Uma cultura de Missões
Não basta Paciência, é preciso Perseverança
“Investimos nele(a) para se preparar para servir a Deus e agora vai para (colocar aqui nome qualquer país que não seja Portugal)” – estas e outras afirmações semelhantes revelam um problema: a falta de cultura em Missões.
O EXEMPLO AMERICANO
Em 1945, “o Diretor dos Embaixadores de Cristo (AC), Ralph Harris, quando contou que os jovens das Assembleias de Deus [dos EUA] tinham dado mais de 100 mil dólares (…) para o novo fundo missionário, Speed the Light (STL)” teve uma reação cética: “Não importa! Isto vai acabar por passar! (…) Poucos adultos acreditavam que os jovens das suas igrejas pudessem manter o seu entusiasmo em fornecer veículos de transporte missionário em países longínquos. (…) A sua primeira grande compra foi um pequeno avião anfíbio para o trabalho na Libéria. Foi o primeiro avião não militar a voar para aquele país e causou uma grande agitação. Os liberianos ficaram tão entusiasmados ao ver o avião que, durante muitos anos, não cobraram taxas alfandegárias sobre qualquer equipamento do STL trazido para o país. Rapidamente, começaram a chegar apelos de todo o mundo. Precisavam-se de barcos nas Bahamas, de um jipe na Costa Rica, de mulas na Nigéria e de bicicletas na República do Alto Volta. As Assembleias de Deus descobriram que um missionário, devidamente equipado, podia fazer o trabalho de 10 que não tinham recursos. Os missionários estavam a ir mais longe, mais depressa e mais facilmente do que alguma vez tinham ido antes.”2
O impacto tem sido não apenas no apoio a quem já está no terreno, mas no despertar do desejo missionário nas novas gerações. “Um jovem, Loren, tinha 17 anos quando o STL nasceu. Mais tarde, testemunhou que o STL criou uma ponte para ele conhecer diferentes partes do mundo, à medida que lia as atualizações nos artigos do Evangel (revista das AD nos EUA) e tinha a oportunidade de contribuir para algo que era maior do que ele próprio. Aprendeu que poderia causar um impacto positivo no mundo inteiro. Mais tarde, tornou-se pastor no Nebraska e apoiou o STL na sua igreja local até que Deus o chamou para passar 12 anos na Nicarágua, usando o seu próprio veículo do STL. Mais tarde, serviu como diretor de campo para a América Latina e, em 1997, Loren Triplett aposentou-se como diretor executivo das Missões Mundiais das Assembleias de Deus” 3
Hoje, “quase 80 anos depois, o STL é um dos ministérios de
missões para jovens mais eficazes que existe. Desde o seu início, foram
angariados mais de 395 milhões de dólares para equipamento missionário em todo
o mundo. O STL ainda está a ajudar a discipular os estudantes para viverem uma
vida de generosidade à medida que se tornam pessoalmente responsáveis pela
missão de Deus, ajudando os nossos missionários a tornar Jesus conhecido em
todo o mundo.” 4 Nas
Assembleias de Deus (AD) dos EUA, as crianças, adolescentes e jovens são
responsáveis pela maior fatia de apoio às missões (que hoje vão desde a
aquisição de veículos, até projetos de combate ao tráfico humano, abertura de
poços de água, construção de institutos bíblicos, etc.). Paciência e
perseverança, no propósito de Deus, dão frutos!
E POR CÁ?
Como muitas vezes desconhecemos as nossas origens, o nosso passado, convido-te a passar pelo site www.cadp.pt e no menu “Quem Somos”, leres a parte que fala da nossa História. O início das AD em Portugal é resultado da paixão de dois portuguese emigrados no Brasil, que quiseram partilhar a mensagem do Evangelho na sua nação de origem: José Plácido da Costa e José de Matos Caravela. Então, na nossa génese, está a compaixão de dois missionários.
Portugal foi brindado ao longo do século passado com a vinda para o nosso país de dezenas de missionários principalmente da Suécia e dos EUA, além do investimento que foi feito em várias áreas. De Portugal também foram para vários locais do mundo missionários, alguns dos quais mencionámos nos últimos meses na NA. De Espanha a França, de Angola à Guiné, de Macau a Timor, dos EUA à Austrália – trabalhando entre os portugueses e outras comunidades da lusofonia.
Mais recentemente, além dos missionários das Assembleias de Deus dos EUA a servir em solo português, têm chegado até nós famílias de missionários vindas da América do Sul: do Brasil, Argentina, El Salvador, etc. Alguns para trabalhar com portugueses, outros para alcançar pessoas de outras nacionalidades que emigraram para cá em busca de uma vida melhor.
Na década passada havia o projeto Férias com uma Missão, numa parceria entre vários departamentos das AD, com o propósito de envolver jovens em missões. “Em outubro de 2017 (…) foi criada a AMAD – Agência Missionária das Assembleias de Deus; uma agência missionária com o intuito de motivar o compromisso e envolvência das igrejas com as missões transculturais, através de estratégias e respostas práticas.”5 Igrejas locais, unidas no apoio à partilha da fé, fora das nossas fronteiras, e várias equipas das nossas igrejas têm ido para ajudar pontualmente o trabalho missionário fora de portas.
O ADJ (Departamento Juvenil da Convenção das AD em Portugal),
em especial nos últimos 3/4 anos deu ênfase à causa missionária, através da
divulgação dos projetos missionários atuais nacionais e da AMAD e do trabalho
social do Lar de Betânia, com o apelo à generosidade dos adolescentes, jovens e
líderes em todos os eventos, lançando e regando sementes nesta área.
DAR E RECEBER
A generosidade, neste caso no que toca às missões, tem duas vias: dar e receber. Se fomos agraciados pelo investimento de igrejas de outros países para que Portugal fosse alcançado pelo Evangelho, e no passado fizemos história lançando a semente da Palavra noutras nações, hoje temos uma responsabilidade maior. Não apenas de honrarmos o nosso legado e de investimos nas novas gerações, mas principalmente de nos movermos de íntima compaixão pelos perdidos, falando eles português ou não. Temos mais informação, mais meios, mas precisamos que Deus acenda em nós a chama missionária, e que sejamos intencionais em cumprir o “Ide” de Jesus, criando nas nossas famílias e igrejas uma cultura de Missões, com paciência e perseverança.
Ana R. Rosa
1 CULTURA. In Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/cultura, consultado a 5 de dezembro de 2024; 2 “The Story behind Speed-the-Light: How Assemblies of God Youth Raised Almost $300 Million for Missions” (2016, October 13). Flower Pentecostal Heritage Center. Consultado a 5 de dezembro de 20204 em: https://ifphc.wordpress.com/2016/10/13/the-story-behind-speed-the-light-how-assemblies-of-god-youth-raised-almost-300-million-for-missions/; 3 4 “About” (2024). Speed The Light. Consultado a 5 de dezembro de 2024 em: https://stl.ag.org/about; 5 Branco, P. (s./d.). História CADP. CADP. Consultado a 5 de dezembro de 2024 em: https://cadp.pt/historia/
in revista Novas de Alegria, fevereiro 2025
Foto de CHUTTERSNAP na Unsplash
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