E se não existisse Bíblia em português? (BSteen)
Já imaginaste como seria se não tivéssemos a Bíblia em português? A verdade é que fazemos parte dos cerca de 70% da população mundial que tem a Palavra de Deus na sua língua ou dialeto. Mas ainda existem muitas pessoas que aguardam a tradução para compreender a Verdade de Deus - não esquecendo, neste número, as comunidades surdas e lugares onde a igreja é perseguida.
UM POUCO DA HISTÓRIA
DAS SOCIEDADES BÍBLICAS1
Em 1804 foi fundada na cidade de Londres, em Inglaterra, a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. O trabalho e missão, então iniciados, vão buscar a sua inspiração, entre outras, a uma menina galesa do final do século XVIII, de nome Mary Jones, que desejava muito uma Bíblia na sua língua materna. Para o conseguir teve de trabalhar cerca de oito anos e andar a pé dezenas de quilómetros até concretizar o seu sonho. Thomas Jones, profundamente tocado pelo testemunho desta menina desejou que histórias como esta não se repetissem, e sonhou com a Bíblia traduzida em todas as línguas e acessível a todas as pessoas em todo o mundo.
Rapidamente começaram a aparecer Sociedades Bíblicas noutros
países tanto na Europa como na América do Norte. Em Portugal a primeira
distribuição bíblica por ação da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira
ocorre em 1809, com a distribuição de cerca de 5 mil exemplares do Novo
Testamento na tradução de João Ferreira de Almeida na ilha da Madeira. Alguns
meses após o final da II Guerra Mundial nasce a comunhão das Sociedade Bíblicas
Unidas (UBS).
AO LONGO DA HISTÓRIA
DA IGREJA2
Desde o princípio da Igreja que as Escrituras foram básicas e importantes. Os pais da Igreja (líderes que deram continuação à igreja depois dos apóstolos) davam ênfase à leitura da Palavra de Deus, que era uma ajuda na alfabetização e conhecimento de cultura geral. Para os que não eram alfabetizados, a Bíblia era lida publicamente porque era considerada fundamental para “aprofundar a vida espiritual do cristão individual e da Igreja”3. Mais tarde, William Tyndale queria que o rei de Inglaterra compreendesse a importância das pessoas pobres e sem instrução poderem ler a Bíblia na sua própria língua.
Em 1600, Bartholomew Ziegenbalg foi para o sudeste da Índia para trabalhar com o povo Tamil. Ziegenbalg acreditava que as Escrituras na língua autóctone tinham de estar disponíveis logo que se começasse a fazer missão nesses lugares. A sua estratégia era ampla, porque acreditava que a tradução da Bíblia tinha de ser acompanhada pela educação cristã. Os novos cristãos e os seus filhos tinham de ser capazes de ler a Bíblia sozinhos. Entre outras coisas, ele utilizava letras de músicas em tâmil no culto. Ele estava totalmente comprometido com a conversão pessoal do povo tâmil. Ziegenbalg foi considerado à frente do seu tempo na sua abordagem4.
William Carey, no seu trabalho na Índia, tinha uma estratégia com cinco vertentes: a compreensão da língua, da cultura e do processo de pensamento dos povos não cristãos; a pregação do Evangelho por todos os meios possíveis; a tradução da Bíblia para as línguas onde era necessária; a implantação de uma igreja o mais cedo possível; e a formação de cristãos locais para serem líderes no ministério5.
Outros missionários notáveis que se envolveram na tradução da Bíblia, como Adoniram Judson (1788-1850), Henry Martyn (1781-1812) e Hans Egede (1686-1758), demonstraram uma abordagem holística, pois também se envolveram no evangelismo, na educação cristã, no trabalho médico e na educação teológica. Todos eles mostraram que a tradução da Bíblia era complementar a cada uma destas áreas.
Muitos outros exemplos haveria para dar. Por conseguinte,
historicamente, parece haver fortes ligações entre a tradução da Bíblia e o
ministério como um todo – incluindo o trabalho missionário.
MAIS DO QUE NÚMEROS6
Na atualidade cerca de 4 mil milhões de pessoas têm disponível a Bíblia na sua língua ou dialeto. 1,5 mil milhões de pessoas ainda não têm qualquer parte da Bíblia na sua língua ou dialeto. As Américas continuam a ser a região com maior acesso às Escrituras, enquanto a Ásia contém o maior número de pessoas com tradução parcial ou sem tradução na sua língua. Existem presentemente cerca de 400 projetos de tradução em curso. O objetivo das Sociedades Bíblicas Unidas (SBU) para os próximos 20 anos é, com a provisão de Deus, completar 1200 projetos de tradução, o que proporcionará a cerca de 600 milhões de pessoas o acesso às Escrituras.
Vários ministérios interdenominacionais têm-se juntado às SBU com o objetivo de garantir que as pessoas em todo o mundo possam aceder à Bíblia num formato que lhes seja acessível e cativante. Como cita a página oficial das SBU “A nossa Digital Bible Library é um exemplo disso mesmo. Através desta curadoria digital de milhares de traduções, parceiros como a YouVersion podem disponibilizá-las a um público de mais de 5,6 mil milhões de pessoas em todo o mundo.” O acesso da Bíblia através das plataformas digitais tem sido mais uma ferramenta poderosa para alcançar pessoas com a Palavra nos seus dialetos de forma mais rápida do que através dos meios tradicionais.
Para concretizar a missão de levar o Evangelho a todos é
essencial que a Palavra de Deus esteja disponível nas suas línguas e dialetos.
São pessoas que têm a mesma necessidade de salvação que eu e tu. Nestes dias, Deus
está a chamar homens e mulheres disponíveis para alcançar as nações, os vários
grupos étnicos, através do trabalho de tradução, produção de Bíblias e de
recursos que levem a Palavra até aos confins na Terra. Porque a Missão se faz
com todos e para todos, independentemente da localização geográfica, da cor da
pele, da origem… e da língua.
Ana R. Rosa
Big Sister e Diretora de Publicações
Traduções: Ivo Oliveira
1 As Sociedades
Bíblicas (s.d.). Sociedade Bíblica. Consultado a 16 de dezembro de 2024,
em: https://www.biblia.pt/as-sociedade-biblicas.; 2 Kirk, F. (2024).
Bible Translation as Holistic Mission. Wycliffe.
Consultado a 16 de dezembro de 2024, em:
https://www.wycliffe.net/what-we-do/articles-for-further-reflection/bible-translation-as-holistic-mission/.
Adaptado; 3 Southwell (s.d.).; 4 Neill, 1986, p.196.; 5
Idem. Ibidem. pp.224-225.; 6 The
Bible for everyone (s.d.). United Bible Societies. Consultado a 16 de
dezembro de 2024, em: https://unitedbiblesocieties.org/ & Bible translation for the church (s.d.).
BibleTranslation Fellowship. Consultado a 16 de dezembro de 2024, em:
https://www.bibletranslationfellowship.org/. Bibliografia: Neill, S.
(1986). A history of
Christian Missions. London: Penguin Books; Pitman, D. A., Habito,
R. L. F., Southwell, N. (n.d). The
impact of Bible translation. Unpublished paper. SIL International
Pacific Area, Brisbane. Texto
adaptado da revista Novas de Alegria, março
2025
in revista BSteen, março 2025
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