"Às Armas"
Talvez para alguns dos nossos leitores este seja um ícone desconhecido: a foto emblemática da Revolução de 25 de abril de 1974 que apresenta um menino descalço a colocar um cravo no cano da G3, segurada pelas mãos de três homens. Esta foto deu origem ao cartaz (acima) que é da autoria do já falecido Sérgio Guimarães… e se não conheces a história, basta fazeres uma pesquisa online para facilmente a encontrares.
Parece uma contradição… quando se deu a Revolução, poucas pessoas perderam a vida, ao contrário do que aconteceu por cá noutras épocas e noutros lugares. Por causa das armas terem sido silenciadas e pelo gesto de uma mulher que distribuiu cravos naquele dia, esta ficaria conhecida como a Revolução dos Cravos. Não quero pintar o quadro cor-de-rosa… nos meses e anos que se seguiram houve algumas situações em que demos uso literalmente a parte do refrão do nosso hino nacional “A Portuguesa”: “Às armas, às armas, sobre a Terra e sobre o Mar…”.
Quando falamos de “nação” e de “revolução”, lembro as palavras do Rei de um reino bem diferente e das palavras (e vida!) realmente revolucionárias que Ele deixou: “Felizes aqueles que se esforçam pela paz, porque serão chamados filhos de Deus!” (Mateus 5:9, OL). Para que não restem dúvidas, logo de seguida continua: “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque é deles o reino dos céus! Felizes serão quando forem insultados, perseguidos e quando proferirem todo o mal a vosso respeito, com mentira, por serem meus discípulos! Alegrem-se com isso! Sim, regozijem-se, porque vos espera lá no céu uma enorme recompensa! Lembrem-se que também os profetas de antigamente foram assim perseguidos.” (Mateus 5:10-12, OL).
A perseguição por causa de vivermos de forma justa, seguindo os princípios da nossa fé, acontece… e mesmo assim somos chamados a ser pacificadores. Há mais dois textos indispensáveis neste sentido.
O apóstolo Paulo instrui os cristãos em Roma: “Peçam a Deus que abençoe aqueles que vos tratam mal. Peçam para eles bênçãos e não maldições. (…) Não se envaideçam com aquilo que sabem. Não paguem o mal com o mal. Procurem antes fazer o bem diante de todos. Façam tudo o que for possível da vossa parte para viverem em paz com toda a gente. Meus caros irmãos, não façam justiça por vossas mãos. Deixem que seja Deus a castigar, pois diz o Senhor na Sagrada Escritura: A mim é que pertence castigar; eu é que darei a recompensa. E diz também: Se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer e se tem sede dá-lhe de beber. Ao fazeres isso, farás com que a cara lhe arda de vergonha. Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.” (Romanos 12:14, 16b-21, OL, destaque da autora)
Também podemos ver os mesmos princípios nas palavras do apóstolo Pedro: “Que mal vos poderá ser feito, se forem zelosos na prática do bem? Mesmo que sofram por causa da justiça, isso tornar-vos-á felizes. Portanto não tenham medo desses tais, nem se perturbem. Deixem Cristo ser o Senhor exclusivo dos vossos corações. E se alguém vos perguntar a razão da vossa esperança, estejam sempre preparados para responder, com delicadeza e respeito. Tenham uma boa consciência. Se os homens falarem mal de vocês, virão eles próprios a ficar envergonhados por vos terem acusado falsamente, ao verificarem a vossa boa conduta em Cristo. Lembrem-se que, se Deus quiser que sofram, é melhor sofrer fazendo o bem do que fazendo o mal.” (1 Pedro 3:13-17, OL, destaque da autora)
Vivemos tempos em que o sistema de valores está baseado no orgulho, na intolerância, no ódio e na violência, e não na humildade, graça e verdade que Jesus nos ensina a ter. Numa sociedade que está polarizada para onde quer que olhemos, a nossa tendência é “disparar” argumentos como se de balas se tratassem…
O nosso ADN como seguidores de Jesus é claro. Somos o sal da Terra e a luz do mundo (Mateus 5:13-16), para nos conservarmos a nós e à sociedade da corrupção, nas ações e nas palavras, apontando o caminho para Jesus através do que somos, dizemos e fazemos… sem polarizar. Somos chamados a anunciar as Boas Novas do Reino de Deus. É essa a principal missão dada por Jesus a todos os Seus seguidores. A nossa motivação deve basear-se na compaixão e não em vencer esta ou aquela discussão. Sim, devemos explicar e defender a fé, mas à maneira de Deus (“com delicadeza e respeito”), não esquecendo que Reino representamos e a Quem servimos (1 Pedro 2:9-17).
Mesmo quando não somos compreendidos ou somos perseguidos,
devemos viver e dizer a verdade em amor, seguindo o exemplo e o mandamento de
Jesus. Quando o fizermos, tendo como parceiro o Espírito Santo, acontecerá uma
verdadeira revolução: “A cidade inteira via-os com bons olhos e todos os
dias Deus ia acrescentando ao seu número aqueles que se salvavam.” (Atos
2:47b, OL)
Ana R. Rosa
in revista Novas de Alegria, abril 2025
Comentários