Jesus na História e na Cultura

Se pudesse escolher uma figura incontornável da História, quem seria? A sua, não poderei saber sem que partilhe comigo. A minha é talvez a mais simples de apontar: Jesus Cristo!

Porquê? Simples! Jesus é a única pessoa na História a “quebrar” o tempo ao meio. Ou seja, existe um calendário para os eventos antes de Cristo (AC) e depois de Cristo (DC). Mas não parando por aí, é talvez das pessoas que mais acabou por influenciar aquilo que é a cultura, nas suas várias correntes e expressões (pintura, escrita, música, escultura, etc.).

 


JESUS NA HISTÓRIA

A tónica já está dada no parágrafo anterior. Não existe ninguém tão marcante na História que tenha levado a uma divisão do calendário. Há um antes de Cristo e um depois de Cristo. Tal como na vida de qualquer pessoa que se tenha convertido ao Cristianismo. E é na própria Bíblia que há um termo cunhado que identificava os seguidores de Jesus. A Sua importância histórica levou a tal, como podemos ler em Atos 11:26. Os relatos da existência de Jesus são fortalecidos pelas referências de Josefo, Tácito, Mara bar Serapião ou pelo próprio Talmude. Há pelo menos dois factos que são consensuais na questão da historicidade de Jesus: o Seu batismo e a Sua morte na cruz. Juntando a estes pontos, há também a celebração de datas importantes, como o Natal (acerca do qual a data convencionada foi 25 de dezembro).

O testemunho de Jesus na História não se limita a datas ou citações. É levado adiante e fortalecido pelo martírio de Cristãos no Império Romano. Alguém que fosse falso ou uma invenção não poderia produzir seguidores tão comprometidos. A mensagem do Evangelho ecoava continuamente nos corações dos primeiros cristãos e dos que se lhes seguiram. Ninguém, no seu perfeito estado mental, aceitaria ser martirizado por uma causa falsa, sobretudo sem oferecer resistência. O Sermão do Monte continua a ser provavelmente o discurso mais importante sobre serviço, amor ao próximo, fidelidade e carácter.

Talvez, por isso, várias personalidades citem Jesus e o Evangelho como fonte de mudança, inspiração, incomparabilidade ou importância. Autores como C.S. Lewis, J.R.R. Tolkien, G.K Chesterton (o trio britânico que não só inclui o Cristianismo nas suas obras, como também o defendeu); líderes políticos como Helmut Kohl, Aldo Moro, Martin Luther King Jr, Abraham Kuyper; filósofos como John Lennox, Richard Swinburne, William Lane Craig, Emmanuel Mounier, Jacques Maritain; músicos e compositores como Handel, Haydn, Franz Liszt, Mozart, Olivier Messiaen ou Arvo Pärt…

O legado histórico de Jesus Cristo é demasiado grande para ignorar. Até mesmo por aqueles que O rejeitam e produzem obras para O negar ou desvalorizar. Cristo não é apenas o centro da História, Ele é a própria História em si, porque não há nada que a cada década não aponte para Ele. E antes do Seu nascimento, tudo apontava para Si.   

 

JESUS NA CULTURA

Comecemos por enumerar “A paixão de Cristo”, filme que já atingiu o estatuto de icónico e que foi realizado por Mel Gibson, tendo estreado em 2004. Com diálogos em aramaico, grego e latim, trouxe uma representação do que terão sido as últimas horas de Jesus antes da morte na cruz. Um filme que incomodou e ainda incomoda, porque à tentativa (embora romantizada) de se manter fiel à Bíblia, acaba por se juntar todo o grafismo violento do julgamento, espancamento e crucificação de Jesus.

Recuando no tempo, encontramos registos gráficos da vida de Jesus logo no período pré-Constantino, conforme nos reporta Gertrud Schiller (enfermeira, historiadora e teóloga luterana) na sua obra A Iconografia da Arte Cristã. É comum encontrarem-se alusões a Jesus nas catacumbas, nomeadamente com representações do Bom Pastor, Alfa e Ómega, o “tradicional” peixinho (que vemos em algumas viaturas na cidade e já se tornou identificador de alguém que partilha a mesma fé) ou do monograma de Cristo (a sobreposição das letras X e P, que sendo as primeiras letras da palavra grega Christos, identificavam as tumbas dos corpos ali depositados como sendo cristãos).

É, no entanto, na Idade Média que começamos por observar a representação gráfica de Jesus em larga escala. Desde a Anunciação a Maria (com obras de Pedro Berruguete, Van Eyck, Crivelli, Filippo Lippi ou Da Vinci), passando pela Natividade de Cristo (presente nos vitrais de estilo gótico da Basílica de St. Denis, da Catedral de Canterbury ou nas obras de Giotto, Gaddi, von Soest, entre outros) e culminando nas obras da Semana Santa (com foco especial na crucificação e no “ecce homo” – eis o homem, anunciado por Pilatos e que podemos conferir em João 19:5). Podemos ainda acrescentar a escultura, de onde se destaca Cristo della Minerva de Miguel Ângelo, representativa da caminhada de Jesus Cristo com a cruz.

Se pararmos um pouco para pensar apenas nos autores mencionados até aqui, concluímos que a influência de Jesus extravasa aquilo que é o meio religioso. Não se trata apenas de uma questão de fé. É algo imensamente maior… Jesus Cristo assume um destaque ímpar. Tanto no Seu nascimento, como na Sua morte. A redenção do ser humano é algo tão incontornável que poetas como William Blake (“O Evangelho eterno”), John Milton (“Paraíso Perdido”), G.K. Chesterton (“Um cântico de Natal”) não deixaram de O mencionar e registar nas suas obras. Sem nunca esquecer autores portugueses como Luís Vaz de Camões (que sublinha que o melhor de tudo é crer em Cristo, no seu soneto “Verdade, amor, razão, merecimento”) ou até Miguel Torga (“Último Natal”). Ninguém pode ficar indiferente a Jesus.

Cristo é uma referência incontornável da nossa sociedade. Está presente em todos os parâmetros. Desde o AC e DC, passando pela celebração do Seu nascimento, morte e ressurreição. A Bíblia aponta para Cristo e devemos procurar também que a cultura o possa fazer. Porquê? O livro Cristo e a Cultura de Richard Niebuhr ajuda a responder a isso. Se Cristo deve ser o centro da vida do ser humano, não há motivo para que culturalmente Ele não seja representado e anunciado.

O Cristianismo e a cultura não são irreconciliáveis. Pelo contrário. Quando usamos corretamente a cultura e as artes para apresentar Jesus, estamos a redimir aquilo que tantas vezes é banalizado, tomado por más intenções… hoje, perante ofertas tão focadas no ocultismo, na promoção de relacionamentos contrários à vontade de Deus, numa cultura de preservação do “faz com que a tua vontade seja toda a tua lei”, precisamos de resgatar as artes e a cultura. Fazemos isso não com um erguer de muros, mas através da educação.

 

Educamos ensinando a sã doutrina nos novos meios de comunicação, na participação ativa em atividades culturais onde demonstramos quem Ele é e o quanto nos ama. Desde a exposição de trabalhos artísticos de alunos de Educação Moral e Religiosa Evangélica, à realização de peças de teatro, temas musicais, ilustrações, etc., ensinamos promovendo a pregação do Evangelho. Através da poesia, da pintura, da escultura, da música, em papel, pedra, vídeo, etc. Sendo seguidores de Jesus que usam as artes para fazer pontes saudáveis com os que nos rodeiam, com a linguagem estética atual, mas sempre tendo como objetivo fazermos tudo para a Sua glória e promoção do Seu nome, da Sua salvação e do Seu Reino.

“É porque tudo o que fazemos deve ser para a glória de Deus, mesmo o comer ou o beber.” (1 Coríntios 10:31, OL)

Ricardo Rosa


in Novas de Alegria, outubro 2020

 

 

 

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