Obras-primas, sem mérito próprio



No vazio do papel em branco quero, mas mão salpico ideias ou pensamentos, entornados num lapso de criatividade que, ausente, me “deixou na mão”. Isto de criar do nada, meus amigos, só Deus consegue fazer.

Escrever “do nada” tem mais a ver com trabalho do que com inspiração. O trabalho de recolher no nosso depósito mental milhares de sons, palavras, ideias que no borbulhar do pensamento saem-nos pela ponta dos dedos, seja pela caneta, seja pelo teclado ou num ecrã tátil. É através do trabalho no ginásio da imaginação alheia, ao lermos e interiorizarmos, e imaginarmos o que está naquelas palavras, que construímos a nossa biblioteca pessoal interior.


Não é por acaso que assim é. Somos criados à imagem e semelhança de Deus, o Criador, o Inventor da criatividade. As ferramentas com que nascemos como seres humanos estão à nossa disposição para criar soluções para problemas, para oferecer respostas a necessidades. Não o são por mero instinto, mas porque temos essa marca especial em nós.

Para o bem ou para o mal (que entrou pela opção humana de fazer como bem entendeu em vez de obedecer a Deus), o trabalho e a criatividade andam de mãos dadas e dão os seus frutos. Mas o tipo de frutos depende da semente plantada (a boa ou a má). Temos construído obras da arquitetura e da engenharia fantásticas, aliando o útil ao agradável. Mas também temos destruído vidas em massa usando mal a nossa imaginação. Este paradoxo da criatividade é real. Não há volta a dar… ou haverá?

Todo o homem e toda a mulher têm o mesmo problema e a mesma necessidade. Parece que nos falta algo cá dentro, mesmo quando aparentemente temos tudo. É verdade. Falta-nos Deus. Falta-nos esse relacionamento com o Criador. E Ele, criativo, mas ao mesmo tempo perfeito e misericordioso, criou o plano infalível para restaurar aquilo que deitámos a perder quando, no ato do primeiro casal, desobedecemos a Deus.

Ele enviou Jesus para sofrer o castigo que estava reservado para nós. E a obra foi feita – a grandiosa obra da salvação, para que, quando reconhecemos o nosso estado de pecadores, separados de Deus, não nos deixemos levar pelo desespero nem nos fechemos num orgulho de falso moralismo, mas entreguemos a nossa vida a Cristo. E, assim, seremos salvos da perdição, e teremos a nossa vida transformada – uma verdadeira obra-prima - para, em tudo o que somos e fazemos, dar o bom fruto. Nos pensamentos, nas intenções, nas ações e nas palavras.

“Porque pela sua graça é que somos salvos, por meio da fé que temos em Cristo. Portanto, a salvação não é algo que se possa adquirir pelos nossos próprios meios: é uma dádiva de Deus. Não é uma recompensa pelas nossas boas obras. Ninguém pode reclamar mérito algum nisso. Somos a obra-prima de Deus. Ele criou-nos de novo em Cristo Jesus, para que possamos realizar todas as boas obras que planeou para nós.” (Efésios 2:8-10)

Ana Ramalho Rosa


in Novas de Alegria, abril 2020

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