Eu não quero ser um estorvo!

Desta vez não me vou por com grandes introduções. Prefiro “atacar” o assunto aqui, à cabeça. Relata Lucas, o médico evangelista, que “algumas pessoas levavam também criancinhas a Jesus para ele as abençoar, mas os discípulos, ao verem isso, repreendiam aquelas pessoas. Então Jesus mandou trazer as crianças: ‘Deixem-nas vir ter comigo! Não as estorvem, porque o reino de Deus é dos que são como elas. Lembrem-se disto: quem não receber o reino de Deus como uma criança não entrará nele.’” (Lucas 18:15-17, BPT) 

Quando reli há dias estes versículos, questionei-me: será que sou um estorvo? Ou seja, será que estou a ser um empecilho, impedindo as crianças de chegarem a Jesus, a começar pelo meu filho? Concluí que nestas coisas não há neutralidade: ou estamos do lado dos “empatas” ou estamos do lado dos “facilitadores”.


Como é que posso ser um estorvo? Quando acho que as crianças não têm ainda capacidade para conhecer as coisas de Deus. É verdade que temos que saber comunicar com os mais novos conforme a sua idade, a fase do seu desenvolvimento e, nos casos que falámos profundamente nas páginas centrais da revista, os seus desafios específicos. Quando isso acontece, normalmente elas vão aprendendo, passo a passo, e começando uma caminhada pessoal com Deus. Afinal, os miúdos são autênticas esponjas!

Mas a pergunta ainda não está respondida da totalidade. Sou um estorvo quando dou um mau exemplo às crianças. Sim, elas captam o conhecimento de uma forma incrível (nota pessoal: o meu filho de 4 anos consegue decorar versículos simples e as referências bíblicas!), mas também veem o nosso exemplo. Os nossos filhos estão atentos... quando estamos juntos como igreja, trânsito, em casa, etc. Todos temos falhas e devemos reconhecê-las, pedindo a Deus que nos ajuda a melhorar. Mas, se o meu carater não é de todo coerente com as minhas palavras, estou a estorvar!

Finalmente, também sou um estorvo quando não dou o devido investimento às crianças. Se quero ter futuro, preciso pensar a longo prazo. E, a longo prazo, pelos estudos que se têm feito aqui e ali, é mais fácil uma criança decidir seguir Jesus e permanecer nos Seus caminhos do que um adulto. Se queremos crescer, precisamos investir também naqueles que vão dar fruto a longo prazo — seja no nosso tempo como família, seja na igreja, em termos de ministérios infantis (Escola Dominical, culto infantil, etc.). Exige trabalho, paciência, dedicação e, quando falamos em trabalho na igreja, tem que ser um ministério dado por Deus.

E, atenção, isto não são apenas questões estatísticas. Estamos a falar de vidas que Deus ama... e que o inimigo deseja distorcer (desabafo: alguém está atento ao tipo de conteúdos que passam na TV para as crianças?). Precisamos apresentar-lhes a Verdade para que elas saibam o que é errado e mentira — por palavras e pelo exemplo. É urgente orarmos especificamente para que Ele levante pessoas, dê visão e estratégias para que sejamos facilitadores ao alcance e discipulado de crianças, sempre uma perspetiva de excelência e coerência bíblica, num tempo de tantos desafios morais, sociais, económicos e individuais como o nosso.

Duas notas finais.

Primeiro, quero deixar um agradecimento aqui à minha mãe sempre foi uma facilitadora e não um estorvo para que me chegasse a Deus, na minha infância. Obrigada, ainda, a todos os professores de Escola Dominical que se esmeravam comigo (e se esmeram por esse mundo fora!) para apresentar a Palavra de Deus de uma maneira adequada, mesmo com meios limitados.

Segundo, uma palavra de incentivo a todos os pais, professores, pastores: vale a pena investirmos na vida espiritual das nossas crianças! Deveria ser uma prioridade. Precisamos levá-las até Jesus, e acreditar plenamente (como Ele diz que devemos fazer, com um coração sincero de criança) que Ele as vai ajudar, nestes dias desafiantes, a serem Suas seguidoras. Façamos a nossa parte (e não sejamos um estorvo) e Deus fará o resto!


O princípio bíblico aplica-se ainda hoje: “Ensina à criança o caminho por onde deve andar, e quando for velho ainda continuará a andar por ele.” (Provérbios 22:6, OL)


Ana Ramalho Rosa

in revista Novas de Alegria, maio 2018. Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico

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