Reflexões sobre a Criação - Imensidão de águas
Na
temática da simbologia bíblica, o mar é apontado pelo Cardeal Gianfranco Ravasi,
como a limitação da terra e como o fim de tudo.
É no principal do vasto manto líquido que cobre o planeta Terra, que se encontra o mistério das profundezas, o desconhecimento do que existe além horizonte. Obras como épicas como a “Odisseia” ou “Gilgamesh” são melhor narradas com o sabor a mar na mente e o cheiro a sal no coração. É também no mar que vários relatos bíblicos são vividos.
É no principal do vasto manto líquido que cobre o planeta Terra, que se encontra o mistério das profundezas, o desconhecimento do que existe além horizonte. Obras como épicas como a “Odisseia” ou “Gilgamesh” são melhor narradas com o sabor a mar na mente e o cheiro a sal no coração. É também no mar que vários relatos bíblicos são vividos.
Desde a
milagrosa travessia do Mar Vermelho durante o êxodo hebreu do Egipto, até ao
relato da experimentação do sobrenatural da fé por Pedro (que caminhou sobre as
águas violentas e tempestuosas do Mar da Galileia), culminando com o relato em
Apocalipse do retorno dos que pereceram e permanecem sepultados na tumba do
profundo azul.
Um local
de respeito, de temor, que não só alimentava os pescadores como Pedro, João e
Tiago; mas também serviu de tormento nas travessias de Paulo. O mar outrora
temido e respeitado pelos povos antigos como os fenícios, idolatrado por gregos
e romanos, serve de pano de fundo para o romance de Herman Melville, “Moby
Dick”. Uma história sobre redenção e justiça, onde os paralelismos com a Bíblia
não se esgotam e onde o sermão do Reverendo Mapple nos aponta para uma verdade
incontestável. Prega este antigo caçador de baleias, que assumiu o lugar de
Reverendo em Nantucket, que para obedecermos a Deus, devemos desobedecer a nós
próprios. Uma luta interminável entre carne e espírito, trazendo Platão a uma
cidade baleeira e levando o leitor a cruzar-se com Ismael, Bildade, Elias e
Acab. Semelhantemente, Ernest Hemingway tem no mar e num peixe enorme, o
cenário e o principal foco do seu romance “O velho e o mar”. Uma história sobre
o querer e a importância do prevalecer, perante um sofrimento e luta dignas de
se equipararem às de Job.
É também
o mar, que na história da Humanidade assume o papel de caminho para os
Descobrimentos, para a colonização de territórios distantes como a América do
Sul, a Índia ou o Japão. Uma época em que a Cristandade foi levada além fronteiras,
até aos confins da terra, conforme regista Lucas em Actos dos Apóstolos 1:8. Um
enorme continente azul mencionado constantemente por Camões na epopeia de “Os
Lusíadas”. Esse vasto manto, sobre o qual o Espírito pairava e se movia no
relato da Criação, que novamente no livro de Apocalipse é mencionado pela sua
extinção (Apocalipse 21:1).
Se de
facto, a glória de Deus é manifesta na Criação, como alude o salmo 104 (e
exortou Padre António Vieira no seu “Sermão de Santo António aos Peixes”),
então o vasto e profundo azul que é o mar é o local de encontro entre o Homem e
Deus. A jornada marítima processa-se tal como o itinerário da fé na vida de um
crente. Períodos de calma e bom vento, contrastando com períodos de tempestade
ou de ausência de bons ventos e marés. O navegar em direção ao horizonte sem
mapa é nada mais do que o andar por fé, esse processo que tantas dificuldades
coloca ao intelecto do ser humano.
Mas tal
como na caminhada da fé, necessitamos de suporte: as Escrituras agem como o
nosso mapa, ajudando-nos a aferir o rumo; o Espírito age como astrolábio, que
dá confirma o mapeamento das Escrituras e nos ajuda a posicionar em relação ao
nosso destino final.
Ricardo Rosa
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