Avivamento ou EUvivamento?

Há alguns meses, quando estávamos nas primeiras semanas da pandemia, um tema de louvor lançado pelos Young and Free, fazia a certa altura uma oração para o Céu, que se pode traduzir mais ou menos assim:


Senhor, envia avivamento

Senhor, fá-lo agora

Um mover do Teu Espírito

Derramado do Céu

Vem agora em poder

Cobrir esta Terra

Como já fizeste antes

Podes fazê-lo de novo


Sim, esta deve ser a nossa oração… e sabemos que Deus está disposto a fazer a Sua parte, como fez no passado – porque Ele sempre cumpre a Sua parte. Mas há uma parte que nos compete a nós fazer. Não estou a falar de manipulação de emoções nem de outros fabricos humanos para imitar aquilo que só Deus genuinamente pode fazer. Estou a falar de olharmos para a Palavra de Deus e compreendermos que para vermos Deus agir de modo poderoso em nós e através de nós precisamos de fazer algo espetacularmente incómodo e antipopular – renúncia.

Sim. É preciso renúncia da nossa comodidade e conforto para nos dedicarmos à oração, busca pelo poder de Deus. É preciso renúncia para devorarmos a Sua Palavra e termos zelo de fazer a Sua vontade, independentemente daquilo que eu goste ou não, daquilo que a sociedade diga ou deixe de dizer. Estas marcas estão um pouco por todo o Novo Testamento e marcam também avivamentos que têm acontecido ao longo de 2000 da História da Igreja. Aconselho-te que leias com atenção o livro de Atos dos Apóstolos e verifiques por ti mesmo.

Avivamento está sempre ligado a renúncia - do nosso conforto, do nosso egoísmo, da nossa vontade. Não renúncia pela renúncia, mas seguindo a obediência amorosa ao Deus que nos ama. Avivamento tem a ver com entrega e devoção completas para que Deus possa fazer a Sua vontade em nós e através de nós, para a Sua glória. Não podemos procurar avivamento sem estarmos cientes de que teremos de largar o que não é preciso e que teimamos que continue nas nossas vidas. Caso contrário, teremos um EUvivamento – algo centrado em nós mesmos, nas nossas emoções, desejos e alvos, e não em Deus e na Sua vontade para aqueles que nos rodeiam e para nós mesmos.


Sim, este mundo precisa conhecer o Evangelho poderoso de Cristo, com os sinais e maravilhas que seguem aqueles que creem em Jesus. Mas não tem a ver comigo e com a minha projeção. Não tem a ver com aquilo que sinto agora e passa logo a seguir. Tem a ver com fortes convicções e mudanças reais de caráter e hábitos que só o Espírito de Deus tem poder para fazer crescer em nós, enquanto regamos a nossa vida com oração e Palavra. São essas pessoas, santas, humildes e cheias do Seu poder e da Sua Palavra que Deus quer e deseja usar.

Deus precisa que tu e eu sejamos mais do que meros consumidores de emoções e frases feitas, que levantam as mãos hoje no culto, mas amanhã nas redes sociais têm uma linguagem que não é nada que louvar! Ele quer transformar a nossa mente, muitas vezes toldada pela mentalidade egocêntrica da sociedade, para que compreendamos e façamos a vontade boa, agradável e perfeita que Ele tem para nós (Romanos 12:1-2), sendo assim usados por Ele para o crescimento do Seu Reino… e não dos nossos mesquinhos impérios. 


Ana Ramalho Rosa


Foto: Sam Balye - Unsplash

Publicado posteriormente na revista BSteen, novembro 2020


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