Quando o fruto brota da árvore estéril

Ao analisamos a Palavra de Deus, no seu panorama geral, encontramos temas e factos essenciais à compreensão da mesma e da sua mensagem, mas também alguns aspetos curiosos.

Um dos que gostava de salientar, é o facto de encontrarmos ao longo da Bíblia vários casos de mães que eram estéreis, mas que após clamor ao Senhor ou por revelação divina, foram mães de homens que não podemos ignorar. Quando o paradigma social atual é a opção cada vez menor por filhos, deveríamos olhar para estas mães como um encorajamento e uma bênção para as mulheres desta geração. Quem não se lembra dos casos de Isaac, filho de Abraão e Sara, de Jacob e Esaú, filhos de Rebeca e Isaac, e José e Benjamin, filhos de Jacob e Raquel?

Todos estes exemplos espelham o plano de Deus para o Seu povo, mas queria destacar três casos peculiares nos quais não só Deus agiu de modo milagroso (invertendo uma consequência que o pecado que afeta o mundo lhes causava), como lhes deu filhos consagrados ao serviço de Deus, que foram importantes para o livramento de Israel enquanto nação e como preparadores do ministério de Jesus.



A primeira mulher de quem gostaria de destacar é a mãe de Sansão. A Bíblia não explicita o seu nome, diz apenas que era casada com Manoá, estéril e sem filhos, que foi visitada por um anjo e que lhes deu instruções muito específicas sobre como lidarem com o seu filho (Juízes 13).

A segunda mulher, foi Ana, esposa Elcana, que era constantemente humilhada por Penina (a outra esposa de Elcana, dado que esta podia ter filhos). Apesar de Elcana ter maior amor por Ana do que por Penina, a ausência de um filho era vista como uma desonra ou uma vergonha. Ana intercedeu junto de Deus, que ouviu a sua oração e por meio do sacerdote Eli (que mais tarde acolheria o menino) foi abençoada (1 Samuel).

A terceira mulher é Isabel, mulher de Zacarias e prima de Maria, mãe de Jesus. Isabel era uma mulher sem filhos, que vivia de modo justo e agradável perante Deus, mas de idade avançada (tal como o seu esposo). E aqui foi novamente a providência divina a “dar o recado”, mas desta vez ao esposo, Zacarias. Todo o relato é lido em Lucas 1, onde em especial lemos nos versículos 24 e 25 que após ter engravidado, Isabel resguardou-se e alegrou-se porque Deus tinha terminado o seu “opróbrio” (isto é, desonra, vergonha, etc.) perante os homens.

Todos estes homens acabaram de algum modo por “julgar” Israel, isto é, vir ao encontro da necessidade que o povo teve em tempos de má direção espiritual e apesar de todos eles serem bênçãos de Deus, foram responsáveis pelo seu caminhar com Deus e pelas suas decisões.

O que é que isto nos ensina? O que traduz para mulheres e homens estéreis hoje em dia? Em primeiro lugar, que vivemos num mundo ainda danificado pelo pecado (Romanos 8:20), que causa problemas naquilo que são os desígnios iniciais de Deus (Génesis 1:28, 9:1, 9:7) para o homem e a mulher: desenvolverem-se e terem uma família da qual resulte descendência.

Em segundo lugar, que mesmo nestas condições atuais, Deus pode (segundo a Sua vontade) mudar as circunstâncias em que nos encontramos: porque nós pedimos e esse pedido vai ao encontro daquilo que é a Sua vontade ou porque simplesmente é esse o Seu desejo, mas ainda não se manifestaram as condições exatas para que tal aconteça.

Em terceiro lugar, que não existe “culpa no cartório” por não se poder conceber um filho. Como escrevi acima, o pecado com o qual a natureza sofre, ainda nos causa sofrimento (Romanos 8:22), embora Cristo tenha vindo a este mundo para nos libertar do problema do pecado individual que cada um tem para com Deus (João 3:16).

Existem alternativas e uma delas é a adoção. Tal como somos adotados por Deus, ao sermos tornados Seus filhos (Romanos 8:17, Efésios 1:5), temos a opção de sermos pais adotivos, procurando transmitir amor e carinho a filhos que não sendo biológicos o são “do coração”. Não é uma decisão para se tomar de ânimo leve, mas de forma consciente e em oração, pedindo a Deus sabedoria, direção e convicção para o fazer.

Outra possibilidade ainda dedicar-se a “ter” filhos espirituais, ou seja, aquelas pessoas com quem partilhamos o Evangelho e acompanhamos, mas pelas quais nutrimos um amor como se fossem “propriedade” nossa: porque estamos ao seu lado no choro, no riso, na luta, na vitória, porque se gera um relacionamento de paternidade cujo sangue não é o mesmo mas cujo amor é semelhante ao que Deus tem por nós.

Deus pode (ou não) fazer brotar fruto de uma árvore estéril. Depende da Sua soberania. Não há como contornar essa questão. A Sua vontade é soberana, ou seja, é aquela que permanece. Mas não devemos viver com o peso de, caso não possamos ter filhos, nos sentirmos amaldiçoados ou menos considerados por Deus. O amor de Deus por nós está espelhado em Isaías 53. Está espelhado em Jesus, que nos amou e deu-Se por nós na cruz.

Se está a ler este artigo e algo aqui fez sentido para si, fale com Deus. Como referi acima, existem alternativas, que podem ser caminhos que Deus coloca ao nosso dispor para caminharmos com Ele. Pegando no ditado popular: “Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela”. Abra o seu coração e citando o nosso querido irmão Paulo: “Não alimentem preocupações seja pelo que for; antes apresentem os vossos cuidados em oração perante Deus, exponham-lhe todas as vossas necessidades, sem esquecer de lhe expressar o vosso agradecimento. Então, a paz de Deus, que ultrapassa tudo o que a mente humana pode naturalmente compreender, conservará o vosso espírito e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.” (Filipenses 4:6,7 OL)

Ricardo Rosa

in Novas de Alegria, dezembro 2018

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