Guerras e rumores de guerras
SE DEUS EXISTE…
Uma das ideias muito repetidas pelos ateus e agnósticos é o conceito de que se um Deus bom, amável, Omnipotente, Omnisciente e Omnipresente existe, então, por que motivo existe o sofrimento? Esta busca por uma resposta assenta, exclusivamente, num plano racional. Expressões ou noções como pecado, apostasia, livre-arbítrio e outras, não são tidas na equação. Quer-se uma resposta racional e limitada a uma caixa em 3 dimensões (largura, altura e profundidade), quando Deus opera fora dessas dimensões e num padrão muito acima.
O problema que o ateísmo levanta não é a existência do mal em si. O ateísmo lida bem com o mal. Atribui o mal a uma de duas causas: o determinismo (tudo o que somos e fazemos está determinado pelo nosso padrão comportamental e pela nossa genética, essencialmente, fomos programados assim) ou ao livre-arbítrio (que permite que coisas más aconteçam a pessoas boas e vice-versa).
O drama que o ateu quer
resolver é de ordem científica. Quer dissecar Deus e ver o Seu interior, como
se de uma experiência se tratasse. Quer compreender todos os efeitos
psicológicos, sociológicos, económicos, políticos, religiosos (por muito que
não acreditem em deuses ou que se endeusem a si próprios) explanados numa
apresentação estilo PowerPoint ou num artigo de uma revista científica
conceituada. Nietzsche escreveu na sua obra Gaia Ciência: “Deus está
morto. Deus permanece morto. E fomos nós que O matámos”.
O PECADO, O MAL, A
MORTE E ALGUMA COISA MAIS
Na verdade, o que o
filósofo queria dizer é que a Europa daquela época já se queria assumir como
pós-cristã (exatamente a era que vivemos hoje, depois do modernismo e do
pós-modernismo) e que, supostamente, a Ciência veio para aniquilar a Palavra
encarnada e exterminar a revelação viva de Deus. Sem Deus, sem Jesus Cristo,
sem o Espírito Santo, não há um absoluto moral, a sociedade passa a ser um mix
de ninivitas (Jonas 4:11) com o que cada um decidir por si e o que decidir
no seu coração será bom (Juízes 21:25).
O pecado, o mal, a morte e tudo mais que fluem da falha de Adão e Eva no Jardim no Éden (Génesis 3) passam a ser vistos com as lentes racionais. Tudo tem de pertencer ao domínio da razão, da lógica, do pensamento correto, estruturado e ordenado… conforme o ser humano o concebe. Quando cheias arrastam e varrem aldeias e vilas (como vimos no estado brasileiro de Rio Grande do Sul) ou terramotos colocam em causa a existência de cidades (como Chernobyl ou Fukushima), a culpa é automaticamente da divindade que o ateísmo não crê existir ou então existe uma soma de fatores entre falha humana, aquecimento global, condições socioeconómicas, mau ordenamento territorial, enfim… qualquer resposta minimamente racional parecerá mais convincente do que a verdade dos factos.
O que quer dizer que,
na verdade, a preferência é por um acumulado de dados, que depois não são
transformados em conhecimento. É a decadência moral (Provérbios 17:4),
espiritual (Atos 17:16) e, até, intelectual do Homem (Provérbios 15:14).
FACTOS NÃO SÃO OPINIÕES
E aqui começa mais um drama. Porque a sociedade está afastada de Deus, que O coloca de lado como em Nínive ou como a própria nação de Israel já fez, sujeita-se à Sua falta de proteção, amor e a lidar com o pecado. O pecado apodrece o mundo: tanto no sentido da Natureza (Jeremias 12:4), como no sentido social (Isaías 24:5-6). Corrói o ser humano até ao mais íntimo da sua existência e provoca a morte como resultado (Romanos 6:23) e todos nós estamos debaixo dessa doença que alastrou geneticamente desde Adão e Eva (Romanos 3:23-24).
Vivemos na tirania e vilania do ego, no mandato do imediatismo, na era do sensacionalismo e da cultura de choque (o termo choque já é usado tantas vezes que quase perdeu o seu significado e impacto). Mas, há uma cura para essa doença e ela já começou a ser aplicada (João 3:16-17), esperando agora nós que tenhamos “alta” (1 Tessalonicenses 4:16-18) e que o efeito total da cura se manifeste (Apocalipse 19:11-21).
Mas, se factos não são
opiniões, o que está escrito acima é o quê? São factos. Paulo faz-nos esse
favor, quando escreveu a Timóteo, inspirado pelo Espírito Santo (2 Timóteo
3:16). Ainda que aqueles com aparência de racionais digam que somos tolos. E,
para esse caso, aplique-se o pensamento do estadista britânico Winston
Churchill “A maior lição da vida é a de que, às vezes, até os tolos têm razão”.
Exceto que, neste caso, os “tolos de Deus” acabam invariavelmente por ter razão
sem preferir o escândalo da morte na cruz (1 Coríntios 1:22-24). Porquê?
Simplesmente a morte não teve a última palavra nesse caso (1 Coríntios
15:20-22) e não o terá no nosso, segundo as palavras do próprio Jesus (Romanos
6:5).
PEACE AND LOVE
É um mote antigo, associado à cultura hippie, mas que não deixa de ser verdadeiro. Como cristãos, que mais ainda podemos questionar? Se acima temos factos, qual tem sido o nosso papel para fazer estes factos conhecidos?
Temos sido capazes de responder a quem nos questiona sobre aquilo em que cremos (1 Pedro 3:15), temos sido pacificadores (Mateus 5:9) e buscado a paz, mesmo com os nossos inimigos (Provérbios 16:7), estejam eles sentados na mesma igreja local que nós ou sejam eles descrentes? Estamos nós a reconciliar-nos com os nossos irmãos (Mateus 5:23-25), quando existe uma brecha que interrompe a ligação fraternal do corpo? Temos batalhado pelo Evangelho (Judas 3), mesmo quando isso implica abrir mão da agressão que supostamente reporia a justiça conforme a Lei (Mateus 5:39)? Estamos a amar quem nos odeia, persegue, quer oprimir e exterminar (Mateus 5:44-48)? Procuramos acolher e amar o estrangeiro (Levítico 19:34), amparar o órfão e as viúvas (Tiago 1:27), rejeitando a procura do lucro material imoral e desmedido (Deuteronómio 23:19)?
Encarem-se estas
questões não como retóricas, mas como reflexivas e procuremos responder a elas
diariamente, antes de nos deitarmos, para que nos lembremos das palavras de
Paulo aos Efésios “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados.” (Efésios
5:1).
Ricardo Mendes Rosa
1 Herre, B., Guirao, L. R. & Roser, M. (s.d.). War and Peace. Our World in Data. Consultado a 8 de dezembro de 2024, em: https://ourworldindata.org/war-and-peace#:~:text=Since%201800%2C%20more%20than%2037,while%20actively%20fighting%20in%20wars.
in revista Novas de Alegria, março 2025
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