de violência doméstica. Observador. Consultado a 3 de dezembro de 2024, em: https://observador.pt/2024/11/25/uma-mulher-morre-a-cada-10-minutos-no-mundo-vitima-de-violencia-domestica/.
in revista Novas de Alegria, fevereiro 2025
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